Capítulo III - O leãozinho e os seus medos

3.1K 357 60
                                    

Em mais ou menos uma hora, chegamos ao tal val que Trumpkin mencionou

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Em mais ou menos uma hora, chegamos ao tal val que Trumpkin mencionou. Uma pena que os telmarinos haviam tomado o lugar e estavam construindo catapultas e uma ponte para o outro lado, desmatando Nárnia no processo.

É assim que a gente vê que é ser humano: se tá destruindo a natureza, é humano. Se fossem narnianos, eles estariam tranquilos ao redor de uma fogueira, certeza.

Observamos a destruição atrás de uma pilha de árvores cortadas, e, particularmente, com o coração na mão. O ser humano não consegue ver uma mata em paz sem desmatar, não é?

Ouço o trote de cavalo e me abaixo, enquanto os outros fazem o mesmo. Miraz sai da floresta e observa o trabalho dos telmarinos.

— Talvez esse não tenha sido o melhor caminho. — Susana comenta.

— Ah, você jura? — questiono de forma sarcástica.

Depois de alguns segundos, voltamos a levantar as cabeças e vemos que o trabalho está em um ritmo frenético.

Pedro olha-nos e se levanta, ainda meio agachado, indo em direção à floresta novamente, então seguimos-ô.

Andamos bastante e voltamos para o penhasco, mas dessa vez do outro lado dele.

— Onde acharam que viram Aslam? — Pedro questiona.

Sequer abro a boca, porque sei que Lúcia vai dar uma bela resposta.

— Eu queria que parassem de tentar parecer adultos. — Lúcia esbraveja, olhando para os outros. — Não achei que vi Aslam, eu vi.

A pequena anda até a beirada do penhasco, onde vimos Aslam.

— Eu sou adulto. — Trumpkin lembra-nos.

— Relaxa, ela estava brigando com eles. — eu sorrio para o anão, que estava olhando para todos meio constrangido.

— Estava bem aqui... — a fala da ruiva é interrompida pelo seu grito, pois ela cai em um buraco que se abriu.

— Lúcia! — Susana grita, preocupada e corremos até a Pevensie caçula. Eu sei que ela está bem, mas seria suspeito eu não fazer o mesmo.

Olhamos para a menina e ela está em uma base de terra, que poderia facilmente nos comportar.

— Aqui! — Lúcia sorri para nós.

— Vamos descer, então. — Pedro determina. — Mas devagar, pois não sabemos se isso irá ceder ou não.

Susana desce com a ajuda de Pedro e em seguida sou eu a fazê-lo. Enquanto os garotos descem, nós seguimos o caminho para deixar espaço para eles.

Descemos a encosta e logo estamos em uma planície novamente, graças aos céus. Passar por isso uma vez é ruim, agora duas? Uma desgraça!

Chegamos às margens do rio e, de primeira, Lúcia quase cai, mas Trumpkin segura ela, felizmente. A garota sorri e continua andando.

Honestamente, o que a gente mais fez hoje foi andar. E, para a minha felicidade, eu tenho muita energia acumulada pelo tempo que passei em transe.

Quando anoitece, decidimos acender uma fogueira e descansar para procurarmos Caspian no dia seguinte. Pelo menos amanhã a gente para de andar pra lá e pra cá, e começa a planejar os ataques. E, pensando melhor, isso é bem pior.

Noto que os outros estão dormindo e suspiro pesadamente, cansada disso tudo. Sinto meus olhos encherem de lágrimas e olho para as estrelas, deixando-as escorrerem.

Meu corpo treme com o choro e só consigo pensar na pressão que estou sentindo, e no quão assustada e com medo de dormir e entrar em transe novamente.

O medo caminha ao meu lado constantemente, porque eu não sei como irei distinguir o que é real do que não é.

Eu estou tão assustada... e sequer posso falar para os outros, pois eles não devem saber ainda.

Mais lágrimas rolam quando me lembro que, nessas horas, quem me acalmava era meu pai, quando ele ainda não tinha ido para a guerra, quando a morte não tinha o acolhido.

Harvey Cooper era o melhor pai do mundo e o mais compreensivo. Dizia-me o que eu precisava ouvir nas horas ruins, dando-me conselhos e me acalmando. As vezes ele até cantava para eu dormir, quando era criança.

Fecho os olhos e tento me lembrar exatamente de tudo.

Eu estava deitada na cama, chorando porque tive um ataque de pânico na escola (embora eu ainda não soubesse o que era) e algumas pessoas zombaram de mim.

Meu pai escutou e foi até mim. Ele abriu a porta e se deitou comigo, na cama pequena de uma garota de 9 anos.

Ele me abraçou e disse que eu ficaria bem, que aquilo tudo era passageiro. E que eu deveria ter coragem, para aguentar aquela situação enquanto durasse.

Meu pai disse que me amava, que estaria lá pra mim sempre que eu chorasse e me sentisse mal e que nunca, jamais, eu deveria levar as palavras ruins para o coração, pois apenas as boas me fariam bem.

Harvey Cooper foi o primeiro homem que amei, em toda minha vida. Infelizmente também foi a primeira pessoa realmente importante e essencial que perdi.

A dor da morte dele às vezes me sufoca, mas eu sei que, nesse momento, ele deve ser uma dessas estrelas, olhando-me e me chamando de leãozinho, por causa do meu cabelo bagunçado, que parece um ninho de passarinho, sussurrando que me ama e que, como prometeu, está ali no momento do choro.

— Eu te amo, papai. — eu sussurro para o vento e sorrio, me sentindo meio boba por isso.

Viro-me para o lado e tento dormir, sentindo o vento frio nas minhas costas e o amor queimando dentro de mim.

°°°

Espero que tenham gostado.

Até a próxima.

14/02/2020.

Predestinada • Crônicas de NárniaOnde histórias criam vida. Descubra agora