Capítulo 11 - Loucura no meio da noite

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Capítulo 11 – Loucura no meio da noite

A máscara branca descansava em cima do manto negro. Os buracos em sua face transpassavam a loucura que vira naquela noite. Em sua superfície eram visíveis os riscos que formavam os símbolos estranhos e desconexos. Símbolos que marcavam as vidas tiradas, cada um para uma pessoa que gritou implorando clemência. Havia muitos. Por suas bochechas frias desciam dois riscos quase secos de um líquido grosso e rubro. O sangue dos inocentes que a viram antes de se desligarem desse mundo de forma brutal. Ah! Se as pessoas que a olhavam soubessem o motivo de cada desenho em sua superfície enquanto escondia o rosto de seu algoz. Ele sabia.

Sabia que cada risco, cada desenho, era um lembrete de uma vida que fora tirada. Uma vida que ele roubou. Às vezes eram só pessoas sem nenhuma importância, cuja a vida não teria peso em sua consciência. Mas às vezes os olhares eram tão novos, as vozes não passavam de choros de quem ainda não compreendia o mundo. Nesses casos, os riscos eram mais fundos, feitos com sua própria mão, forçando a adaga pela superfície prateada e lisa. Sem querer se lembrar disso o homem pegou a máscara e a levou até a pia, abriu a torneira vendo a água corrente lavar o sangue espirrado. Alguns teimavam em permanecer ali como se quisessem fazê-lo se lembrar de seu dono, da mulher ou da criança que lhe olhou com medo e desesperança antes de sentir o golpe final.

Seu manto negro fora jogado em um canto para que os elfos o limpassem e o trouxessem limpo para a próxima ordem de seu mestre. Entretanto, a única coisa que ele não conseguiria lavar, seriam suas lembranças. Não havia penseira que retirasse de sua retina o terror que ele mesmo causara. Amanhã os jornais noticiariam o que já sabia.

- Droga! – Exclamou ao olhar seu reflexo no espelho e ver a mancha de sangue em seu pescoço logo abaixo da cortina de cabelos negros.

O chuveiro era apropriado para um delicioso banho quente, mas sua alma não. A água fria era suficiente para arder sua pele enquanto esfregava-a limpando as evidências de seu encontro com os comensais. Greyback se divertiu bastante, Belatriz não estava mais entediada e Malfoy tentava rever sua posição no ciclo.

- Idiotas.

A palavra foi dita com ferocidade enquanto o punho acertava a parede deixando a pele vermelha e arranhada. Após parar de pensar em tudo que acontecera naquela noite, ele saiu do banho e colocou suas vestes, precisava falar com o diretor e fazer sua ronda noturna. Mas assim que saiu de seu quarto seus olhos viram a porta do quarto de Potter entreaberta. Devagar a abriu e entrou no aposento. Tudo estava calmo e arrumado. O menino estava dormindo na ala hospitalar já fazia um dia, suas cólicas pioraram e Madame Pomfrey achou melhor que ficasse em observação. Snape deveria ficar grato por isso, não teria mais a presença dele em seus aposentos, irritando-o com seus olhares furtivos. Aquele quarto estava frio demais. Snape saiu de seus aposentos e se dirigiu para o escritório do diretor. Seus passos eram silenciosos e rápidos, só os diminuiu quando chegou à gárgula de fênix e ditou a senha. A escada de pedra apareceu permitindo sua entrada, assim como a porta que se abriu antes mesmo que pensasse em bater.

- Boa noite, diretor.

- Boa noite, Severus. – Cumprimentou Dumbledore sentado em sua mesa. – Sente-se, por favor.

Snape não negou o pedido e sentou-se na cadeira indicada, a mesma que sempre o recebia em suas visitas.

- Vim assim que cumpri as ordens do Lord e fui liberado.

- Creio que fez tudo conforme combinamos.

- Sim. – Snape olhou rapidamente para o céu negro do lado de fora da janela e depois voltou seus olhos para o olhar azul penetrante do diretor. – Obedeci as regras dele e fiquei de olho em Draco o tempo todo. Fiz o que Draco deveria ter feito e justifiquei seu comportamento na reunião.

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