Capítulo 31 - De volta a Rua dos Alfeneiros

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Capítulo 31 – De volta a Rua dos Alfeneiros

Parecia que havia passado uma eternidade enquanto estivera ajoelhado ao lado do corpo dele, segurando sua mão mole e fria, mas sabia que na verdade passaram-se apenas alguns segundos. Míseros segundos em que sua alma gritava por um milagre. Uma pulsação. Jamais Harry conseguira se concentrar tanto em algo como naquele momento em que se desligara de tudo ao redor, desde o barulho do vento nas folhas do lado de fora até os gritos malditos dos que ainda lutavam dentro do trem. Nada mais existia além de sua concentração.

Ele não podia morrer.

Snape tinha que estar vivo, agora sabia disso, independentemente do que o homem pudesse ter feito, ele tinha que viver. Jamais conseguiria suportar a idéia de sua morte. O amava demais para pensar que seu coração já não mais batia.

Tinha que bater, assim como o seu batia, assim como já o sentira tantas vezes quando deitava sua cabeça no peito do homem e dormira com o som ritmado de seu coração batendo e bombeando sangue para o restante do corpo. Sua alma doeu quando se lembrou do último momento juntos em uma clareira na floresta proibida onde os sons dos pássaros não conseguiam sobrepujar as suas batidas fortes. Lembrou-se de sua mão percorrendo o peito marcado e postando-se do lado esquerdo, assim como acabara de fazer no homem caído, naquele dia não dera valor ao que estava sentindo, a vida que contemplava, as batidas que se seguiam como uma bela sinfonia lhe ditando o ritmo perfeito para seu esplendor.

Tum Tum, Tum Tum, Tum Tum.

Lembrava-se vividamente de como era sentir o pulsar dentro do peito dele, a lembrança era tão vivida que sentia em sua mão naquele momento, fraco devido ser apenas uma lembrança, mas ainda sentia batendo sob sua palma.

Tum Tum, Tum Tum, Tum Tum.

Harry abriu os olhos e olhou assustado para o homem. Aquilo não fora uma lembrança, nada de meses atrás, aquilo que sentira fora ali, naquele momento de guerra, sentira o coração dele batendo. Com esperança lhe enchendo a alma, Harry abriu o sobretudo do homem deixando seu peito nu e deitou a cabeça concentrando-se para escutar novamente, mas só havia o distinto som dos outros órgãos ainda trabalhando. Ouvia o barulho do estômago rangendo e reclamando que não fora devidamente alimentado, ouvia os líquidos se remexerem conforme o trem balançava com a força dos feitiços que recebia, mas foi o som atrás de todos esses que ele se concentrou. O som que ultrapassou a barreira da epiderme e entrou como fogo no ouvido de Harry causando-lhe calor.

Tum Tum, Tum Tum, Tum Tum.

Sim, aquilo era o coração de Snape batendo fracamente, bombeando o sangue para o restante do corpo e garantindo que sua vida não se esvaísse ainda.

- Graças a Deus! – Agradeceu Harry abraçando o corpo do homem e beijando seu peito. – Oh, obrigado. Obrigado.

Harry começou a rir descontroladamente agora que o alívio o atingiu, mas a risada durou pouco. Ao longe dava para escutar os duelos que se seguiam dentro do trem, estavam cada vez mais perto. Aquele grito foi de Olho-Tonto? – Perguntou-se Harry olhando para a porta por onde logo entrariam comensais e aurores. Havia pouco tempo e precisava agir ou então capturariam Snape e sabia que se houvesse um comensal que matariam, esse seria Snape.

Um barulho alto foi escutado no fundo do vagão, logo chegariam até a cabine. Tomado de desespero Harry se lembrou da aula de Flitwick. Recordou-se do baixinho professor lhe dizendo que poderia parar o tempo por segundos, talvez minutos que lhe dariam muita vantagem em uma fuga. Porém o feitiço era complexo e demasiado avançado para sua idade e competência bruxa. Uma dúvida cravou-se na mente de Harry. E se não conseguisse conjurar o feitiço?

A Lenda (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora