Sobre quatro rodas, descendo a ladeira
Sigo remando a margem da sociedade.
A todo momento dou gritos que não se ouvem
porque, se ouvidos, farão sangrar corações
de homens cheios de certezas.Meu maior problema, não é o anjinho no meu ombro esquerdo cantando o amor à natureza, porque este já foi ouvindo a muito tempo.
Meu problema é o demônio no ombro direito, que sussurra no meu ouvido se se alimenta do meu senso de justiça e do meu medo.Já não quero gritar sobre a compaixão.
Cansei de ser ignorado.
E nesse mundo de gritos que não se ouvem
Quem ouvirá o choro dos oprimidos?Não gritarei. Não chorarei.
Não usarei armas, nem tratei provas, não
levarei ninguém aos campos de concentracão de bichos.
Não sou ninguém. A militância se esvaiu de mim há tempos, pois tudo isso eu já fiz.Me perdoem, mas não posso.
Eu acho que ainda tem uma saída.
Um último recurso, para tentar mudar as mentes.
Eu mudarei tudo, ou nada, escrevendo versos.
As vezes, isso é tudo que se precisa.
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