VISITAS NÃO TÃO INESPERADAS

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Regina acordou bem melhor do que estava acordando nos últimos dias travada naquela cama de hospital. Seus olhos pesavam menos, suas pernas e braços se mexiam quando recebiam determinados comandos e não se sentia tão mórbida como estava se sentindo. Claro que jamais poderia excluir de sua vida o quanto sentia falta do entorpecente que pelo o que sabia, tinha a levado até onde estava e sabia também que a despedida dela havia chegado quando despediu-se do Samaritano.

Os netos de Regina, Gabriel e Antônio, receberam como "bom dia" todos os telefones da casa tocando de forma interrupta. Sabiam que seus pais trabalhavam com televisão e sabiam também que tinha tempos que recebiam mais ligações do que uma central de telemarketing, mas agora com a avó deles fazendo estadia por ali, estava pior. João, quando questionado pelos filhos, tratou de desviar o foco do assunto fazendo as crianças outros tipos de questionamentos, fazendo com que estes apenas tratassem os sons que os incomodavam como um inimigo a ser combatido em suas brincadeiras, e assim eles fizeram. O que ele não esperava é que eles levariam tão a sério aquela árdua missão a ponto de pagar uma dívida telefônica nunca antes paga pelo diretor e pela atriz.

A falta de entendimento das crianças também causou um aflição grande naqueles que de fato queriam notícias de Regina Duarte, o que foi o caso de Jayme Monjardim e Susana Vieira, que desesperados, zarparam juntos rumo a casa do diretor temendo que o pior não tivesse acontecido.


— João, graças a Deus, menino. - Susana segurou as duas bochechas do rapaz. — Onde vocês estavam que não antederam esses telefones?

— Oi, tia Susana. - arregalou os olhos, intercalando sua visão entre Vieira e Monjardim. — Os meninos estavam brincando de heróis e tiraram os telefones do gancho.

— E os celulares?

— Desligamos. - Regiane apareceu atrás deles.

— Vocês querem me matar do coração, não é possível. - Susana segurou sua bolsa pela alça e bateu com ela no braço de João Ricardo. — Vocês fazem a gente correr como loucos até aqui por quê desligaram os celulares e tiraram os telefones do gancho? Eu tenho que matar vocês dois.

— Susana, para! - o pobre diretor tentava se esquivar das bolsadas da loura. — Quer me matar?

— Quero! - ela continuava a bater. — Isso é pelo suto. - mais uma. — Essa é pelo outro susto. - bateu pela última vez. — E essa é por me fazer sair de casa sem maquiagem, quase como um trapo!

— Oi, Jayme. - Regiane acenou sem graça para o diretor. — Como vai?

— Bem. - Monjardim tentava conter a risada. — E você?

— Bem.

— Cadê a Regina? - Susana agora abraçava Gomez.

— Lá em cima. No quarto. De repouso.

— Por que essas pausas dramáticas, garoto? Está me chamando de espalhafatosa?

— Não, que isso... imagina.

— Te dou mais umas bolsadas, tá afim?

— Não, tia. - João disse enquanto se afastava da atriz. — Ainda está doendo.

— Podemos vê-la? - foi a vez de Jayme perguntar.

— Claro que sim, acompanho vocês.


João e a esposa acompanharam a atriz e o diretor amigos de Regina até o quarto onde esta repousava, o filho da intérprete de Lucerne explicava por cima o que havia acontecido com a mãe e os cuidados que eles teriam até sua plena recuperação. Três batidas na porta fizeram com que Regina, que estava em pé alongando os braços, voltasse sua atenção a porta a tempo de ver Susana Vieira balançando a cabeça em negação.


Teu corpo é meu textoOnde histórias criam vida. Descubra agora