XII. Catatimia

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A mente do Jimin é muito confusa😅

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Houve um tempo em que minha vida era caos, sombria como as profundezas do Tártaro. Dia após dia, mais neve caía em meio ao solo infértil de Boreas, e o sol regava o céu apenas por obrigação, por ser lei que Apolo o erguesse todas as manhãs. No infinito noturno, não existiam estrelas, nem focos de luzes ultrapassando as delimitações da cidade. As cores, desde o amarelo até o azul, laranja e rosa, se condensavam com repúdio, como se não quisessem se misturar, e algo naquela imensidão corroía meus pensamentos.

Eu tinha dezesseis anos quando entendi que o mundo não era tão bonito quanto nos livros. Algo não se encaixava. Era como se o universo fosse um quebra-cabeça com peças perdidas, na qual a perfeição nunca iria ser atingida.

Eu era o pior, dentre os piores.

Viver se tornou um fardo, um peso que não pedi para carregar e, se eu pudesse escolher, devolveria minha alma a Hades num piscar de olhos. Pediria que ele facilitasse minha vida nas próximas gerações, que tirasse minha dor, mas esse dia nunca chegou... E a dor se acumulou, junto de garrafas vazias, não sei... Não sei como, em breves bateres de asas, Jungkook surgiu e apagou esses pensamentos negativos de minha mente.

Minha alma deve ter se regenerado. Ao menos, sinto-me como se eu fosse um novo homem. Quando há recaídas eu apenas olho para ele ou mando uma mensagem e, pronto, já basta. Com uma simples ação, meu coração bombeia como uma cachoeira jorrando água em meio a chuva, e meus pés largam o chão. Sorrio para ele, já que tudo o que sinto não se encaixa em palavra alguma, e entrelaço nossos dedos. E, dessa forma, Jeon entende. Por que ele sempre me entendeu muito bem. Sempre superou minhas expectativas, me acolheu. Sempre foi meu amor e lar.

Não é difícil estar ao seu lado, somos um complexo. Ying e Yang numa versão repaginada, com direito a sangue e um cara maluco que se acha importante demais. Um pouco de tristeza deixa nossa história única e interessante, mas não menos bela e cheia de amor.

Por isso, Jungkook se tornou meu precipício e me faz ficar horas apagado, encarando o vazio, imaginando o que farei se der tudo errado. Não quero ir embora, deixar a vida pela metade, deixa-lo sozinho. As lembranças me corroem o dia inteiro, cada segundo e detalhe, gotejando como a morte escorrendo de uma ampulheta. Já não sou mais meu, o meu eu já não me controla, nem o universo corresponde aos meus comandos. Me sinto um nada, um lixo, mas tenho esperança de ser alguém, um dia.

Jungkook me faz ter esperança.

Só não agora. Está tudo despedaçando.

Morte. Morte. Morte.

Você é meu, Jimin, meu pequeno.

Sabe que não lhe mato agora por que eu não quero, não é?

Você nunca vai sumir para mim, Jimin.

Ajoelhe.

Pegue aquela faca para mim, você consegue fazer isso, não é?

Pequeno?

Afrodite me mataria se soubesse o que faço com você.

É tudo o que ecoa em minha mente, feito breu, névoa e pó. As lembranças atordoadas, cortadas como trechos de filme de terror, o sangue escorrendo por entre meus braços e coxas, em todos os locais onde fui cortado e machucado. Andando por dentro do parque, passos rápidos nos levam em direção ao estacionamento. Não consigo gesticular, por mais que Jungkook esteja perguntando o que vi.

Profecia Grega ᠅ jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora