Capítulo I - Pertencer à Nárnia

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É engraçado pensar que eu nunca me senti pertencer à um lugar

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É engraçado pensar que eu nunca me senti pertencer à um lugar. Eu sabia que pertencia à minha família, mas não ao local que estava, ao mundo que estava. Durante meu sonho - visão, profecia, sei lá! Chame do que quiser -, me senti assim também. Obviamente.

O fato é que, assim que acordei - assim espero - em Nárnia, senti uma paz bem no meu íntimo. Como se eu realmente pertencesse a esse país.

E isso me assustou profundamente.

Eu inspiro longamente pelo nariz e expiro pela boca, tentando me acalmar.

— Elle, você está bem? — ouço a voz graciosa de Lúcia, bem baixinha, repetir a pergunta que Edmundo fez.

— Eu... acho que sim. — eu franzo a testa, inclinando a cabeça para a direita. Certo, autocontrole, mantenha-o.

Balanço a cabeça, lembrando das palavras de Aslam sobre eu ter que enfrentar decisões difíceis, além de lutas árduas, que não necessariamente envolverão espadas.

Preciso aprender a me controlar no momento, depois eu posso chorar um pouco e entrar em choque.

Okay, hora de confirmar se estamos mesmo em Nárnia e se aquilo foi uma visão.

— Lúcia, onde estamos? — eu pergunto para a ruiva, segurando suas mãos, que parecem pequenas comparadas às minhas.

— Em Nárnia. — ela sorri, como se isso explicasse tudo. E explica mesmo.

Tudo bem, sem pânico, Elle. Respire devagar e se acalme.

Consigo manter a respiração, mas o pânico me invade e o - grande - feito de me acalmar desaparece.

Estranhamente, não tenho um ataque de pânico, como Aslam explicou, mas lágrimas vêm à tona, inclusive pelo susto de tudo ser real.

Existem grandes chances de eu morrer em uma guerra contra Telmar, portanto não verei mais minha família. Eles vão ficar sozinhos e meus irmãos vão descobrir de uma forma dura a profissão de minha mãe. Harry provavelmente vai se tornar o responsável por cuidar dos outros enquanto mamãe descansa, e tudo porque eu aceitei aquela maldita carta e virei amiga de Lúcia.

Por falar na Pevensie mais nova, seus braços me rodeiam e eu aperto-a contra meu corpo, sentindo nossos corpos estremecerem com os soluços que dou.

— Acalme-se, Elle. — Lúcia diz e me abraça mais forte. — Vai ficar tudo bem.

— Exato. Respire fundo. — Susana pede e ela acaricia minhas costas, como apoio. O ato me faz lembrar de minha mãe, o que realmente me acalma.

Um último tremor passa por mim e Lúcia desfaz o abraço, permitindo que eu limpe as lágrimas e respire mais fundo, mantendo a calma.

Não é o fim do mundo, eu posso muito bem mudar o futuro, não é? Posso, posso sim. Tenho que mudar. Uma guerra não é necessária, podemos ir atrás de Aslam antes que tudo saia de controle. Posso impedir as mortes que ocorreram no ataque ao castelo.

Lembranças passam pela minha mente, todas com a minha família, e isso me fortalece. Então me levanto e limpo a... calça?

— De onde surgiu essa calça? — eu me alarmo. Eu com certeza não estava vestida com isso quando cheguei aqui.

— Tivemos que te trocar. — Pedro responde e só posso olhá-lo de olhos arregalados. — Digo, Susana e Lúcia tiveram que te trocar. Decidimos que deveria usar calças, para não deixar mais difícil a tarefa de te carregar.

A expressão dele é de quem me culpa por ter desmaiado.

O que ele espera que eu diga: "Ah, me desculpe por ter ativado um dom que eu não sabia que existia. Prometo não repetir"?

Fala sério, cara! Lanço um olhar de tédio pra ele, como se não ligasse que dei o maior trabalho para ele e Edmundo.

Por falar em Edmundo, sinto minhas bochechas corarem ao lembrar da visão e a vergonha me faz querer afundar a cabeça na areia. Para tentar esconder o rubor, limpo minha blusa e meu traseiro, garantindo que não aja areia grudada em mim.

— Tudo bem... — Pedro me lança um olhar estranho, que já estou acostumada, e fala: — Devemos pegar o barco e seguir o rio, provavelmente vamos achar narnianos nas florestas.

— E depois? — Edmundo pergunta, olhando-o de testa franzida, provavelmente pelo sol. O mesmo sol que testemunhou nosso beijo e... não, sem ruborizar novamente, Elle Cooper!

— Vamos entender a situação de nosso povo e descobrir porque nos chamaram. — Pedro explica, na sua típica pose de líder.

Concordamos com o - projeto de - plano de Pedro, e embarcamos no barco, pegando um caminho já conhecido por mim.

Será que tudo vai ser igual à minha visão? Cara, isso vai ser extremamente entediante se sim.

— Agora que está bem, poderia explicar-nos o motivo de ter simplesmente entrado em coma? — Pedro me olha com uma expressão que fica entre o deboche e a indignação.

— Acho que não. — eu respondo, comprimindo os lábios para pensar. Acho que nem tudo vai ser igual... decido respondê-lo direito: — Estou tão no escuro quanto você.

Mentira, mas ninguém precisa saber que durmo quando tenho visões sobre o futuro.

— Pela sua expressão ao acordar, não parecia tão no escuro assim. — Pedro insiste.

— Verdade, nem pediu explicações sobre Nárnia. — Edmundo pontua e sinto vontade de jogá-lo para fora do barco. Não podia ficar do meu lado só uma vez, homem?!

Engulo em seco, pensando em fingir um desmaio, mas penso em uma solução ao olhar para Lúcia.

— Lúcia me contou sobre a aventura de vocês, pouco antes de virmos para cá. — eu minto, com um sorriso falso na cara.

— Mas eu não... — Lúcia até inicia sua fala, que me deixaria em maus lençóis, mas eu aperto os dedos dela e ela volta atrás: — Ah, verdade! Eu queria saber se ela acreditaria em mim e se ela era de confiança. Além disso, gostaria de ressaltar que Elle foi muito mais mente aberta do que vocês.

Lúcia lança um olhar para todos, que ficam em silêncio. Ela simplesmente virou o jogo legal. Então ela me olha e pergunta o que houve, apenas respondo baixo que explico para ela depois.

Então uma dúvida faz minha nuca formigar: Por que eu terei de permanecer aqui?

Aslam explicou que meu destino é Nárnia, que terei de ficar aqui. O estranho é que não há razão alguma, exceto a profecia, e eu definitivamente não pretendo vir de mala e cuia pra outro mundo por causa de versos rimados, faça-me o favor! Não pretendo permanecer aqui, mas sinto que ainda não tenho todas as peças do quebra-cabeças... talvez não seja nada, é só meu instinto de vidente achando que pode prever tudo.

As vezes existem coisas que vão além disso, pois nem tudo é preto no branco, certo ou errado, ir ou ficar. As vezes têm coisas maiores... e isso me assusta profundamente.

°°°

Espero que tenham gostado.

Primeiro capítulo da segunda temporada aaaa!!!!!

Até a próxima.

30/01/2020.

Predestinada • Crônicas de NárniaOnde histórias criam vida. Descubra agora