Acho que te amo

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Foi um dia agitado quando conheci Lisa. Dizem que não existe mais amor à primeira vista, alguns dizem que nunca existiu, mas acho que essas pessoas apenas não se apaixonaram ainda.

Foi naquela manhã de outono, quando as folhas das árvores já começavam a cair e a brisa fria da manhã que por vezes se estendia pelo resto do dia me arrepiava os cabelos, que encontrei a garota mais linda que alguma vez havia visto em toda a minha vida, ela tinha cabelos longos cacheados, pele parda, era baixa e seu sorriso largo era cativante. Neste dia recebíamos novos vizinhos, Lisa e seus pais estavam se mudando para uma casa grande e antiga que ficava ao lado da minha, era uma casa que me dava arrepios, não me entenda mal, não era só eu que me assustava. Mas, naquele dia, eu estava disposto a entrar naquela casa apenas para poder chegar mais perto daquela garota que mexeu comigo assim que bati meus olhos nela.

Mais tarde naquele dia, enquanto eu assistia TV ouvi uma batida na porta, e minha mãe foi atender, logo ouvi vozes no saguão de entrada, uma grave e grossa, masculina, uma alegre, feminina, e se destacando por entre elas uma voz doce, eu poderia muito bem ouvir aquela voz para sempre. Minutos depois nossos novos vizinhos entram na sala de estar, alegando querendo conhecer a vizinhança, e minha mãe os convida para entrar.

Não tirei os olhos da garota, e para minha imensa alegria ela também não os tirou de mim. Depois de feita as apresentações e do jantar, minha mãe me pede:

— Pedro, por que não vai dar um passeio com Lisa? Mostre o bairro para ela.

Olhei para a garota que apenas assentiu, sai de casa, e ela me acompanhou, caminhamos em silêncio pela rua por alguns minutos, a alguns centímetros de distância, até que um barulho nos assustou. De repente ela estava muito próxima e mim segurando meu braço com os olhos arregalados.

— O que foi isso? — Perguntou com aquela voz doce agora modificada pelo medo.

— Deve ter sido um gato. — Falei para tranquiliza-la, e em um impulso segurei sua mão, um gesto de coragem de minha parte. Ela pareceu se sentir mais segura.

Paramos em frente a sua casa e ficamos ali a observando, até que um barulho do lado de dentro nos sobressaltou. Agora, eu também estava nervoso.

— Diga-me por favor que você tem um irmão mais novo ou um bicho de estimação.

— Não, não tenho. — Sussurrou ela, agora tremendo.

Tudo aconteceu rápido demais, um farol se acendeu no fim da rua e um trovão ecoou no céu, em um segundo nos estávamos parados, no outro estávamos correndo feito loucos. Para piorar a situação uma chuva densa começou a cair e em segundos estávamos encharcados.

Paramos ofegantes na ponta da rua, ambos com as mãos nos joelhos procurando ar depois da corrida longa.

— O que diabos... — Começo, mas sou interrompido. Uma figura com capuz preto aparece a nossa frente, a cabeça baixa, sua chegada foi silenciosa, não a escutei. A figura abriu a boca para falar, e sua voz era fria.

—Você garota. — Fala se dirigindo a Lisa. — Saia de minha casa, ou sofrerá as consequências. Ouço um soluço de Lisa e vou até ela e a tomo em meus braços, não tenho como nos proteger daquilo, mas tentarei.

De repente ouço risos vindo dos dois lados da rua e o grupo de garotos imbecis de meu bairro aparecem se acabando de rir. A figura baixa o capuz e reconheço o líder.

Você devia ter visto a sua cara, garoto. — Fala o garoto — buuuuu o pedrinho está com medooo. — Fala levantando os braços em uma tentativa idiota de parecer assustador.

— Vaza daqui Gabriel! — Eu grito com raiva, eles saem ainda rindo. Olho para Lisa que agora esta mais tranquila, no entanto constrangida, eu não poderia culpa-la, eu mesmo estava frustrado.

Peguei sua mão e caminhamos de volta para casa, num silêncio confortável, apenas o barulho da chuva que ainda caía. Paramos perto da porta de minha casa, a olhei e idealizei tudo o que queria falar, era agora, ou nunca.

— Foi um grande susto.

— Sim, foi.

— Lisa, você acredita em amor à primeira vista? — Pergunto quase em um sussurro.

— Sempre acreditei, mas nunca o havia comprovado como hoje.

Surpreso com suas palavras fico calado, a observando, até que ela pergunta:

— Por que?

— Porque acho que te amo. — Falo sem rodeios.

— Eu também acho.

— Só a uma maneira de descobrir.

Aproximo meu rosto do seu, até que apenas um centímetro nos separe. Sinto as gostas de chuva caírem em nossos rostos e nossa respiração ofegante, a sensação de seus lábios úmidos encostados nos meus foi a melhor que já senti.

Ah, aquilo daria uma bela história de amor.

Por Joana Alves

Contos para se inspirar: Porque a vida não é o bastanteOnde histórias criam vida. Descubra agora