TEMPESTADE

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Quando Antônio deu por si, Regina já havia sumido entre a pequena multidão que se aglomerava para olhar o ocorrido. O ator levantou-se com a ajuda de um funcionário do hotel, gradeceu e se deslocou em direção ao seu quarto. A ventania aumentou suas proporções, os janelões de madeira do hotel balançavam, o céu estava escurecido por conta da chuva que se iniciara dando um clima de terror ao ambiente. Fagundes correu até seu quarto e rapidamente fechou as janelas do cômodo, retirando em seguida sua camisa que estava molhada de suor e pingos de chuva, indo para o banheiro.

Regina por sua vez já havia tomado um rápido banho, se trocado e colocado uma roupa confortável. Depois do ocorrido com a estante, a atriz só queria deitar e ficar quieta já que ainda estava muito assustada. Quando saiu do banheiro, sentou-se na cama e quando ia pegar no celular, o aparelho começou a tocar com o nome de Eduardo aparecendo no visor. Ela atendeu, a contra gosto.

— Alô! - disse pegando sua mala e colocando em cima da cama.

— Por que você me ignorou o dia todo?

— Eduardo, eu te falei que não queria mais nada com você e deixei isso bem claro. - estava irritada.

— Que tal começar falando sobre o seu caso com o tal ator? - ironizou.

— De qual bobagem você está falando dessa vez? - retrucou enquanto organizava suas coisas na pequena mala.

— Você e o Fagundes.

— Eduardo, o que você bebeu para não estar falando coisa com coisa desse jeito? - Debochou na mesma medida que ele.

— Não brinca comigo, Regina! Você me iludiu, me deu a possibilidade de voltarmos e agora faz isso comigo?

— Primeiro que eu nunca te dei esperanças de voltarmos, segundo, o que eu faço ou deixo de fazer na minha vida, não te desrespeita. Nós estamos divorciados, DI - VOR - CI - A - DOS! - concluiu a fala e fechou a mala, guardando-a em um canto qualquer.

- Regi... - Antes que ele pudesse falar algo o celular da atriz desligou, a bateria havia acabado.

- Era só o que me faltava. - revirou os olhos falando sozinha e jogou o celular na cama indo até o janelão de vidro, observando a chuva forte que caia dando um clima triste a ilha. Algumas rajadas de trovões iniciaram ocasionando uma falta de energia em toda a Ilhabela.

Antônio estava saindo do banheiro quando a escuridão tomou conta do cômodo. Ele procurou o celular com certa urgência, achando-o na poltrona que havia deixado mais cedo. Aquele aparelho lhe trazia muitas aporrinhações, mas também o salvava de alguns perrengues, ele tinha que reconhecer. O ator sentou na cama e  um flash de memória veio a sua mente. Lembrou-se do dia em que havia faltado energia na pousada onde estavam sendo feitas algumas gravações de Vale Tudo, em um dia chuvoso, no qual ele gravava uma cena com Regina e a mesma começou a tremer e sentir falta de ar, pois tinha fobia ao escuro. Na mesma hora, o homem vestiu uma camisa e saiu correndo até o quarto da amiga, iluminando o caminho com a lanterna do celular. Ele chegou em frente ao quarto dela e começou a bater na porta, sendo ignorado, abriu-a e encontrou Regina em um canto tremendo, suando frio e com indícios de falta de ar por conta do nervosismo. Ele entrou rapidamente, fechou a porta e não pensou duas vezes a não ser sentar-se ao lado dela no chão e abraça-la.

— Calma, eu estou aqui. - acarinhou a cabeça da mulher que ainda tremia bastante. — Respira... - começou a fazer o movimento junto com ela. — Inspira...

Ela começou a se acalmar e repousou sua cabeça no ombro do amigo, enquanto o mesmo acarinhava seu braço tentando passar segurança.

Ficaram desse jeito por mais ou menos dez minutos, o que foi tempo suficiente para que Regina cochilasse já que estava cansada. Antônio se desvencilhou dela com muito cuidado, se levantou a pegando no colo e logo em seguida a colocando na cama, a embrulhando. Quando virou-se para ir embora, Regina falou com a voz meio falha.

Teu corpo é meu textoOnde histórias criam vida. Descubra agora