Aprendi a amar-me

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Dor.

Dor agoniante, que invade a minha alma e me abraça nas noites solitárias.

Dor crua que me inunda e me joga no chão.

Se a minha dor tivesse nome, teria o teu.

Se tivesse face, teria a tua. Teria os teus olhos magnéticos, os teus lábios rosados, o teu cabelo desalinhado e a tua voz doce.

Essa dor toma conta da pessoa que já fui uma vez e conheci. Ela vem como ondas, primeiro trazendo lembranças, depois me afogando na inquietude dos meus sonhos.

Sempre estarás em minha mente e todas nossas más decisões que me sufocam irão comigo para o túmulo.

Dois anos. Dois anos e eu agarrei-me aos pequenos pedaços do que éramos, sei que já fomos muito longe, mas vai com calma, porque dói.

Não me deixes padecer e não me jogues fora.

Já fui alguém com dignidade e graça, não me lembro quando, passou tanto tempo e agora estou perdendo minhas estruturas sem sua presença, sem seus abraços frios.

Se fores me deixar, mostra-me compaixão, vai aos poucos, não de uma só vez. Desilude-me aos poucos, porque poderei não aguentar se te fores embora agora.

Fecho os olhos e lembro de quando éramos jovens e apaixonados.

— Qual é o teu maior sonho? — Perguntei.

— Ter tudo o que quero. — Ele continuou deitado com os olhos fixos no teto, como se a sua mente estivesse bem distante daqui.

— "Tudo" é muito vasto. Não é possível ter-se tudo. — Disse eu.

— Eu sei. Por isso é que é um sonho. — Sorriste ao olhar para mim. Eu sorri de volta e deitei-me no teu peito, ouvindo a tua respiração misturada com os batimentos do teu coração.

—E o teu? — Perguntou ele.

Eu devia ter respondido, que ele ficasse para sempre e que nunca partisse o meu coração, mas em vez disso respondi:

— Não tenho grandes sonhos. Talvez um dia terei, mas o agora é suficiente.

Não consigo impedir minhas pernas de fraquejarem, agarro-me á dor de te perder, porque ela me acalenta nas noites frias.

Só tenho uma pergunta, um nó havia se instalado na minha garganta faz tempo.

— Quando foi que deixaste de me amar? — Eu não esperava uma resposta, a decisão já estava tomada, e a certeza de que nada mudaria veio quando olhaste para mim uma última vez, antes de sustentares uma das malas e abrires a porta.

Você foi embora e deixou meu coração ferido morrendo de dor

Você foi embora me deixando sozinha, mais uma vez.

Prometes-te me o mundo com promessas vazias e eu acreditei.

Apaixonei-me por palavras falsas e coloquei-te em primeiro lugar.

Queria que me amasses e preenchesses o meu vazio.

Invadiste a minha alma e me destruíste, queimando todo o meu ser com as chamas que tu mesmo lançaste.

Desdenhaste os meus sentimentos porque eles não te pertenciam. O meu coração era teu, mas o teu nunca foi meu. Eu me entreguei por completo, mas não foi o suficiente, nunca seria. Todos os sinais estavam à vista e eu ignorei-os, pela simples crença de que um dia tudo seria diferente e voltarias a amar-me.

Quando foste embora eu me perdi e meu corpo se quebrou por dentro.

Porque eu só queria ter você aqui, mas você jogou o meu coração no lixo e nem se importou.

Não pense que te odeio. Não te odeio, nem um pouco, não conseguiria mesmo que tentasse.

Mas acontece que, eu precisei te perder, para aprender a amar-me e preencher o meu vazio, um vazio que só eu conseguiria preencher.

Levou um tempo para eu me encontrar e perceber que minha felicidade não dependia de você, e nem de ninguém, minha felicidade só depende de mim.

Então, obrigado.

Por Adriana Mussagy

Contos para se inspirar: Porque a vida não é o bastanteOnde histórias criam vida. Descubra agora