Capítulo II

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Ignorando meu desejo da noite anterior, o dia seguinte chegou.

Acordei tarde devido à sessão de bebida e memórias da noite anterior. Procurei por minha melhor amiga no quarto, mas não a encontrei. Conferi meu celular e constatei que já eram 10 da manhã. Também aproveitei para ler a mensagem da minha mãe, que trazia as informações do voo de volta e me desejava boa viagem. Enquanto dirigia minha atenção ao celular, Bianca entrou no quarto e me cumprimentou:

— Bom dia, Srta. Cardi. — disse. — Por que não toma um banho enquanto preparamos um delicioso café da manhã para nossa hóspede mais querida?

Che cazzo— perguntei, intrigada. — Eu dormi na casa da minha amiga e acordei num hotel de luxo?

— Podemos dizer que sim. Agora vai, toma um banho enquanto fazemos algo pra você comer lá embaixo. Quero que suas últimas horas na Itália sejam perfeitas! — Bianca exclamou, animada.

— Quem sou eu pra contrariar você, não é mesmo? — decidi entrar na brincadeira.

Levantei da cama, espreguicei-me e entrei no banheiro. Pude aproveitar mais um banho de banheira antes da viagem, porém, sem demorar tanto dessa vez. 

Após o banho, escolhi as roupas que vestiria naquele momento e as que usaria durante a viagem, guardando o restante dentro da mala. Arrumei também minha mochila, com as coisas que eu gostaria de ter à mão caso precisasse. Deixei a bagagem separada no canto do quarto, arrumei a cama em que dormimos e desci para tomar café.

— Bom dia, Caterina! — disse carinhosamente a avó de Bianca, ao me ver chegando na cozinha.

— Bom dia, Dona Emiliana! — respondi, abraçando-a. 

— Sente-se, querida. Eu e minha neta fizemos um café da manhã especial para você. — disse ela, me levando até a mesa.

— Exatamente, tudo como você adora. — Bianca completou, entrando no cômodo.

— Obrigada, meus amores. Fico muito feliz por ter pessoas como vocês na minha vida. — respondi, emocionada com o carinho das duas.

Um cornetto vuoto, torradas com geleia, café com leite. Um café da manhã tipicamente italiano antes de retornar à terra do eggs and bacon.

Após a refeição, voltei para o quarto de Bianca, que se entretia com seu celular, deitada na cama. Deitei ao seu lado.

— Tem algo planejado para fazermos hoje? — perguntei.

— Eu tinha pensado em ir à piscina, mas o tempo não colabora. O sol não deu as caras hoje. — ela comentou.

— E qual seria o plano B? — indaguei. — Ainda temos algumas horas até irmos para o aeroporto.

— Podemos ir ao shopping — disse. — Se tiver um espaço sobrando na sua mala pra algumas roupas novas. — um sorriso se abriu em seu rosto.

Não era exatamente o que eu gostaria de fazer nas minhas últimas horas antes da viagem, mas minha melhor amiga adorava fazer compras em shoppings. Concordei, já que queria fazer algo ao seu lado antes de ir embora.

Abri minha recém-arrumada mala, procurando uma roupa um pouco mais arrumada para sair. Acabei escolhendo um look simples, não muito diferente do que já vestia, afinal, era só uma visita rápida ao shopping de uma cidade onde eu já não morava. Vesti-me e sentei na cama, esperando por Bianca, que se aprontava no banheiro. Depois de alguns bons minutos, ela saiu. Mil vezes mais arrumada do que eu, maquiada e com o penteado impecável.

— Você vai assim? — perguntei, atordoada com o visual da minha amiga.

— Eu ia perguntar a mesma coisa. — ela devolveu o questionamento. — Você vai assim?

— A gente só vai ao shopping, Bianca. Não precisa se arrumar tanto assim. — falei.

— Eu gosto de me arrumar pra sair. Nunca se sabe quando você vai encontrar o amor da sua vida, tenho que estar preparada. E você deveria fazer o mesmo. — disse ela, com um sorriso debochado no rosto.

— Talvez, mas eu não vou achar o amor da minha vida hoje. E se eu achasse, teria que convencer a pessoa a ir embora comigo. Não quero sofrer por alguém que mora do outro lado do oceano — respondi, dando risada.

Deixamos sua casa sob o céu nublado, seguindo a avenida em direção ao shopping. Em pouco mais de 15 minutos, chegamos ao nosso destino. Assim que entramos, Bianca já se dirigiu à primeira vitrine que viu na sua frente, atraída por um vestido super elegante.

— Perfeito para a formatura, não acha? — perguntou.

— Com certeza. — concordei. — O azul te cai muito bem.

Passamos mais de uma hora e meia entre vitrines, provadores e balcões das lojas que Bianca mais gostava. Quando deixamos a última loja, minha amiga já carregava um par de sacolas em cada braço, com mais de 10 peças no total. Acabei comprando apenas duas camisetas, sob a insistência da minha amiga, que não me deixaria sair dali de mãos vazias. Antes de voltar, passamos numa loja de souvenirs, onde pude comprar um conjunto de pratos decorativos, feitos de pedra vulcânica do Vesúvio, pintados à mão. Não sei dizer se o material era realmente de origem vulcânica, muito menos se era do Vesúvio, mas achei que seria um presente legal para levar para minha mãe e seu marido.

Quando saímos do shopping, sugeri à Bianca que fizéssemos outro caminho para voltar para sua casa, pelas ruas menos movimentadas, evitando a avenida principal.

— Você tem certeza que quer fazer isso? — ela perguntou, já ciente da minha intenção por trás daquela sugestão. 

— Tenho. Eu tô adiando isso desde que cheguei aqui. Não posso ir embora sem ir lá. — respondi, com firmeza.

Bianca assentiu e me acompanhou no percurso. Em poucos minutos estávamos ali, na frente da casa onde morei por 15 anos. Onde as melhores memórias da minha vida aconteceram. A casa em si não havia sido alterada em quase nada. Pelo carro estacionado na garagem, deduzi que uma nova família morava ali. Inevitavelmente, comecei a ter flashbacks de tudo que havia vivido naquela casa. Tardes correndo no quintal com meu pai, noites na janela do quarto, olhando as estrelas, manhãs na cozinha, tomando café com meus pais. Sentei no meio-fio, de frente para o terreno. Com a cabeça baixa, lágrimas já escorriam pelo meu rosto. Voltar para aquele local evocava todas essas lembranças, mas não amenizava a saudade. A vida que eu vivi dentro dessa casa não voltaria. Meu pai também não.

Minha amiga colocou suas sacolas no chão, tocando meu ombro suavemente em seguida. Pude sentir seu toque tentando me reconfortar, carinhosamente. 

— Eu sinto muito, Cat. — consolou-me.

— Eu sei que sente. Obrigada por estar aqui. — respondi, enxugando as lágrimas.

— Precisamos ir agora. — ela lembrou. — Você precisa ir para o aeroporto daqui a pouco.

Apenas concordei com a cabeça e levantei-me do chão. Pegamos nossas compras e retornamos para a casa de Bianca. Ao chegarmos, subi para o quarto, onde arrumei novamente minha mala, incluindo em seu conteúdo as novas camisetas, a roupa que estava usando e os presentes que havia comprado. Tomei um banho rápido e vesti-me com as roupas que havia separado para a viagem. Guardei uma blusa de frio dentro da mochila, caso fosse necessário.

Desci as escadas pela última vez, levando minha bagagem. Na cozinha, esperavam-me Bianca e sua avó, com o almoço pronto. Não aproveitei a refeição tanto quanto poderia, devido à limitação do tempo. Despedi-me de Emiliana, agradecendo pela hospitalidade e por todas as receitas maravilhosas que fizera para nós durante o mês que passei em sua casa. Nos abraçamos carinhosamente. Bianca me esperava na sala.

— Pode chamar o táxi. — falei. — È ora di andare.

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