36- Ray

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Talvez eu tenha exagerado no quanto demonstrei que queria algo. Mas confesso que imaginei algumas coisas, e em certos momentos não me contive...como quanto coloquei a mão em sua coxa. Essa timidez dela me atrai, esse ar de inocência. Durante o restante da semana estive ocupada com os preparativos da festa de Halloween (atrasado) do nosso clube de esporte da escola. Aqui não é uma escola tradicional americana que tem bailes semestrais, influência à cultura e todas essas coisas americanas. Aqui oramos todos os dias no início da aula, fazemos catequese e louvamos ao senhor, hahahaha! De fato é cômico, porém trágico. Apesar do meu ceticismo, eu ainda gostava disso tudo, era engraçado ver todas as pessoas em um delírio em conjunto, falando com um ser inexistente. Uma verdadeira esquizofrenia grupal.
Na sexta, recebi uma mensagem às 15 horas de Amélia, porém só consegui ver meu celular às 18 horas pois colar pisca pisca por todo o teto não era uma atividade pouco trabalhosa.

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Amélia: não te vi esses dias, morreu?
Ray: quem dera😁
Amélia: Sad girl
Ray: hahha! Estou ocupada com algumas coisas.
Amélia: entendo.
Ray: então amanhã passo na sua casa às 17h, okay?
Amélia: okay.
Ray: ótimo. Até
Amélia: 😆

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Me surpreendia ainda ela aceitar algum favor de minha parte. Já estava tão acostumada com sua grosseria que qualquer sinal de gentileza era estranho. Então logo fui para casa, chegando lá minha mãe estava de malas feitas, mas dessa vez com mais do que as que ela costumava levar. Parecia mais que ela estava indo embora.

- mãe? Para onde vai agora? - perguntei ao ver ela descendo as escadas com mais malas.
- filha, quer vir comigo? - ela estava com a maquiagem borrada com o que mais pareciam lágrimas.
- que? Ir com você?
- filha, estou saindo de casa. - ela não era presente, mas aquilo foi como uma montanha desmoronando com a força da água. Tudo indo pelo ralo. Fiquei calada por um logo minuto de tempo. Ela derramou algumas lágrimas ao falar isso, o que me comoveu, de fato. Me admira ela não ter saído de casa mais cedo na verdade. Ela bebia vodkas que custavam mais que nossa casa e comprava um shopping inteiro pra tentar superar a dor de não ser amada pelo homem que é casada. Não adianta camuflar, a mancha de sangue ainda vai estar lá, mesmo que você lave as cobertas, acredite. Durante todo meu convívio com meus pais aprendi que nunca devo ser como eles.
- e para onde vai?
- Milão, ou Paris, podemos ir para Paris se quiser! - ela veio em minha direção para me abraçar, eu desviei de seu abraço e com olhos melancólicos e cheios de lágrimas disse:
- mas por quê agora? Depois de tanto tempo...por quê só agora?! - disse chorando.
- quem se sacrifica para engolir sapos por alguém, uma hora vai se ver obrigado à engolir o brejo. - disse com expressão seca. - bom, meu vôo sairá daqui duas horas, preciso correr. Se quiser ir morar comigo, já sabe meu número. Fica bem filha. Me dê notícias de sua faculdade. - apenas deixei que ela me abraçasse. E em um ato covarde ela me soltou e foi para o Uber que já estava parado em minha porta. Não consigo escrever como aquilo me destruiu em milhões de pedacinhos. Um lobo abandonado por sua alcateia. Fiquei em choque por alguma horas sentada no chão da sala de entrada. Eu não conseguia nem chorar.

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Ray: onde está?
Amélia: depende...onde você quer que eu esteja?

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Love in CharterhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora