Depois de acordar de um coma, Michelle percebe que se passaram muitos anos. Seu irmão já não era mais pequinho como lembrava. Nada era como lembrava.
A vida deu um jeito de traçar novos caminhos, colocando-a num estado de confusão. Até que tudo e...
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Falando com os Mortos.
– Como você fez aquilo? – questiona Sabrina – Eu nunca vi algo desse tipo.
Michelle encara a garota vidente. Isso não fazia o menor sentido para a garota. Para ela, todo aquele poder e coragem surgiu por conta do cântico mágico de Sabrina.
– Pensei que fosse você com suas bruxarias que me deram força.
– Que bruxarias? – estranha Sabrina – Eu não sei fazer... Magias tão fortes como a que vi você reger.
Michelle olha ao redor toda a destruição que causou. De onde teria vindo tudo isso? Quem realmente ela era? Por que isso estava acontecendo?
– Preciso de ajuda – diz a jovem – Preciso de mais respostas.
Matheus grita alguns metros mais à frente. As meninas atentas o observam no meio do caos acenando para elas. Elas se entreolham e vão de encontro com o rapaz. Michelle veste o sobretudo que a amiga do irmão retira, oferecendo-a.
– Olhem isso – diz o rapaz.
– Você queimou ela! – exclama a vidente.
Michelle desce o olhar para o chão, um amontoado de poeira negra entrega o local da morte de Alicia. Cinzas e mais cinzas, tudo transformado em pó. Os olhos de Michelle se enchem de lágrimas, mas nenhuma delas caí. Quando era pequena, ela se lembra, que ia até a casa daquela mulher para brincar com sua filha Brenda. Que comia os biscoitos que ela preparava. E agora, ela estava morta. Mais uma vez Michelle matou alguém que fazia parte de sua vida. A dor se reprime dentro dela. Não demonstrará sua fraqueza, pelo menos não deseja demonstrar. Ela é o Aviso do Demônio.
– Michelle, não foi culpa sua. – Ela escuta a voz do irmão. – Você fez o que era preciso. Ela já não era mais a dona Alicia.
Matheus tinha razão. Mas, a razão é algo que perdeu sua importância a muito tempo. Que razão existe num mundo cheio de monstros? Na verdade, não há razão na existência de monstros. O que diria os cientistas e filósofos sobre isso?
– Temos algo importante para fazer – diz Michelle, engolindo o próprio choro.
– O que exatamente? – questiona.
Michelle desvia o olhar para a garota espírita. A mesma sente a pressão do olhar sobre si. É fácil deduzir que vem uma bomba na sua direção. Sabrina enche os pulmões de ar lentamente.
– Sabrina...
É com ela mesma. A garota vidente sorri, as vozes sussurram na sua cabeça. De onde Michelle tirou essa ideia? Se as vozes estiverem certas, isso não será algo fácil.
– Preciso que você convoque seus espíritos – continua Michelle – Eles devem ter as respostas que precisamos.
Sabrina sorri. Não será uma tarefa fácil, mas ela sabe que pode e deve tentar. As vozes dizem que isso é perigoso, porém Sabrina é quem controla sua própria mente.
