Capítulo 23

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Pov Gerard

    Faziam cinco dias que Frank tinha voltado para casa... Foram cinco longos dias sem muita emoção, eu apenas vivia no automático, sem nenhuma companhia a não ser Linda e as vezes Ray, o filho estagiário do psicólogo. Minha aparência era deprimente, meus olhos possuíam olheiras enormes e escuras, eu estava mais pálido que o normal, parecia que eu estava doente... Bem, talvez eu estivesse.

     Pela primeira vez em seis meses eu senti falta dos meus remédios e cigarros, isso nunca tinha acontecido antes. Foi na última madrugada, eu estava sem sono e comecei a dar indícios de uma abstinência. No fim eu simplesmente não dormi, não tive um minuto de paz.

     Agora era hora do almoço, eu havia pulado o café da manhã "sem querer" porque me distrai com meus próprios pensamentos enquanto lia o mesmo livro pela terceira vez. Talvez pareça um pouco estranho para alguns, existe uma infinitude de livros na biblioteca e eu só lia aquele do Drácula, aquele que Frank me mostrou da primeira vez que fomos pra lá. Querendo ou não, esse livro faz eu me sentir mais próximo de Frank, assim como o CD que ele me deixou e alguns discos também.

     Dei de cara com Linda no caminho para o refeitório, ela me cumprimentou rapidamente e seguiu para o lado oposto do que eu estava indo. Cheguei ao lugar desejado e novamente passei o almoço sozinho, não por falta de gente para interagir, eu só não estava afim de conversar ou fazer amizade com ninguém, queria ficar na minha. As outras pessoas pareciam entender, elas raramente tentavam falar comigo ou forçar algum tipo de amizade.
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   4:30 PM

     Aqui estava eu, na terapia em grupo, apenas encarando um ponto fixo qualquer e esperando a hora passar magicamente. Antes eu achava essa terapia uma ótima ideia, algo que iria me ajudar, mas agora eu não tenho a menor paciência para ficar nessa roda escutando as pessoas falarem, isso me irrita profundamente, eu só quero sair.

    – Gerard... – A voz do psicólogo me tirou de meus devaneios. – Gostaria de compartilhar algo conosco? – Eu gostaria? Não, acho que não, eu só queria que aquilo acabasse logo.

    – Desculpe, não tenho o que compartilhar hoje. – O doutor não questionou, apenas acenou com a cabeça e murmurou um "tudo bem", logo fazendo a mesma pergunta para outra pessoa.

     O tempo passou, bem devagar, mas passou. Agora eu podia ir pro meu quarto ou pra algum outro lugar, só queria ficar sozinho por alguns minutos, tentar me distrair ou descansar.

    A primeira alternativa foi por água abaixo, uma das funcionárias da limpeza estava limpando o corredor onde ficava meu quarto, ninguém podia passar por ali. Dei meia volta e fui para o jardim, talvez um pouco de  ar fresco fosse fazer bem para mim. Dessa vez eu fui para o jardim da frente, aquele com bancos e um arbusto de rosas em um lugar específico onde eu gostava de ficar. Fiquei por ali mesmo, imerso em pensamentos diversos, e no fim todos eles se voltavam para a mesma pessoa...

Frank.

     Será que ele está bem? Sei que a família dele não é das mais carinhosas e presentes, eu espero que eles não façam nada de ruim com Frank... Merda, como eu queria que ele estivesse aqui. É agonizante não poder saber como a pessoa que você mais ama está, me sinto perdido, eu só queria estar lá para ele e saber se tá tudo bem. E se ele estiver mal? Eu queria estar lá para o confortar, dizer que vai ficar tudo bem e depois conversar sobre algo até que ele esqueça todas as coisas ruins que o aflige. Eu precisava dele... E talvez ele precisasse de mim também.
Droga, quando foi que eu me tornei tão dependente de alguém? Eu estava ficando louco? Eu precisava me acalmar, precisava dos meus remédios.

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