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São Paulo, 12/07/2017.  Quarta–feira.

Os nervos de todos estavam a flor da pele, era difícil até de respirar com a tensão que sobrecarregava o ambiente. Nos bastidores de Baixa Terapia só corria a notícia da discussão gravíssima que ocorreu com Antônio e Alexandra poucos minutos antes de entrarem em cena. O camarim que dividiam com os demais colegas serviu de palco para aquela que seria a mais definitiva das brigas do casal. Mara e Bruno estavam demasiadamente preocupados com o que aquilo poderia acarretar e o que aconteceria depois seria a consequência da maturidade dos dois atores.

Ao entrarem em cena parecia que nada tinha acontecido, Alexandra e Antônio trocavam seus seus textos como dois jogadores de futebol no auge de sua carreira, mantendo as cenas sempre lá em em cima quase ultrapassando o teto e conseguindo arrancar as mais repletas emoções da quarta parede. Mara, Bruno e o elenco estranharam por um curto período de tempo todo aquele ato e a mulher se lembrou de uma frase dita pelo ator no tempo que ainda eram um casal:

"Eu nunca vou levar minhas brigas pessoais para o palco porquê aquele lugar me é mais sagrado que o colo da minha mãe."

No final da peça os ânimos estavam menos exaltados do que quando os atores chegaram,  pessoas iam ao camarim tirar fotos com o elenco e comentarem sobre o que acharam, o que gostaram, o que não gostaram e também era uma ótima chance de verem qual foi a receptividade do público. O caminho pra casa foi feito em um silêncio tão profundo que chegava a incomodar. Alexandra lia alguma coisa no celular enquanto Antônio dirigia o carro sentindo leves pontadas na têmpora já cansado do que poderia acontecer quando chegassem em casa. Ao chegarem, os dois se afastaram bruscamente afim de acalmar os nervos que ainda estavam exaltados. Antônio passeou pela casa, ajeitou uns papéis, colocou fumo em seu cachimbo e dedicou-se a leitura enquanto só um abajur iluminava o cômodo em que ele estava. Alexandra por outro lado estava a tomar uma chuveirada para acalmar os ânimos, a água que caía em sua cabeça e escorria em seu corpo não serviu de calmante para seus nervos ainda acalourados. Ao sair do banho, ela colocou um roupão em seu corpo e desfilou pelo apartamento penteando os cabelos até que passou pelas costas do esposo e foi em direção a sacada.

— Alexandra, você não pode querer que eu fique contra todos os meus princípios em nome do nosso relacionamento.

— Que princípios? – ela voltou em direção a ele ficando em sua frente. — Você só joga na minha cara o tempo todo que tudo que eu tenho é por sua causa.

— Me diz uma vez que eu fiz isso?

— Quando você ganhou o Mario Lago. Como você acha que eu me senti quando a Aracy Balabanian disse que te amava e que havia amado a historia de amor de vocês?

— A Aracy nunca disse isso.

— Na verdade ela só faltou dizer isso. Já não basta eu viver constantemente com a Mara e com o Bruno.

— Alexandra, cale a boca antes que fale algo que você possa se arrepender. - coçando a barba demonstrando impaciência, Fagundes a encarou.

— Como eu posso me arrepender mais do que eu me arrependi de ter aceitado fazer Baixa? Impossível! – a mulher andava de um lado para o outro na sala de estar dos dois enquanto Antônio estava sentado no sofá de pernas cruzadas, com o cachimbo nos lábios e um livro aberto em seu colo. — É o tempo todo te tocando, te abraçando, Fafá pra lá, Fafá pra cá. Como você acha que eu me sinto?

Teu corpo é meu textoOnde histórias criam vida. Descubra agora