Capítulo III

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Em poucos minutos, o táxi chegou. Enquanto eu e Bianca nos dirigíamos para o carro, virei-me e despedi-me de Dona Emiliana uma última vez, com um aceno e um sorriso. Bianca fez sinal para que o motorista abrisse o porta-malas, onde colocamos minha bagagem. Assim que entramos no veículo, ele nos cumprimentou e, em seguida, se dirigiu a mim.

- Aeroporto, eu suponho. - disse. - A julgar pela mala que vocês colocaram lá atrás.

- Exato. - confirmei.

O caminho até o aeroporto foi silencioso. Para a minha sorte, o motorista optou pelo caminho que passa pela orla da cidade. Dessa maneira, pude passar boa parte do trajeto olhando pela janela, admirando as praias, o porto da cidade, e inevitavelmente, a imensidão do Mediterrâneo. Em contrapartida, Bianca parecia desanimada. Sempre que minha visão se voltava para minha amiga, ela estava concentrada em seu celular, excepcionalmente calada.

Após pouco mais de meia hora, chegamos ao nosso destino. Antes que eu pudesse tirar minha carteira da mochila, Bianca pagou a corrida. Pegamos minha mala e entramos no aeroporto. Enquanto seguíamos na direção da área de check-in, o silêncio de minha amiga continuava me incomodando.

- Bianca. - interrompi nossos passos. - Você tá bem?

- Tô sim - minha amiga respondeu, desanimada. - Só estou triste por te ver partir mais uma vez.

- Eu também tô. Você sabe disso. Mas assim como da última vez, eu pretendo voltar. - constatei, com um sorriso.

- Ou eu posso ir te visitar lá. - ela sorriu de volta. - Existem muitas faculdades boas nos Estados Unidos. E eu ouvi dizer que os americanos são uns gatos.

- Esse é o espírito - concluí.

Fiz o check-in e despachei minha mala, rezando para que ela chegasse em New Orleans intacta, afinal, seriam 4 aeroportos diferentes. Enquanto o horário do embarque não chegava, eu e Bianca fomos até uma cafeteria, dentro do aeroporto, aproveitar o pouco tempo que nos restava juntas. Compramos nossas bebidas e sentamos em uma mesa do estabelecimento.

- Já decidiu o que você vai fazer depois que terminar a escola? - perguntei.

- Design de Moda, Cat. Eu pensei que você já soubesse disso. - ela respondeu.

- Isso você decidiu há uns 6 anos. Eu quero saber se você decidiu aonde vai fazer a faculdade. - reformulei a pergunta.

- Ainda não sei. - disse, antes de dar um gole em seu chá gelado. - Eu gosto de Palermo, mas não descarto a possibilidade de ir estudar em outro lugar. - completou.

- Não seja tão modesta. - protestei. - Suas ambições são grandes demais para essa cidade. Você pode ir morar com os seus pais em Roma, tentar a sorte em Milão, sei lá. O céu é o limite para Bianca Pecci! - exclamei, empolgada.

- Vou sentir falta do seu otimismo. - minha amiga riu.

Assim que terminamos nossas bebidas, conferi o status do meu voo em um dos telões do aeroporto, que indicava embarque imediato. Nos dirigimos à passos rápidos até a sala de embarque, parando pouco antes da entrada. Havia chegado o momento de me despedir da minha melhor amiga.

Virei-me para Bianca e a abracei com força. Passamos alguns minutos abraçadas, sem dizer nenhuma palavra, apenas aproveitando o momento. Pude ouvir o choro de Bianca, abafado pelo abraço. Acabei me rendendo às lágrimas também. Em seguida, nos separamos e enxugamos nossos rostos.

- Vou sentir saudade. - disse minha amiga.

- Eu também vou. - afirmei. - Mas lembre-se do que eu te disse mais cedo.

- Não é a última vez que vamos nos ver. - ela recordou.

- Isso. Logo estaremos juntas de novo. - eu disse, com um sorriso.

- Ciao, Cat. - ela me abraçou novamente.

- Ciao, Bianca. - despedi-me.

Após a despedida, segui para a área de embarque, passei pelo detector de metais e me dirigi para o portão do meu voo, pouco antes do encerramento do embarque. Fui uma das últimas pessoas a entrar no avião, que estava relativamente cheio. Encontrei meu assento, guardei minha mochila e acomodei-me, ao lado da janela.

Coloquei meus fones e comecei a escutar uma extensa playlist que eu havia feito especificamente para a viagem. Após a decolagem do avião, tentei relaxar e descansar um pouco, me concentrando apenas na música e nas nuvens que podia avistar pela janela.

Ao meu lado, conversavam, em alemão, dois idosos. Não pude compreender tudo que falavam, devido ao meu alemão enferrujado, depois de anos longe da Europa. No entanto, a senhora parecia criticar o lanche que haviam nos servido. O senhor, provavelmente seu marido, concordava.

Cochilei por algum tempo, encostada no casaco que havia trazido, improvisado como travesseiro. Fui despertada por uma forte claridade na janela, emitida pelo pôr do sol no horizonte. Com isso em mente, deduzi que estávamos muito próximos de chegar em Frankfurt. E foi o que aconteceu. Em menos de meia hora, nosso avião tocou o solo alemão.

Assim que deixei a aeronave, conferi o horário no celular, que marcava 20h31. Mandei mensagens para minha mãe e Bianca, avisando que havia chegado na Alemanha. O avião para New York estava programado para oito da manhã, no horário de Frankfurt. Era muito tarde para sair do aeroporto, ainda mais numa cidade desconhecida. Portanto, decidi jantar ali mesmo. Depois de alguns minutos de caminhada, passando por diversos restaurantes locais, preferi não me arriscar na culinária alemã, uma incógnita para mim, optando pelo McDonald's. Deixei bem claro para o meu estômago que logo estaríamos de volta à terra do fast-food.

Encontrei uma área para descanso, com cadeiras longas e confortáveis, onde decidi ficar. Deitei-me em uma dessas cadeiras, conectando o carregador do celular em uma tomada próxima. Aproveitei o tempo livre para assistir aos melhores momentos dos jogos de pré-temporada do New Orleans Saints. Futebol americano nunca despertou meu interesse, mas depois que cheguei nos Estados Unidos, acabei aprendendo as regras e passei a gostar de assistir. Agora, com um ex-jogador profissional debaixo do mesmo teto, me senti no dever de acompanhar mais de perto. Morando na Louisiana, o Saints eram a escolha óbvia, mas devo admitir que enquanto ainda morava em New York, tinha uma pequena queda pelos Giants. No basquete, porém, decidi seguir com o time que escolhi quando cheguei em NY: os Nets.

Após mais de uma hora mexendo celular, o sono finalmente me pegou. Guardei o aparelho na mochila e tirei meu casaco, novamente na intenção de usá-lo como travesseiro. Me aconcheguei da maneira mais confortável que pude encontrar e adormeci pensando na viagem transcontinental que faria no dia seguinte.



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