Capítulo 74

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Pequena lembrança de que vos adoro.

Yoh.

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Viro a folha fina e frágil do caderno, os meus olhos concentram-se na quantidade de linhas desenhas ao acaso que resultou num trabalho quase excelente. Suspiro e volto a desviar a minha atenção para o livro - a matéria bastante familiar quando os mues olhos viajam pela página. Tenho estudado isto a toda hora desde que voltei para Nova Iorque; todos os intervalos que tenho ao longo do dia, todos os poucos minutos que consigo arranjar entre as aulas são passados a estudar para conseguir acompanhar a matéria. Tenho cinco trabalhos em atraso e já consegui entregar quatro deles.

Os meus olhos desviam-se para o canto do quarto - a minha tela inacabada descansa contra a parede. Suspiro e levanto-me caminhando em direção a ela, as minhas mãos pegam na mesma com cuidado e precisão, olhos observam os detalhes com atenção. Um olho azul está pintado na mesma, pequenas gotas brancas sobre a pupila dando vida à emoção que a pintura transmite, uma mancha cinzenta a cobrir todo o desenho transformando-o numa grande confusão. Gotas vermelhas, roxas e pretas espalhadas pela tela.

Está terminado, mas não está bom o suficiente.

Eu não sou boa o suficiente.

Pressiono os meus olhos fechados e pouso a tela contra a parede, virando costas à mesma e caminhando pelo quarto. As minhas mãos descansam no meu pescoço - braços erguidos e cotovelos apontados para o ar enquanto eu inclino a cabeça para traz e deixo uma série indeterminada de suspiros preencher o vazio do quarto.

Nestes últimos dias tenho-me sentido tão sozinha, tão longe da vida real, tão longe de todas as pessoas que dão algum sentido ao meu dia-a-dia. É como se eu tivesses recuado um ano e agora sou a mesma rapariga solitária que era há um ano atrás - a rapariga loira da vizinhança, aquela que não saia e que não deixava as pessoas aproximarem-se o suficiente para criar algum tipo de relação afetuosa, aquela rapariga com objetivos e com medo de errar, aquela rapariga que queria seguir Inglês, aquela rapariga solitária. Aquela rapariga era eu e eu estou tão feliz por não ser mais daquela forma.

É óbvio que eu tive os meus altos e baixos, momentos frios dos meus dias em que só em apetecia transformar-me em algo diferente. O que eu nunca percebi é que eu nunca antes fui eu mesma como tenho vindo a ser agora. O Harry deu-me a confiança que eu precisava, e continua a fazê-lo. Mesmo não estando todos os dias junto de mim, ele continua a enviar-me mensagens a dizer que me viu passar pelo café ou que espreitou pela janela da sala de Artes e em como eu estou linda, ou em como eu devia estar concentrada na aula em vez de estar a fingir que estou.

Sinto a sua falta, mais do que isso, sinto que caminho sem uma parte de mim. Acordo de manhã para o vazio e deito-me à noite para ele mais uma vez. Sem o Harry é como se eu não tivesse uma parte de mim e isso assusta-me. Porque além de eu sentir-me quebrada a meio e sem metade da minha alma, eu não me consigo recordar de como eu era antes dele.

O meu telemóvel vibra em cima do colchão da minha cama e eu apresso-me a agarrar no mesmo, o meu polegar desliza sobre o ecrã e eu atendo a chamada de imediato.

"Hey." Respiro, a minha mão disponível puxa os meus cabelos para trás e eles caem como cascatas sobre os meus ombros.

"Emily, querida, que saudades." A voz da minha mãe soa pelo microfone. Sem ser propositadamente, um suspiro aborrecido cai dos meus lábios e sem esperar, a minha mãe solta uma risada do outro lado da linha. "Vejo que estás contente por ouvir algo de mim." Resmunga.

Abro a minha boca mas antes de conseguir dizer algo, a voz afinada da minha mãe soa do outro lado e eu reviro os olhos encostando-me à parece. Aqui vamos nós, a minha Deusa Interior queixa-se atirando-se para cima da sua cama e escondendo a sua cara na almofada. Às vezes a minha mãe consegue mesmo colocar-me ainda mais triste do que já me sinto, e hoje é um desses dias.

Uncontrollable [A ser editada]Onde histórias criam vida. Descubra agora