Ao cair da noite

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Alexa Rodriguez costumava gostar do Halloween, quando criança, sua mãe fazia tranças em seu cabelo — uma em cada lado — colocava um chapéu pontudo em sua cabeça para completar sua fantasia de bruxa e a dava um beijo de despedida. Mas como qualquer pessoa, ela cresceu e seus gostos mudaram.

E agora não haviam mais beijos ou sorrisos.

        Sob a luz falha de um poste, estavam Alexa e James, esperando Harry e o pequeno Tommy chegarem. Ela usava a mesma roupa do Halloween passado, a bochecha e as pálpebras cobertas pela maquiagem borrada e o vestido curto de noiva respingado de vermelho. James olhava distraidamente para os próprios sapatos sujos de terra, ele deveria ser uma cópia fiel de Charles Chaplin, silencioso, tímido, com as mãos no bolso e um chapéu côco na cabeça.

— Está frio essa noite — Disse ele.

— Todas as noites em Mercyville são frias. — Alexa respondeu. — Sinto falta das praias da Califórnia — Sorriu, lembrando do clima quente e sereno, de quando seu pai a levou pouco antes de ficar doente.

— Você tem sorte — Revirou os olhos, sorrindo de volta. — Eu nunca nem pude sair de Mercyville.

— Essa cidade é uma droga.

— A cidade até que é legal — James retrucou — O que a torna podre são as pessoas.

       Alexa concordou, não era exagero ou lamúrias adolescentes, era infelizmente a mais pura verdade. Não havia ninguém naquela rua onde estavam, dificilmente uma alma viva sequer pediria doces ou travessuras.

Haviam abóboras mal esculpidas do lado de fora das casas e pouca iluminação no interior delas, o único que se aventurou a por um espantalho no quintal foi Sr. Barnes, que ainda assim poderia ser considerado um homem desprezível, tinha um cabelo perfeitamente arrumado e um bigode impecável, mas tinha uma índole inegavelmente cruel.

        Alexa e James lembravam perfeitamente de um verão, há muito tempo atrás — quando ainda eram jovens e inocentes — de estarem voltando de seu Clube Secreto quando acabaram presenciando o homem tentando envenenar o gato da vizinha.

Ninguém acreditou neles quando tentaram contar, nem mesmo seus pais, Sr. Barnes era um homem tão educado e prestativo para os adultos, que às vezes se perguntavam se eles fingiam não ver quando ele era impiedoso e cruel com uma criança.

As pessoas em Mercyville eram boas nisso, em perdoar o imperdoável.

— Lá estão eles — Avisou James, olhando para as duas figuras que se aproximavam.

Harry, que vestia uma fantasia de esqueleto e tinha em mãos uma máscara sinistra de porcelana, e o pequeno Tommy, que segurava sempre a mão do irmão mais velho, estava coberto por um lençol branco com dois buracos para os olhos.

— Desculpem a demora — Disse Harry — Tommy não queria pedir doces esse ano.

— Não desanime, Thomas — Alexa tentou consolá-lo, ela era a única que não o chamava pelo apelido. — Esse é nosso último Halloween.

        Aparentava ser um menino de 10 anos que quase nunca falava, antigamente, ele costumava segui-los para onde quer que fossem. Adorava ir ao Clube Secreto com os três — um armazém velho e abandonado perto da casa de Harry, esse era o lugar onde eles se reuniam, seja para jogar Dungeons and dragons ou xingarem os babacas da escola que implicavam com eles.

E Bryce Evans era o pior de todos

        Eles olharam ao redor, sem crianças, sem fantasias, apenas os quatro seguindo juntos por todo o bairro, Tommy cantarolava uma música repetitiva de um comercial antigo de shampoo e Harry relembrava sobre seu fanatismo pelos quadrinhos do Batman, Alexa sentiria falta de como as coisas eram, ela, Harry e James juntando o dinheiro da mesada para gastar tudo em cd's de filmes antigos e pizza no fim de semana.

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⏰ Última atualização: May 04, 2021 ⏰

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