Capítulo 8 - Desejos a flor da pele

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Capítulo 8 – Desejos a flor da pele

Já fazia quinze minutos que Snape trancara-se no banheiro, estava na hora de sair, mas seu corpo não obedecia a seus comandos, ele apenas queria ficar debruçado na pia olhando-se no espelho. O reflexo não lhe dizia nada, era apenas o homem feio e velho de sempre, seus olhos negros ainda eram frios e vazios, talvez um pouco mais vazios do que de costume, mas ainda eram os mesmos. Sua pele pálida continuava macilenta e com rugas, seu cabelo ainda era escorrido e oleoso. Automaticamente levou suas mãos a tatear seu corpo nu. Todas as cicatrizes estavam no mesmo lugar, com as mesmas marcas e profundidades. Olhou-se novamente no espelho com dúvida em seu olhar.

Estava tudo igual.

Então por que ele se sentia estranho?

Não poderia ser pelo sexo. Não. Aquilo era apenas sexo, nada mais do que isso. Por mais que Potter não fosse sua preferência sexual e muito menos pessoal, era sexo e nada mais. Tão fácil quanto fazer a poção da paz de olhos fechados, ele sabia fazer e fez, entrou e saiu cumprindo seu dever de marido. Fez o possível para não machucá-lo. Sua mente estava em paz consigo mesmo, ele sabia disso. Mas então por que sentia que algo estava errado? Era difícil entender ou simplesmente aceitar que no fundo de sua alma havia algo como... culpa.

Culpa, culpa, culpa.

Ele se sentia culpado. Mas...

Franziu a testa lembrando-se de todos os seus movimentos na cama há apenas alguns minutos atrás. Não estava com vontade, não queria fazer e nem mesmo sentiu desejo no corpo do menino, a pele dele não queimava a ponta de seus dedos, suas mínimas curvas que desenhavam o caminho para o membro jovem não enchiam sua boca de água. Harry Potter jamais conseguiria fazê-lo arder de desejo como a mãe dele fez, mesmo que somente em sonhos.

Lilian, era por ela que sentia culpa. Não por ele, não pelo filho, por ela. E era um sentimento estranho de sentir, diferente da culpa que sentira quase sua vida inteira após a morte dela. Era mais como vergonha. Era isso, ele sentia vergonha por ter feito sexo com o filho dela.

- Maldito seja. – Disse Snape olhando profundamente em seus negros olhos.

A raiva crescia consideravelmente em suas íris, o ódio consumia suas veias e inflava seus pulmões. Ódio de Harry Potter, pois por causa dele a culpa corroía seus ossos e o fazia sentir vergonha de seus atos. Como odiava isso. Uma vontade de matar nasceu em sua alma, matar o menino que estava deitado na cama a poucos metros com sua essência dentro dele.

Respirando fundo Snape saiu do banheiro ainda nu e se aproximou do menino que acabara dormindo de cansaço. Snape olhou de cima para o menino na beirada da cama e fechou suas mãos em punho, por causa dele sua vida era um inferno e piorava cada dia mais. Se ele não existisse tudo seria diferente, provavelmente o Lord das Trevas não teria perdido seus poderes quinze anos antes, mas alguém acabaria sendo forte o suficiente para pará-lo, talvez até mesmo Potter ou Dumbledore. Se essa criança não tivesse nascido Lilian ainda estaria viva e seu coração não estaria quebrado. Snape sorriu de leve imaginando Lilian mais velha com o mesmo sorriso de criança, estaria linda. Ele até mesmo aceitaria que ela estivesse com Potter, pelo menos ela estaria viva e ele poderia vê-la de longe. Seria muito bom.

- Mas você nasceu. – Sussurrou Snape abaixando-se ao lado de Harry. – Você tinha que vir ao mundo e estragar minha vida como seu pai fez.

Uma mão de Snape afundou nos cabelos escuros de Harry enquanto a outra se postava no pescoço do menino. Era possível sentir a veia pulsando no ritmo das batidas do coração dele. Era só apertar, só fechar a mão entorno daquele pescoço fino e tudo estaria acabado em apenas alguns segundos. Mas não podia fazer isso. Lilian não deixava, a memória dela não permitia. Snape retirou a mão do pescoço e passou um dedo pela bochecha de Harry. O professor sentiu o corpo tremer pela raiva, mas respirou fundo controlando-se. Controle era tudo em sua vida, era o que sempre o impedia de fazer algo impulsivo como matar Harry Potter em sua lua de mel. Matar seu próprio marido.

A Lenda (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora