Capítulo 4

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Pov Gerard

Escutamos muitos álbuns de vários estilos e bandas diferentes. Frank também me mostrou seus CDs do Green Day, Misfits, Aerosmith e mais alguns outros. Não imaginava que tínhamos tantos gostos em comum, pensava que seria o único a gostar dessas bandas por aqui. Na verdade, nem imaginei direito o que a grande maioria das pessoas aqui poderiam gostar, afinal, nunca estive na reabilitação antes. O ponto é que: Frank me acolheu tão bem em seu quarto, que o clima já não estava mais pesado, parecíamos estar nos entendendo muito melhor do que realmente imaginei.

– Eu tenho muitos outros Cds. – Revelou Frank, casualmente. – Também tenho vários livros e revistas em quadrinho, estão ali – Ele então estirou o dedo com as unhas ligeiramente roídas e o direcionou para uma das divisórias do seu armário exatamente idêntico ao meu. – Pode olhar o que quiser.

- Quadrinhos? Não sabia que você também gostava. Eu sou viciado neles. - Assumi com mais entusiasmo do que desejei, enquanto andava até o armário para conferir os mencionados gibis. - Sabe, eu fiz um quadrinho uma vez... - Seguro os puxadores firmemente e então abro as portas, revelando cada item armazenado no interior do móvel.

– Jura? Sobre o que é a história? –Frank pergunta bastante empolgado.

- Era sobre um casal de ladrões, eles morrem em um tiroteio e o marido vai para o purgatório... - Passei a lhe contar a história animadamente enquanto percorria os olhos atentamente a cada revistinha, pegando uma ou outra em mãos para folhear. - Lá ele descobre que para encontrar sua esposa ele precisa... Frank, o que é isso?

Pov Frank

Levanto apenas metade do meu corpo, apoiando o peso nos braços para conseguir ver o que Gerard tinha em mãos, logo notando que se tratava de uma revista pornográfica. Havia uma pequena fenda aberta entre seus lábios e também expressão completamente chocada plantada em sua face, como se aquilo fosse a coisa mais criminosa do século.

– Ora, Gerard, não é óbvio que é uma revista pornô?! – Um riso involuntário escapa por minha garganta antes de eu voltar a me deitar com os braços por baixo da cabeça – Sei que é meio primitivo, mas o que posso fazer? A internet aqui é proíbida. – Digo em tom claramente zombeteiro. Eu de fato não usava nada daquilo para o meu próprio prazer.

- Talvez eu até acharia isso normal se não fossem fotos de homens - Gerard faz uma expressão de desgosto - isso é nojento, como alguém consegue gostar desse tipo de coisa?

Levo alguns segundos para conseguir processar o que acabei de ouvir, recusando-me a acreditar que ele de fato estava falando sério.

– Bom, eu consigo gostar, algum problema? –me sento na beira da cama apenas fitando a expressão de repulsa que se formava pouco a pouco em sua face.

- Eu não tenho nada contra seus gostos, só acho estranho.

– Gerard, você está abismado desse jeito pelo fato de ser uma revista pornô, ou por ser uma revista com fotos eróticas de homens?

- Acho que a segunda opção, nunca vi nada assim. Você não prefere uma com mulheres?

– Eu prefiro que você me desse uma bronca por possuir conteúdo pornográfico, afinal de contas, todos sabemos que esse tipo de indústria é desumana e nojenta... –levanto-me para conversar frente a frente com Gerard – E antes que você questione o porquê de eu tê-las já que acho errado, quero que saiba que elas eram de alguém especial para mim, alguém que me deixou de presente antes de receber alta da clínica – tomo a revista das mãos de Gerard rispidamente e abro na contra capa, onde estava a dedicatória deixada por McCracken, aquela que eu havia lido e relido incontáveis vezes.

"Iero, não sou culto e não costumo ler muito, como você mesmo já sabe. Gostaria de te deixar um livro como lembrança, mas acontece que eu sequer tinha um para contar história, então deixei a você o mais próximo que encontrei de um livro em minhas coisas. Espero vê-lo em breve, e torço para que seja em algum de meus shows (quando eu finalmente tiver um para fazer).
De: seu amigo mais bonito, estiloso, talentoso e filho da puta, McCrápula."

- Frank, me desculpa... - Gerard desviou seu olhar como se estivesse sentindo a vergonha lhe socar no estômago - Eu não sabia que significava tanto pra você, só fiquei um pouco surpreso, imaginando que tipo de criação você teve, não sei dizer.

– Sabe, minha criação de fato não foi das melhores, considerando que praticamente tive de aprender tudo sozinho depois que a única pessoa com paciência para me ensinar sobre a vida, acabou demitida pela minha própria mãe. A mesma mãe que não ia em minhas reuniões da escola, que não guardava os desenhos que eu lhe fazia, que não prestava nem atenção se eu faltasse às aulas durante uma semana ou se passasse três dias trancado no quarto sem ver a luz do dia. Entretanto, eu lhe garanto, Gerard, que as coisas boas que eu sei foram ensinamentos de uma pessoa incrível, que esteve presente em minha vida durante oito anos e que foi acusada de roubo SEM PROVAS... – O estrondo do soco que desferi no armário fez Gerard saltar e retroceder um passo por conta do susto – Sendo obrigada a me deixar sozinho, com pais que sequer faziam questão de esconder o quanto eram infelizes por eu ter nascido!

- Eu... Frank, eu... - Gerard desistiu de tentar se explicar assim que andei até a porta do quarto, deixando nítido o quanto não desejava mais sua presença ali.

– Vá para o seu quarto, Gerard, estou cansado agora, quero dormir.

Pov Gerard

Encarei Frank que estava com uma expressão irritada, me mandando sair do quarto. Sabia que tinha feito coisa errada, não deveria ter falado certas coisas ainda que fossem o que eu pensava.

Sem contestar, sai de seu quarto e voltei para o meu a passos vagarosos. Me perguntava se ele esqueceria tudo aquilo no dia seguinte ou se iria parar de falar comigo para sempre. Não que fosse me fazer grande falta, mas é claro que que eu de fato não desejava inimizades assim tão rápido.

Empurrei a porta do meu próprio quarto e adentrei o recinto. Ainda pensante, fiz minha higiene, troquei de roupa e peguei um livro, preparado para finalmente me deitar. O livro foi totalmente em vão, claro. Por mais que tentasse, não conseguia me concentrar na leitura por nada. Talvez tenha sido uma péssima escolha utilizar o tempo para refletir sobre toda essa discussão e em como eu arranjei confusão logo de cara. Não soube ao certo se aquele incômodo dentro de mim era algum tipo de remorso que eu precisava apenas ignorar e seguir em frente, ou se aquilo me levaria cedo ou tarde a tomar alguma atitude um pouco mais educada.

Depois de um tempo ponderando, senti o cansaço me atingir e em meio a pensamentos conturbados, finalmente me permiti cair no sono.

You're my medicineOnde histórias criam vida. Descubra agora