Capítulo 14 - Era para ser um dia comum

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Capítulo 14 – Era para ser um dia comum.

O outono se arrastou lentamente e trouxe finalmente o inverno. Puxou-o pela mão até que se adentrasse ao terreno da escola dominando a pequena quantidade de grama que lutava para sobreviver naquele local, sabendo que logo a neve cairia e a sufocaria com sua branca frieza.

Sim, ela viria.

Cairia do céu como a benção de um deus cobrindo todos os lugares que olhasse. Seus flocos bateriam com calma no topo das árvores da Floresta Proibida e escorregariam suavemente até o chão onde repousariam tranquilas em sua relva confortável. Já no jardim tudo seria mais natural. Apenas uma queda livre até ocupar seu lugar no gramado, cada um em seu canto já predeterminado. O lago negro, por sua vez, sentiria sua superfície congelar. Seria apenas mais um espetáculo que sempre acontecia naquela época. O manto espesso que deitava sobre a negra água, por vezes quebrado pela lula gigante, se formaria novamente.

Mas somente nas paredes do castelo que a neve mostrava sua raiva, sua parte sombria e fria. Caia impiedosamente contra as janelas de vitrais dos dormitórios, salas e grande salão fazendo atravessar a sensação de engolfamento. Perdera a conta de quantos corações já vira endurecer junto consigo, quantos já trouxera à tona em suas noites violentas.

Muitos.

Sim, ela era bela e magnífica, assim como era cruel e mordaz.

Essa era a neve do inverno. Uma pequena parcela dessa estação complexa e vil.

A maioria dos alunos detestava o inverno. Era nessa época que queriam apenas ficar embaixo de suas cobertas e dormir até não querer mais, porém as obrigações com os estudos os obrigavam a levantar de suas quentes e confortáveis camas. Muitos alunos estavam acordando de mau humor naquela manhã de sexta feira, enquanto outros praticamente saltavam de suas camas ansiosos por já ser quase final de semana. No dia seguinte muitos poderiam descansar suas mentes dos trabalhos rigorosos que precisavam fazer durante a semana, ficariam sem se preocupar com aulas e lições complicadas.

Harry, por sua vez, abria os olhos e apenas sentia que seria um bom dia. Tentava não pensar nos dias seguintes, queria pensar somente no agora. A vida era muito instável e tudo podia mudar de uma hora para outra. Na verdade Snape é que era instável demais. Por isso apenas se concentrou nessa sexta feira sem pensar no dia seguinte. Primeiro o café da manhã, depois dois tempos de transfiguração, um tempo livre antes do almoço, um tempo de DCAT e o restante do dia livre para treinar quadribol e se arrumar para passar a noite com Snape o adentrando e consumindo seu corpo com seus lábios.

Piscou pensando o quanto precisava ser paciente e segurar sua língua para que pudesse ficar em paz com o homem do quarto ao lado. Por mais que as coisas estivessem de certo modo "bem" entre os dois. Snape ainda era Snape. Na cama era pleno fogo queimando, ardendo em brasa. Suas mãos apertavam o quadril de Harry como se fosse o único lugar onde pudesse se segurar antes do fim. Seus gemidos ao sentir as unhas do menino em suas costas, eram surreais, faziam-no gozar por si só. A língua, aquela maldita língua esfomeada, que passeava pelo seu pescoço traçando caminhos diversos que levavam para seus pontos mais sensíveis. Não podia se esquecer da boca maravilhosamente quente que devorava seus lábios enquanto o membro rijo o invadia com força.

Tudo era sempre intenso. Snape se entregava por completo, esquecia de seu próprio nome e implorava pelos gemidos de Harry. Era como seu último gole de água antes de se aventurar em um deserto sem fim. Mas depois era tudo frio. Após o abraçar e sentir seu corpo tremer em cima do seu, após acariciar os cabelos negros que caiam em seu rosto fazendo cócegas, após dizer pequenas e irracionais juras de amor no ouvido dele, o homem se erguia sobre os braços, olhava para seus olhos verdes e demonstrava uma dor tamanha que era impossível sentir, pois levaria direto à morte. E então ele se vestia e seguia para seu quarto trancando-se em seu sombrio interior, deixando Harry ainda com as sensações gostosas do orgasmo, mas com o coração partido.

A Lenda (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora