Capítulo XIII

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Depois de alguns minutos criando coragem para sair da cama, me levantei e troquei de roupa. Coloquei as roupas que havia usado no treino para lavar e, para evitar que o cansaço me convencesse à voltar para o conforto da cama para um cochilo, resolvi tomar um café. Minha mãe, que lia um livro na sala, pediu uma xícara para si ao me perceber preparando minha bebida. Após encher as duas xícaras, adocei uma delas com uma boa quantidade de açúcar e as levei até o sofá, onde minha mãe estava. Sentei-me ao lado dela, entregando-lhe a bebida adocicada.

Grazie, filha. — ela agradeceu, assoprando seu café em seguida. — Você definitivamente puxou o seu pai na parte do café. — comentou, com um sorriso discreto.

— Se você precisa de qualquer coisa além de água no seu café, você não gosta de café. — parafraseei meu pai.

— Você se parece tanto com ele, querida... — minha mãe declarou, levando uma das mãos ao meu rosto e olhando no fundo dos meus olhos, azuis como os do meu pai.

— Eu sempre quis ser como ele. Sempre quis deixá-lo orgulhoso. — afirmei, já num tom melancólico.

— Tenho certeza que ele estaria orgulhoso da mulher que você é hoje. — consolou-me, passando a mão pelos fios do meu cabelo.

— Só queria que ele estivesse aqui. — disse, sentindo algumas lágrimas em meus olhos.

— Eu também, meu amor. — minha mãe deixou sua xícara na mesa de centro, assim podendo me envolver em um abraço. — Mas às vezes temos que deixar o passado para trás. 

— Como assim? — questionei, com a voz abafada pelo seu abraço.

— Eu também pensei que não iria superar a perda do seu pai. Mas eu precisei superar, precisei me desprender do passado, para seguir com a nossa vida. — ela disse, levantando meu queixo delicadamente, após nos soltarmos. — Se eu tivesse ficado presa ao passado, não estaríamos aqui hoje. Quintrell pode não ser seu pai, Zoe pode não ter nosso sangue, mas somos uma família. 

— Eu sei, mãe. Eu adoro o Q. — afirmei, enxugando as lágrimas em minhas bochechas. — Só que ele nunca vai preencher o vazio que o meu pai deixou.

— Ninguém vai. — minha mãe disse, convicta. — E aceitar isso é o primeiro passo para se permitir superar a perda dele. 

As suas palavras era duras de engolir, mas eu sabia, dentro de mim, que ela estava falando a verdade. Após o momento sentimental que compartilhamos, nossa atenção voltou às nossas xícaras de café, que bebemos em silêncio. Quando fui até a cozinha para deixar minha xícara na pia, pude ver Quintrell brincando com Zoe no quintal, através da janela. Ver os dois dividindo um momento juntos não só evocou memórias da minha infância, quando meu pai brincava comigo no quintal, mas também ilustrou perfeitamente as palavras que minha mãe dissera há alguns minutos: somos uma família. 

Subi para o quarto, na intenção de tirar os pensamentos sobre meu pai da cabeça. Normalmente, dormir seria a solução de minha escolha, mas certamente não seria nada fácil, depois de uma xícara de café preto. Acabei recorrendo à minha melhor amiga, que sugeriu que assistíssemos à um filme em ligação. Bianca perguntou sobre o lance com Justin durante o filme, mas evitei o assunto e ela respeitou. Era outro pensamento que eu só queria afastar da cabeça naquele momento. 

No dia seguinte, toda a escola parecia ter sido dominada pela expectativa para o jogo que aconteceria naquela noite. Nos corredores, além das faixas em apoio ao time de futebol americano, era possível ver muitos alunos comentando sobre a partida, alguns até vestiam camisas verdes estampadas com a frase "Go Gators!". Avistei Chester caminhando pelo corredor, acompanhado de um garoto, que a julgar pela jaqueta verde que vestia, deveria ser seu companheiro de time. Os dois atraíam olhares e recebiam palavras de apoio a cada passo que davam. Optei por ficar em silêncio e voltar meu olhar para o armário quando passaram por mim.

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