2- Ray

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Ray, me chamem de Ray. Tudo começou no dia 14 de Outubro, ainda me lembro da garota de cabelos negros e roupas alternativas, algo não tão comum por aqui.

Era uma quarta-feira, e o dia cheirava a desinfetante, meu pai comprava o mais barato com a verba da escola, pra desviar o resto e sustentar a segunda família dele, e sim, eu sou filha do diretor, 😑

- Hey - sentou-se Caitlin, minha ex namorada na cadeira ao lado da minha.
- Hey - respondi.
- Porquê não respondeu minhas mensagens?
- Caitlin, não temos mais nada.
- Eu vou provar que você está cometendo um erro horrível. - levantou-se e se virou de costas andando em passos levemente desajeitados.
- Esperando - ironizei, fazendo-a virar e me olhar.

- Você e a Caitlin deveriam voltar - disse Lola em voz alta do outro lado da sala.
- Você tá ficando doida garota? - só estávamos nós duas na sala, porém as paredes tem ouvidos.
- Hahahha! - gargalhou Lola em deliciamento.
- Meu pai me disse que temos três novatos na escola hoje.
- Será que uma delas tem peitinhos parecidos com o da Caitlin pra que você possa esquecê-la? - debochou.
- Credo, sua ninfomaníaca. Eu não quero me envolver com ninguém. A senhorita Cavanough tem mãos bem delicadas, porém meu coração se partiu ao dizer um não. - iromizei.
- Eliza? Eliza Cavanough? - questionou-me incrédula.
- a própria.
- Não! Rayne Cristina eu não acredito que você deu um fora na sem sal! -exclamou em deliciamento.
- xiiiu! Lola, para, você sabe o que aconteceu da última vez que alguém ouviu as nossas conversas.
- tudo bem, tudo bem.
- ótimo.
- mas ela transa bem? - falou em tom de sussurro.
- Lola!
- ai que garota insuportável! Tá na hora de você sair do armário, e principalmente de transar. Vai querer virar freira igual a irmã Dulce? E morrer com teias de aranha entre as pernas?
- rumrum - fez um barulho com a garganta alguém que estava às nossas costas.
- Irmã. - reverenciamos.
- Assunto interessante garotas, gostariam de comentar algo mais sobre mim? Vamos! Estou aqui.
- Não, senhora, digo, irmã. Desculpa, mesmo.
- Vão para sua sala, agora. - saímos em um pulo.
Lola ria e eu conseguia pensar apenas em que parte da conversa aquela velha rabugenta havia chegado.
- O que é? Parece que viu um fantasma? Dulce é velha mas ainda não morreu hein, eu acho - gargalhou. Não respondi. - Ray?
- E se ela tiver ouvido o que você disse antes? - falei frustrada.
- Ei, relaxa garota! Aquela velha não sabe nada além de versículo bíblico, ela não vai saber o que significa "sair do armário"
- espero.- falei roendo as unhas. - vamos para a sala.
- agora tenho aula de química. - disse Lola.
- uau, para quem odiava a matéria...
- ainda odeio, mas se não fizer meu pai me mata.
- entendo. Até mais.
- até, nifetinha.
- cafetona.

Já faziam meia hora desde que entrei na aula de cálculo e não conseguia parar de pensar no ocorrido, até que...
- Turma, teremos discurso do Diretor Mesner em 10 minutos no auditório. Apressem-se. - disse irmã Eleanor na porta.
- então, o que acha que seu pai quer falar dessa vez? Talvez do novo projeto de banheiro exclusivo pra ateus? - ironizou Alfie, meu colega de turma.
- talvez sobre o julgamento dos hereges. - retruquei e levantei caminhando em direção ao auditório.

- Bom dia alunos. Vocês devem estar se perguntando porquê reuni vocês em uma quarta sem aviso prévio, mas bom, hoje tivemos a inscrição de três novos filhos para nossa entidade. Não costumamos aceitar novos alunos no meio do semestre, porém, algo me diz que foi uma boa decisão.
Gostaria de apresentar Jacob Ernest, e Dacota Hamburg, ambos do segundo grau, e Amélia Vauvenargues, do primeiro.
Recepcionem muito bem nossos novos alunos. Ray? Ray venha cá, suba aqui. - meu pai e seus métodos tradicionalistas. Custava apenas matricular os alunos e os deixar em paz? E melhor ainda, não me expor a ridículo?
- Sim, pai.
- Novatos, esta é Rayne, minha filha, está no último ano, ela é líder do grupo de debate, vencedora do grêmio por três anos consecutivos. Estão diante da galinha dos ovos de ouro desta instituição. Ela estará responsável por ministra-los e mostrar a instituição.
- pai... - falei baixinho
- acredito que Rayne ficaria muito feliz em fazer isso. Não é mesmo Ray?
- claro - menti.

Love in CharterhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora