VELHOS DESCONHECIDOS

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Antônio chegou a São Paulo por volta de cinco da tarde, e mesmo que não quisesse tinha que admitir a sugestão de Stênio havia lhe servido de grande ajuda já que tinha lhe tirado um peso das costas que nem imaginou que pudesse ter. Guiou seu carro por mais trinta minutos até chegar o condomínio que abrigava a moradia que até poucos dias atrás dividia com Alexandra. Com a permissão do porteiro o ator guiou  o veículo até a garagem, pegou sua pequena mala e usou do elevador para chegar ao apartamento. Quando abriu a porta conseguiu sentir o cheiro do perfume da ex amada exalar pelo o ambiente como um chamado distante para que ele regressasse de vez a vida real, e ele regressou. Voltou a locomover-se pelo amplo apartamento até o quarto que um dia pode chamar de seu, abriu a mala após descansa-la na cama e foi até o banheiro com o propósito de tomar um longo banho.

Ainda com um roupão e os cabelos molhados que indicava que havia saído do banho há pouco tempo, Alexandra, viu a chegada de Antônio através da janela de vidro que dividia a sala e a sacada do apartamento. Munida de coragem e vigor a mulher após escutar o barulho do chuveiro vindo da suíte entrou no quarto para ver a mala aberta com algumas roupas, dois livros, produtos de higiene pessoal e um papel dobrado. Alexandra, puxou o papel para ler quando a corrente do colar de Regina se desprendeu, sendo assim, a atriz segurou o bilhete com uma mão e com a outra segurou o colar que trazia no pingente uma cruz com algumas pedras de esmeraldas encrustadas. O chuveiro desligou. Alexandra se sentou na cama após ler o bilhete e ergueu a cabeça para a porta quando Antônio apontou na divisa da suíte ajeitando o nó do roupão que vestia.

— "Fafá, querido, obrigada por ter me salvado na noite anterior, fico te devendo essa. Até breve! Regina." - Alexandra leu o bilhete e o lançou sobre a mala aberta. — Esse bilhete foi escrito antes ou depois de você foder com ela?

— Vai começar? - Antônio coçou a barba. — Não precisa armar um novo escândalo, Alexandra, eu só vim tomar um banho e terminar de pegar minhas coisas.

— Desde quando você e esta mulher estão fodendo? - as palavras saíam entre os dentes em uma tentativa esdrúxula da morena fazer com que sua raiva esvaísse. — Não vai ter a ousadia de me dizer que esse colar é um presente?

— Quem te deu a liberdade de mexer nas minhas coisas?

— Enquanto estiver na minha casa são minhas coisas também e não responda a pergunta com outra pergunta, Antônio.

— Eu não tenho que te responder nada porquê não lhe devo satisfações e se você me der licença eu tenho que terminar de me vestir.

— Desde quando você está fodendo com a Regina Duarte?

— Eu não fodi com ela se é isso que você quer saber.

— Você está mentindo! Você é um filho da puta mentiroso, é isso que você é! - Alexandra levantou-se da cama e espalmou a mão com o colar no peito do homem. — Se eu descobrir que você e essa vagabunda...

— Essa quem? - Antônio segurou o braço de Alexandra com um pouco mais de força do que deveria. — Escute bem uma coisa que eu quero lhe falar e espero que fique bem claro entre nós dois: não importa com quem estou fodendo ou não, não importa com quem estou bebendo, dormindo, conversando ou seja lá o que for. E sabe por quê?

— Por que?

— Porque nós estamos separados e não vamos voltar.

Antônio soltou o braço de Alexandra, tomou o colar de esmeraldas de sua mão e voltou sua atenção a mala que estava aberta na cama com o propósito de fechá-la. Colocou-a no chão e foi até seu antigo closet para pegar uma mala maior para colocar parte de suas coisas. Alexandra ficou parada como uma estátua e quem a visse não saberia dizer se ela estava respirando, as palavras de Antônio para ela repetiam-se como um disco arranhado que só era capaz de reproduzir uma mesma faixa e aquilo estava fazendo-a nutrir um sentimento até então desconhecido para com o homem que até dias atrás jurava amar: ódio.

Teu corpo é meu textoOnde histórias criam vida. Descubra agora