PURGATÓRIO

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Por que tudo brilhava tanto? Por que não tinha um banquete para homenagear sua chegada? Por que tudo doía? Será que a chegada no purgatório era necessária para que assim alcançasse a definitiva glória? Será? Eram tantas perguntas naquela confusa mente que não conseguia nem sequer raciocinar. Também não se lembrava de ter dormido com as luzes acesas, as únicas coisas que se lembrava eram os beijos e a quentura de um certo homem.


Será que poderia ser ressaca? Talvez. Mas todos que de longe passaram a ver o estado de Regina que aos poucos despertava davam-se conta que para ela tudo soava tão confuso quanto soava para eles mesmos. Gabriela em sua insistente aflição zarpou corredor a dentro procurando por alguém e quando encontrou o rapaz que achava que era o responsável pelo o caso de sua mãe, não pensou duas vezes em segura-lo pelo pulso puxando-o para a entrada da UTI onde todos encontravam-se tão extasiados quanto ela. João e André nada falavam, contudo, a emoção transbordava pelos olhos quase infantis. Regiane e Jairo não estavam atrás já que nutriam uma profunda admiração pela sogra. Maurício e Eduardo mantiveram-se distantes de toda comoção familiar, mas não poderiam e sequer conseguiriam esconder os galopes de seus respectivos corações e os sorrisos bobos - e involuntários - que passaram a soltar. Agrela abraçou o vaso de flor e Lippincott se lançou contra uma cadeira jogando para trás a cabeça enquanto ria e chorava.


O médico bipou  alguns enfermeiros que entraram como um tufão dentro da ala isolada e rodearam a cama da renomada atriz realizando os procedimentos padrões.

— Pressão arterial nove por seis.

— Não. - Regina tentava se desvencilhar dos toques.

— Trinta e seis de temperatura.

— Eu ainda odeio você. - ela insistia.

— Pupilas levemente dilatadas. - Sérgio, o médico disse ao apontar uma pequena lanterna nos olhos da atriz. — Sinais de atordoamento. Possível perca de memória recente.

— Barra da Tijuca? - tentou puxar as mãos para bloquear a luminosidade mas o máximo que conseguiu foi mexer alguns dedos.

— Apliquem um antitérmico junto de Atenol para levantar a pressão. - o médico calibrou o soro. — A paciente está apática, mais uma bolsa de sangue.


Uma das enfermeiras que controlavam a circulação e visibilidade das pessoas do lado de fora, ao ver a confusão e o receio que passou a estampar algumas faces se encarregou de tampar a visão deles com a ajuda de uma cortina. Não se sabe por quantos minutos ficaram sem notícias, mas aquele tempo do entrar da manada de médicos e enfermeiros e a saída de Sérgio, o médico responsável pareceu demorar uma eternidade.


— Sim, ela acordou. - todos sorriram. — Há alguns sinais de confusão e como eu disse a possível perca de memória recente, mas só podemos ter a certeza quando os efeitos dos sedativos passarem de vez.


— E quando isso vai acontecer? - André perguntou.

— Dentro de dez horas no máximo.

— Quando poderemos vê-la? - Foi a vez de Regiane.

— Se a paciente não apresentar nenhuma alteração, por volta do meio dia quando será levada ao quarto.

— Mas isso é só amanhã. - Agrela disse o óbvio. — Ainda são dez horas da noite.

— Procedimentos padrões. - Sérgio mexeu as mãos. — Devemos segui-lo a risca.

— Já sabem qual o quarto que ela vai ficar? - Gabriela perguntou.

— Já sim, temos um quarto já desocupado. - olhou de relance para Eduardo se lembrando do trato por eles feito. — Ela terá direito há dois acompanhantes.

Teu corpo é meu textoOnde histórias criam vida. Descubra agora