A morte do Demônio.
As portas se abrem, rangendo em contato com o piso, enquanto são empurradas por Sabrina. As gotas de água pingam das pontas de seus cabelos e escorrem pelo corpo da garota, suas roupas coladas ao corpo por conta da chuva marcam a silhueta magra da menina. Todos estão no mesmo estado.
Matheus até pior. Não era possível dizer se ele chorava ou eram apenas gotas de chuva. Se sente culpado, temendo que algo aconteça a Letícia. Foi por causa dele que ela estava na fazenda. Nunca devia ter contado a verdade para ela. Nunca deveria ter a tirado da normalidade que a pertencia. Foi egoísta demais por querer tudo para si. Está amaldiçoado a não ter ninguém. Não é mais, e nunca foi, um garoto normal.
– Não é culpa sua. – Michelle tenta consolar o irmão.
Alicia de cabeça baixa apenas assente para a garota. Não é preciso palavras para expressar como todos estão esgotados. A lua já paira no céu, plena como a rainha das estrelas. A moribunda cheira as próprias axilas, que por sinal não cheiram bem, e decide ir tomar um banho quente. Necessita relaxar.
O banheiro está escuro, ela desliza o dedo, cuidadosamente, pelo interruptor. O mesmo não responde aos comandos dela. Provavelmente, por estar estragado.
– Ótimo – reclama sozinha.
A mulher tira suas roupas ali no escuro mesmo. O silêncio é perturbador. O escuro, também é perturbador. Ela não consegue responder sua mente que questiona sem parar se há outro alguém ali junto dela. O medo da morte retorna sobre sua cabeça, os pecados marcam seu caminho desde que era um jovem adolescente. Alicia se lembra sempre do corpo do pai caído no chão. Salvar sua mãe? Nada pode desfazer o que ela fez. É uma assassina.
A moribunda entra no box, tropeçando sobre os próprios pés. Está escuro, não consegue enxergar absolutamente nada. Com as mãos ela apalpa as paredes na procura pelo registro do chuveiro. Algo frio toca seus dedos, entrelaçando-se a eles. Alicia tenta gritar, mas nada escapa por sua garganta.
– Irmãs – diz uma voz feminina, porém marcante – O que temos aqui?
Risadas ecoam pela mente de Alicia. Demônios que cantam a música do sarcasmo. Com certeza, essa não é a sua estação preferida.
– Cúmplice.
– Pecados. – A criatura ri. – Muitos pecados.
A mão fria a puxa para o lado. O chão se desfaz abaixo de seus pés, uma sensação estranha de estar flutuando toma o corpo da mulher. Onde está? Ela se sente perdida, ouvindo o ar frio sussurrar em seus ouvidos.
– Michelle é a origem e o fim – sussurra o vento.
Risadas maliciosas eclodem por todas as partes, rodando em círculos ao redor dela. Milhões de mulheres rindo ao mesmo tempo. O chão se projeta junto de um corredor, tudo escuro, a visão é o sentido que menos pode ajudá-la no momento. Alicia sente seu corpo pender de um lado para o outro, numa corda bamba que a derruba em direção ao chão. Muitas mãos percorrem sua pele, frias como gelo. O vento assobia, vindo em direção a ela.
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O Aviso do Demônio _ Parte Dois.
FantasíaDepois de acordar de um coma, Michelle percebe que se passaram muitos anos. Seu irmão já não era mais pequinho como lembrava. Nada era como lembrava. A vida deu um jeito de traçar novos caminhos, colocando-a num estado de confusão. Até que tudo e...