Prólogo

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Ainda quando a terra e os céus se velavam em apenas um, o universo era povoado por Gaia e Urano. Ambos se amavam, usufruíam do sexo como sua melhor forma de diversão, possuíam doze filhos, esses chamados titãs, e viviam uma vida feliz, até certo ponto.

Urano era possessivo e temia que alguns dos seus descendentes tentassem roubar seu trono. Dessa forma, sempre que um filho nascia, ele o reinseria no útero de Gaia.

A verdade é que, apesar de amar Urano, Gaia estava cansada dessa situação. Seu marido parecia não compreender sua aflição, mas, ah, ela estava esgotada! Tudo o que queria era que Urano se afastasse de si! Mas ele não conseguia. Era viciado em estar conectado dentro da mulher, gozando em seu interior até suas orbes revirarem de prazer, além do medo obscuro de perder o poder.

Aflita, Gaia induziu seus filhos para irem contra o próprio pai.

De todos, apenas Cronos levou o plano adiante e, durante o ato sexual entre os pais, o pequeno conseguiu libertar-se do ventre da mulher e cortar o pênis de Urano fora.

Diante do grito de dor resplandecente do ato, o universo se separou em Céu, simbolizado por Urano, e Terra, simbolizado por Gaia.

Cronos casou-se com uma de suas irmãs, Réia, e reinou entre o céu e a terra, estabelecendo o contato entre ambos, disseminando o mal e o péssimo hábito de comer seus próprios filhos para que os mesmos não tivessem a chance de ocupar seu trono, mantendo os mesmos medos e erros do pai.

Réia, indignada com a situação, entregou seu filho Zeus para ser criado por lobos logo após o parto, dando uma pedra para Cronos comer no lugar do bebê. Cronos sequer desconfiou da troca! Entretanto, após muito tempo, o filho escondido retornou para perto do pai disfarçado e o fez vomitar seus irmãos, já adultos, com uma poção mágica.

Com esse simples ato foi estabelecida uma guerra histórica pela posse do universo, onde os deuses venceram e, como vingança, mandaram todos os titãs para o tártaro; com exceção de Atlas, que parecia inofensivo.

Na verdade, Atlas realmente era! Possuia o corpo pequeno, fraco, e adorava plantar margaridas, além de ser o mais novo dos titãs. O único problema do ser era sua paixão platônica por Afrodite, deusa do amor, pois com o passar do tempo esse sentimento lhe corrompeu internamente, virando algo doentiu.

O rapaz passava o dia seguindo a deusa – apesar de saber que era errado – e certo dia tentou abusa-la. Ele não compreendia por que a mulher transava com todos no reino, menos consigo, e isso deixava seu coração em frangalhos. Zeus não poupou quando condenou o titã a segurar o céu por toda a eternidade como punição pela tentativa de estupro.

Apesar do fardo eterno, quando Atlas soube que Afrodite estava grávida de Hefesto, seu universo pareceu colabar e ele jurou roubar aquela criança amaldiçoada para si. Para mata-la, para abusa-la, para fazer o que quiser com o ser demoníaco.

Atlas conseguiu fugir, deixando o papel de segurar o céu para outra pessoa, e montou um exército. Ele almejava invadir o Olimpo, levar Afrodite consigo para viverem felizes, matarem a criança e, só então, terem seus próprios filhos perfeitos. Porém, o bebê de Afrodite e Hefesto acabou nascendo no momento em que o titã invadiu do Olimpo e os deuses não encontraram outra solução para protegê-lo além de manda-lo para a terra.

Poseidon se ofereceu para proteger a criança em troca de sua mão em casamento para seu filho preferido e Afrodite, no ápice do desespero, aceitou a condição. Ambos foram até uma Hécate* para que a mesma fizesse uma poção que transformasse o pequeno Deus em humano, lhe retirando os poderes e a imortalidade, em busca de lhe proporcionar uma vida normal na terra. O frasco com os poderes e a imortalidade do pequeno Deus foi entregue a Poseidon, para que o mesmo devolvesse ao Deus quando ele casasse com seu filho.

O Olimpo foi saqueado, uma guerra grotesca aconteceu e durou cem anos, mas o pequeno Deus foi mantido seguro e é mantido assim até hoje, mil e poucos anos depois do ocorrido.

O tempo se passou e a alma do Deus renasceu cerca de sessenta vezes, sempre morrendo sem cumprir a sentença do casamento. A história sobre o filho de Afrodite e Hefesto foi esquecida por todos, assim como Atlas, que sumiu com seu exército em meio ao além.

Tudo parecia estar bem até hoje.

*Hécate: deusa da lua, magia e feitiçaria.

Profecia Grega ᠅ jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora