Lua azul {HIATUS}

Abraço de mãe

  O céu já estava escuro e eu continuava imóvel no sofá da sala, tentando processar tudo o que havia acontecido e quem sabe até conseguir uma explicação lógica, sem comer desde a manhã, mesmo com a Heloísa tentando me empurrar comida.

  Eu nasci em um mundo onde seres sobrenaturais não existem, cresci com a certeza de que estava segura de lobisomens, vampiros e até de unicórnios, mas aquele dia havia mudado tudo o que eu tinha certeza. O meu namorado havia se transformado em um lobo bem na minha frente, quebrando todas convicções que eu tinha e me assustando.

  Como aquilo era possível?

  Um homem capaz de mudar sua forma física para a de um animal, sendo que ninguém mais sabia sobre a sua existência, nem mesmo a ciência ou o governo.

  Minha cabeça continuava rodando, colocando força total para tentar digerir tudo o que havia acontecido, quando mamãe e o Tadeu chegaram do trabalho conversando animadamente.

  Logo que eles chegaram mais perto da sala pousaram os olhos em mim, minha mãe com um olhar curioso e preocupado, enquanto o Ted tinha um olhar vazio e até meio sofrido, como se ele não conseguisse me olhar nos olhos.

  Percebendo que eu estava mal mamãe veio calmamente até o meu lado e se sentou, então sem dizer nada me deu um daqueles abraços do qual não queremos sair nunca, aqueles que confortam até mesmo a nossa alma, enquanto o Tadeu se sentou na outra extremidade do sofá, visivelmente também preocupado mas sem abrir a boca para falar uma palavra.

— o que te fizeram minha filha? — ela me perguntou após um longo silêncio — me diga o que foi e quem foi que eu resolvo.

— foi o Heitor — pausei —, ele se transformou em um lobo na minha frente.

  Um silêncio esmagador tomou conta de todo o cômodo, eles pareciam estar tão surpresos quanto eu, exceto pelo fato de estarem olhando um para o outro, como se perguntassem o que?. Eles provavelmente estavam pensando que eu havia enlouquecido e eu não os julgava por isso, pois no tempo em que fiquei sozinha questionei minha própria sanidade mental, chegando até em pensar em um manicômio descente para passar o restante da vida.

— eu sei que estou louca mãe — disse quebrando o silêncio.

— você não está louca filha — respirou fundo — , apenas descobriu um segredo difícil de se aceitar e entender.

— mãe — olhei nos olhos dela —, eu disse que eu vi o meu namorado se transformando em um lobo, como não estou louca?

— eu ouvi e entendi claramente o que você disse — disse ela gentilmente —, por isso digo que você não está louca.

— você sabia — me afastei dela, sentando-me em outra parte do sofá e olhei para o Tadeu que parecia triste — vocês sabiam!

— sim — Tadeu respondeu com um tom triste.

— Coly Hills é uma cidade muito misteriosa, escondem segredos de todo o resto do mundo — mamãe pausou —, mas eu pensei que você já soubesse já que namorava um alfa.

— não, eu não sabia — respondi com um tom mais auto do que o necessário — e o que você quer dizer com um alfa?

— o Heitor vem de uma longa linhagem de alfas, todos da família dele assumem a liderança aos 16 anos — respondeu ela.

— então ele já é um lobo alfa? — perguntei assutada.

— não, ele vinha lutando contra o dom de animal, então não havia se transformado até agora — deu de ombros —, ele não se achava digno de comandar toda a Coly Hills.

— você sabia que ele era um lobo e me apoiou a ficar com ele? — perguntei irritada.

— sim, ele é um ótimo partido, como eu não apoiaria esse relacionamento? — sorriu — além disso você não teria desistido se eu fosse contra, terei até talvez fugido com ele.

— eu não teria não — cruzei os braços.

— teria sim, você é uma garota adolescente.

— talvez — resmunguei.

— agora me diga por que ele decidiu finalmente se transformar? — minha mãe perguntou.

  Contei tudo a ela e assim que disse a última palavra o telefone, que estava sobre o sofá ao lado de Tadeu, tocou assustando-nos. Com rapidez o Ted o atendeu colocando-o na sua orelha, perguntou quem era e logo após me olhou meio receoso.

— é o Heitor, ele quer falar com você — disse ele.

— eu não quero falar com ele — disse baixinho.

  Sem protestar o Tadeu colocou novamente o telefone na altura da orelha e começou a falar.

— ela precisa de um tempo Heitor, deixe-a quieta até que ela escolha os seus próximos passos — pausou —, é coisa demais para somente um dia, quando ela quiser falar com você tenho certeza de que ligará.

   Assim que o ligação foi encerrada a conversa entre nós retornou, sendo puxada por minha mãe que continuava com o olhar preocupado.

— eu sei que é muita coisa por agora, sua cabeça está a mil, mas querida pense que os sentimentos de vocês eram verdadeiros — pausou — , ele não queria te esconder nada, na verdade ele não queria nem ser um lobisomem, então por favor pense bem antes de tomar uma decisão. Vocês se amam e o futuro depende apenas de si.

— era por isso que você era contra não é? — me virei para o Tadeu — eu ouvi uma vez você falando que não concordava com esse relacionamento.

— sim, eu não achava justo você ter que carregar esse fardo que nem lhe pertence — disse ele em um tom baixo.

— eu vou subir para o meu quarto.

  Antes que eles falassem algo eu me levantei e fui em direção ao meu quarto, pois tudo o que eu mais precisava naquele momento era de paz e solidão.

  Já no meu quarto deitei na cama ficando de barriga para cima, então comecei a repassar tudo o que havia acontecido desde minha chegada a Coly Hills, naquele momento tudo fez sentido; todas as palavras estranhas, o comportamento incomum e até a falta de receptividade aos novos moradores.

  Como eu pude ter sido tão tola de não ter percebido nada daquilo? Precisei ver o garoto que amo se transformar em um animal para ver o que estava bem debaixo do meu nariz.

   A Raquel não sabe nem metade das coisas ainda, tadinha, pois falta muitas peças nesse quebra-cabeça, mas pelo menos ela finalmente descobriu sobre o segredo daquela cidade.

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