3- Amélia

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Acordei cinco minutos atrasada, ótimo, o dia já começa bem.
- Paaaaai! - berrei na porta de entrada da casa
- Estou indo amorzinho! - sim, meu pai tenta se mostrar bem carinhoso, ele era bem menos, porém depois da morte da minha mãe, sinto que ele tem medo de que eu me sinta....sei lá o que. Porém ainda detesto.
- Estou atrasada.
- Calma filha, não sei - falou tateando os móveis - onde está - derrubou um livro, no pé - auuuu! - berrou de dor - minhas chaves! - terminou a frase achando a chave e chutando o livro, andando em direção à porta mancando.  - vamos - falou com um sorriso amarelo visto minha cara de ódio.
- Vamos George.

- Você quer que o papai entre com você? - falou meu pai, estacionando a lata velha em frente à escola. Um opala 95.
- Pai!
- Papai - se divertiu George no banco de trás.
- Idiota - falei virando-me para trás.
- Amélia, para. - falou meu pai rindo.
- Já vou indo.
- Boa aula filha, já sabe como voltar pra casa né? Se quiser o papai busca você! Só preciso que o Charlie me libere pra isso, mas...
- tudo bem pai, não faz isso, esse emprego é importante
- ok querida, tenha um bom dia.
- igualmente
- no jantar, quero todos os detalhes hein! Faça novos amigos! - falou rodando a chance da lata velha.

Novos amigos...parece piada.

Tudo bem que na minha cidade nós tinhamos hábitos medievais, mas é sério que o diretor vai me apresentar pra escola toda como "a novata do primeiro grau" ?
Depois de toda a besteira sobre recepcionar novos alunos, ele apresentou a sua filha, Rayne  sei lá, algum nome assim, não ouvi direito, não consegui focar no que ele disse a partir do momento que a garota de um metro e 60 subia as escadas do palanque, com seus cabelos loiros longos presos em um rabo de cavalo bem feito, uniforme do colégio folgado e engomado, mas que não conseguiam esconder o tamanho dos seios, a boca carnuda, e sua pele rosada com algumas pintinhas espalhadas pelo rosto e mãos, olhos azuis comuns, belas pernas cobertas por uma meia calça preta e sapatos para o inverno comuns, mas que nela pareciam saltos de modelos da VS. Aparentava ser mais velha, mas ainda sim com um rosto jovial.
Meu olhar cravou nos olhos dela, a espera de que ela olhasse também, mas não aconteceu.

- Novatos, esta é Rayne, minha filha, está no último ano, ela é líder do grupo de debate, vencedora do grêmio por três anos consecutivos. Estão diante da galinha dos ovos de ouro desta instituição. Ela estará responsável por ministra-los e mostrar a instituição. - então quer dizer que ela é a menina prodígio, terei problemas.
Percebi que depois que o diretor e pai da...como é o nome dela mesmo? terminou de falar, ela o repreendeu baixinho, com o que pareceu ser um "pai" em tom de sussurro. Pareceu não gostar muito da ideia de estar lá.

- acredito que Rayne ficaria muito feliz em fazer isso. Não é mesmo Ray?
- claro - ela claramente estava fingindo. Parecia muito incomodada com a situação, ou talvez seja coisa da minha cabeça.

Fiquei sentada por alguns minutos até que a filha do diretor viesse em minha direção, não sei exatamente porquê mas eu senti um grande nervoso, algo como um frio ma barriga, mas não exatamente isso, algo como....
- Olá - disse a garota diante de mim, estendendo a mão para cumprimentar-me.
- Olá - levantei meio que abruptamente estendendo minha mão, fazendo com que meu pé ficasse em cima do dela
- Ai - falou ela tirando seu pé de baixo do meu, com cara de dor
- desculpa, mil desculpas! - falei me curvando em direção ao seu pé, a questão é que ela teve a mesma ideia
- AI - foi um coro de nós duas reclamando de dor, havíamos batido nossas testas uma na outra
- Calma - falou a garota rindo com a mão na testa expressando uma cara de dor
- desculpa, nossa desculpa, estou muito envergonhada - disse. CARALHO QUE GAROTA IDIOTA VOCÊ É AMÉLIA! - fui estupida, mil desculpas senhora.
- senhora? - perguntou ela com expressão de repudia.
- senhorita? - arrisquei
- Ray, me chame de Ray.
- tudo bem senhora - ela fez cara de nojo - Ray - ambas esboçamos sorrisos.
- devo lhe mostrar a instituição agora. - acompanhei.
- é? - perguntei
- É. - falou com um sorriso sem graça. Fui logo atrás.

Andamos alguns metros e ela parou.

- Aqui é o salão principal. Aqui geralmente nos reunimos para condecorações, ou para receber alguém importante. Alí - apontou pra um quadro na parede de um homem bem velho, porém bem parecido com seu pai
- seu avô?
- Sim. Como sabe?
- Semelhança. - ela não falou nada, apenas olhou-me de forma que não consegui interpretar.
Andamos por um corredor.
- Aqui estão - falou apontando para cada sala, como se já soubesse decorado como falar e o que falar - o laboratório de biologia - apontou pra esquerda - laboratório de química - apontou pra direita - e o banheiro feminino - apontou pra frente - mas não aconselho que o use, use o de cima.
- porquê?
- Aqui ficam as garotas mais velhas, do último grau, não aconselho que se misture, por enquanto.
- porquê?
- elas costumam ser maldosas.
- porquê? - e ela não respondeu, apenas continuou andando, e subiu umas escadas até levar a outro corredor bem semelhante ao anterior.
- Aqui estão as turmas de literatura... - enquanto ela explicava, eu fitava cada traço de seu rosto, que era incrivelmente angulado. Não sei porquê me chamou atenção, acho que talvez seja por não ver garotas tão bonitas no meu antigo país. - ei? Acorda!
- que?
- quantos anos você tem? Eu te perguntei duas vezes
- ah, 15 - falei meio que ainda em transe
- 15, uma ótima idade. Nessa idade eu era muito fã dos Beatles, ia a todos os eventos no centro.
- nossa, sério? Na cidade dos Beatles? Jura? - ironizei
- ok - deu um sorriso amarelo, sem graça. Burra, burra. Porquê sou tão idiota? - bem, lá em baixo a esquerda ficam o refeitório e a cozinha; a direita fica o jardim, no centro ficam....
- oi amor - disse uma garota de cabelos longos ruivos, pele branca e olhos negros, tocando o braço de Ray.

Love in CharterhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora