H A R R Y
Parei de fumar na manhã seguinte a Louis me dizer que estava de volta à minha vida. Ele simplesmente continuaria me perturbando até eu parar. No entanto, comecei a sentir falta da sensação agradável de tragar um e da forma como a fumaça ia até o fundo dos meus pulmões e me permitia respirar. Depois que ele foi embora naquela noite, tranquei o apartamento e comi as sobras do jantar que havia preparado para a minha irmã. Pensei em Louis passando tardes e noites com Gemma. Pensei nele na minha casa, na minha cozinha, na minha vida.
Tirei o restante dos meus cigarros do freezer, abri todos os maços, quebrei-os e os joguei fora. Então me apoiei no balcão e liguei o isqueiro no escuro. Faísca. Faísca. Chama.
O tempo todo fiquei tentando me convencer de que a chama não representava esperança. Aquela faísca no escuro, aquela chama tremeluzente... Louis. Esperança. Para mim, eram sempre a mesma coisa. Garoto impossível. Foi o que pensei quando o conheci. Ele era exatamente o que eu queria, tudo o que eu queria, mas era impossível. E o que o tornava impossível era apenas o meu medo. Na última vez que vim para Putnam, eu me apaixonei por ele. Achei que teria uma vida e o perdi. Não queria correr esse tipo de risco de novo, não agora, com a minha irmã envolvida.
Mas Louis perdeu seu futuro uma vez. Ele perdeu tudo e acreditou em si mesmo quando o ex dele pôs suas fotos na internet. Então ele lutou para reaver esse futuro. Ele brigou, bateu e o pegou de volta. Foi a coisa mais linda que testemunhei na vida. Então que tipo de idiota eu era por pensar que, depois da sacanagem que eu tinha aprontado, ele simplesmente me deixaria ir embora? Louis não deixaria.
Eu era a última pessoa na face da Terra com quem ele deveria querer ter qualquer relação, mas tente dizer àquele homem o que ele deve querer. Só experimente. Vou ficar aqui dando risada. Ele me queria, então estava ali na minha varanda. Estava ali com a minha irmã. Estava ali destruindo os meus cigarros e me irritando, me dizendo que eu ia acabar com câncer, como se eu já não soubesse disso. Como se eu devesse me importar. E eu resisto a isso sem motivo algum. Só que não é verdade. Eu resistia porque sentia medo. E se eu não conseguisse consertar o que havia feito a ele? E se eu consertasse e o perdesse de qualquer maneira? E se eu descobrisse que não conseguiria suportar perdê-lo uma segunda vez? E se eu ficasse com Louis e descobrisse de novo que a esperança é um luxo ao qual eu não tenho direito? Eu estava com medo. Mas isso não tinha importância. Lou e eu... Aconteceria de qualquer maneira.
Na última semana de setembro e na primeira semana de outubro, mantive distância. Ao mesmo tempo, tentei lembrar como me dei permissão para pegar o que eu queria. Parece fácil dizer a nós mesmos que merecemos coisas boas. Permitir-nos querê-las. Permitir-nos reivindicá-las. Parece fácil, mas não é. Para um cara como eu, é um capricho. Eu estava preso em Silt. Não apenas a Silt do mapa, mas a Silt na minha cabeça. A Silt que me fez, que me treinou para sobreviver e me ensinou que a minha vida valia precisamente nada. O caminho que me levou para fora de Silt foi o que me trouxe de volta para Louis. Depois que eu o encontrei, ficou fácil. Tudo o que eu precisava fazer era seguir a chama.
No meio da semana seguinte, estou parado do lado de fora do prédio de artes antes da aula. Estou apoiado nas janelas, ouvindo a conversa dos fumantes, brincando. Masco um chiclete para manter a boca ocupada, enfio as mãos nos bolsos para não pedir um cigarro a ninguém. Metade da turma está do lado de fora. Vejo um cara chamado Raffe; o apelido dele é Rafael. Ele é afro-americano, tem cabelos escuros revoltos e usa uma jaqueta de motociclista. Ele e uma loira chamada Annie fumam e discutem arte. Surrealismo. Dadaísmo. Warhol. Avedon. Turner. Pessoas de quem nunca ouvi falar.
Estão entretidos conversando sobre alguma mostra em Chicago. Os dois pegaram um carro, passaram seis horas na estrada para visitar uma galeria, voltaram e ainda estão animados. Do outro lado do campus, vejo Louis. Ele vem na minha direção como se o vento tivesse acabado de soprá-lo acidentalmente. Desde a última vez que nos falamos, ele já pegou minha irmã na escola duas vezes e eu me convenci a não comprar cigarros seis vezes.

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Intenso
Romance{Sequência da obra "Profundo"; adaptação disponível em meu perfil} A vida de Harry Styles foi do céu ao inferno em poucos meses. Ele achava que era possível ter um futuro melhor, mas acabou retornando para os dramas diários de sua família. Agora, em...