Capítulo 8

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Capítulo 8

Quando todos já dormiam, Selene se levantou lenta e silenciosamente. Afastou-se do acampamento improvisado apenas o suficiente para não acordar nenhum deles. Afastou-se um pouco por entre as árvores e se escondeu atrás de um arbusto. Espelhou seu vestido branco ao seu redor, camuflando-o o a neve no chão, e suspirou. Pretendia fazer isso desde que entregara a outra parte do vidro para Edmundo, mas ela não saberia como reagir às possíveis perguntas que ele faria. Dizer que era irmã de Jadis, dizer que era a Feiticeira da Neve. Uma coisa era abrir o jogo com os outros, outra completamente diferente era com Edmundo. E ela nem ao menos sabia decernir porquê.

Selene pegou seu próprio pedaço de vidro por entre o tecido branco, e o observou atentamente. A superfície fria, azul e irregular como o gelo, permitindo-lhe usar feitiços. Ambos os pedaços foram pegos do espelho de gelo que ela tinha em seu quarto no palácio. Ela aproximou o vidro de seus lábios e sussurrou o feitiço de reflexo. Apareceu então a tão conhecida imagem das masmorras do castelo de gelo. Em uma das celas estava Edmundo, com os cabelos desgrenhados e o rosto arranhado. Estava encolhido no canto, com uma corrente envolvendo seu tornozelo. Selene sentiu seu coração se apertando, mas fez de tudo para afastar esse sentimento. Ao menos por enquanto. Ela então sussurrou um feitiço de comunicação e a imagem se tornou escura. Com o feitiço ativo, ela via apenas o reflexo literal do espelho - que, no momento, era a o bolso do moletom de Edmundo.

- Edmundo! - ela chamou. - Edmundo!

Edmundo se remexeu. Ele ouvia claramente uma voz próxima a si. Ele realmente ouvia a voz de Selene ou aquela masmorra o estava deixando insano?! Talvez nem uma opção nem outra, talvez apenas a saudade e o arrependimento estivessem criando ilusões em sua mente. Mas então ele ouviu seu nome uma segunda vez. Franziu o cenho, desconfiado. Até que finalmente percebeu de onde vinha o som daquela voz melodiosa. Do seu bolso?!

- Finalmente! - exclamou Selene ao ver o rosto do menino aparecendo no reflexo.

- Selene?! O que é isso?! - perguntou Edmundo, agarrando firmemente o pedaço de vidro onde via o reflexo de Selene na escuridão de uma floresta. Isso tudo era um sonho?

­- Um feitiço de reflexo e comunicação. - ela disse apressadamente. - O pedaço de vidro que lhe dei vem do mesmo que eu tenho. Foram tirados do meu espelho de gelo no meu quarto no palácio.

- Feitiço?! Reflexo?! Palácio?! Selene, o que está acontecendo?! - Edmundo perguntou, assustado. O que era aquilo afinal? Quem era realmente aquela garota misteriosa?

- Não tenho tempo de explicar agora, Eddie. - ela disse, tentando escapar. Selene não queria dizer a ele quem era. Sabia que teria que fazê-lo, apenas tentava adiar ao máximo que pudesse. - Só aguente firme que vamos atrás de Aslam.

- Aslam poderá mesmo ajudar com tudo isso? - Edmundo perguntou de modo melancólico.

Selene assentiu firmemente. - Aslam é nossa esperança. Posso não ser uma pessoa digna de ser fiel a ele, mas farei de tudo pelo povo narniano. E vou te buscar das mãos daquela cobra venenosa que insiste em me caçar!

Selene falara de modo tão firme e autoritário, que Edmundo inconscientemente a comparou com uma rainha - mesmo que não soubesse mais do que seu nome. Ela era firme, confiante e impotente. Mas então ele finalmente percebeu suas palavras. Ela falara com tanto ódio e amargura, que ele quase pode ter certeza de que algo bem mais pessoal.

- Você a conhece? - ele perguntou, e teve certeza quando ela desviou o olhar.

- Esse não é caso. - Selene disse firmemente, rezando para que não tivesse deixado muito claro em seu olhar. - Você deve tentar se alimentar e se manter forte. E, por favor, tente não dizer muita coisa a ela. Dê apenas informações básicas para que ela poupe sua vida, mas nada mais que o necessário. Assim que ela decidir que você é descartável, não terá mais chance alguma.

Beauty QueenWhere stories live. Discover now