CONSTRAGIMENTO

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O espelho mostrava o reflexo de duas pessoas que tentavam se entender... eram tantas mazelas que os atormentavam, que eles se perderam naquele momento sem entender o que estava acontecendo e o porquê de estarem assim tão próximos se sempre foram tão distantes.

Antônio não conseguia tirar os olhos do olhar de Regina que refletia através do espelho, de alguma forma ele tentava entender o que eles queriam mostrar, a mulher a qual estava a sua frente era um poço de segredos que ele sempre teve interesse em se lançar, mas a realidade não o permitia. Regina parecia indecifrável, misteriosa. O maior sonho de Fagundes, talvez, fosse desvendá-la para enfim, conhecer a verdadeira mulher que estava por trás daquela grande atriz que tornou sua vida um palco para seus teatros. A realidade havia se misturado com a fantasia e ela havia se perdido sem expectativas de que alguém pudesse lhe salvar de seus traumas, ela resolveu apenas sobreviver e atuar.

Aquele momento que parecia durar uma vida, estava acontecendo a apenas um minuto e pouco, a atriz permitindo-se desvanecer relaxou os ombros e encostou suas costas no peito de Fagundes como se estivesse pedindo um colo, um afago. O ator, que já estava em outra órbita, apenas deixou que o momento se desenrolasse, vagarosamente colocou suas mãos sobre os ombros dela e as desceu sobre seus braços a abraçando ao passo que afundava seu rosto nos cabelos de Regina, cheirando-os. Ela que já estava envolvida pelas carícias do homem, apenas encostou seu rosto no ombro direito dele, deixando seu pescoço livre para que ele beijasse, depositando nela toda a segurança e amor que lhe podia dar.

Fagundes beijava de forma delicada toda a extensão do seu queixo tentando sentir todas as reações do corpo da mulher a sua frente, ela estava arrepiada. O ator a virou por completo e a beijou na boca, as línguas se encontraram como em uma perfeita coreografia onde os bailarinos estavam tão envolvidos que não erravam um passo, tudo se encaixava.

Um som ao fundo começou a incomodá-los, ele não queria parar, não agora, mas o som era insistente e fez com que eles parassem o que estavam fazendo.

— Alô. - quando a morena atendeu o celular, Antônio se deu conta do que havia acabado de acontecer, em segundos seu rosto ficou completamente avermelhado e ele sentia que suas bochechas queimavam. Ao olhar-se no espelho em um impulso apenas se virou, pegou sua bolsa no sofá e quando ia sair a atriz puxou seu braço fazendo sinal para que ele esperasse. — Querido, você pode me ligar mais tarde? Eu tenho que gravar. - mentiu.

— Tudo bem, Rê. Posso te ligar a noite então? - Maurício perguntou.

— Claro. Beijos! - se despediu desligando o celular e o jogando dentro da bolsa, quando ia falar algo a Antônio, Elisa bateu na porta e Regina abriu.

— Atrapalhei algo? - sentindo o peso do ambiente a mulher perguntou em tom baixo.

— Claro que não, Elisa. Aliás, é um prazer te ver. Infelizmente já estou saída, até mais! - saiu da sala tão rápido que não deu tempo de Elisa dizer adeus.

— Ei! - estalou os dedos frente ao rosto da amiga. — O que aconteceu? Você tá nervosa.— a amiga pegou nas mãos da morena e a levou para sentar-se no sofá.

— Tá tudo bem, querida. - respirou.

— Rê, não mente para mim eu te conheço. O que aconteceu? - a encarou.

— O meu assistente de direção da peça acabou de me ligar e eu achava que havia acontecido algo com um dos meus atores ou com o espetáculo, por isso fiquei nervosa. - mentiu novamente

— Jura? Achei que o nervosismo fosse pelo Antônio Fagundes estar aqui. - Elisa tentou mais uma vez.

— Ele veio resolver umas coisas no projac, encontrou o Tony que disse que eu estava aqui, então ele veio me visitar. - juntou as mãos da amiga as suas e as apertou. — Obrigada por se preocupar comigo, você é uma grande amiga, mas eu juro que estou bem.

Teu corpo é meu textoOnde histórias criam vida. Descubra agora