Eu te odeio

439 42 31
                                    

oi, recomendo "idontwannabeyouanymore" da billie pra dar a vibe da cena, é isso

boa leitura pra vocês!
__________

boa leitura pra vocês!__________

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

19:00 pm
09.05.19
Quinta-feira

Finn havia faltado praticamente a semana inteira. Era quinta-feira e ele ainda não havia pisado na escola e nem respondia o celular, isso destinou Sadie para casa dos Wolfhards depois da aula. Quem atendeu a porta foi Mary, disse que o filho estava no quarto, não havia saído de lá o dia inteiro, mal comia. O tom de preocupação da mulher foi de partir o coração.

Deu três batidas na porta do quarto e então Finn gritou: "entra".

-- Oi -- ela disse.

-- Oi -- ele respondeu, estava olhando para a janela. Apagou o cigarro no batente da janela e se virou para a amiga.

-- Faz um tempo.

-- Aham.

-- Jack me contou, me pediu pra conversar com você porque ele já cansou -- o cacheado revirou os olhos -- Você deveria parar.

-- Não tô querendo.

-- Isso não tá só prejudicando tua saúde Finn, tá prejudicando tua personalidade, tá te afastando da gente, as coisas não podem continuar assim.

-- Vocês nem devem estar sentindo falta.

-- Claro que estamos. Essa semana inteira, por todos os dias, eu precisei de você, não mais do que você precisa de mim nesse momento.

-- Quem disse que eu preciso de você? -- a garota revirou os olhos.

-- É só se olhar no espelho, tá tão pálido que parece algodão, e tão magro. Sua mãe me disse que mal está comendo.

-- Ela exagerou -- respondeu de uma maneira ríspida, como estava sendo por toda a conversa. Ela estava tentando ao máximo não se deixar levar pelo que ele dizia, não estava em seu juízo.

-- Tenho certeza que não, porque te conheço, por isso sei que precisa de ajuda agora mais do que nunca. Isso é sobre o quê? Por que você tá fazendo isso consigo mesmo? É por causa da Millie?

-- Meu mundo não gira ao redor de Millie Bobby Brown -- estava mentindo descaradamente naquele momento. Fazia tanto tempo que não dizia o nome dela, pareceu tão amargo em sua boca.

-- Então sobre o que é isso? Eu só quero te ajudar!

-- Eu já disse que não quero ajuda.

-- Então o que você vai fazer quando tiver viciado? Quando tiver a porra de uma overdose? Você vai querer ajuda? -- os dois ficaram em silêncio-- Você tem que acordar Finn, vai reprovar na escola se não começar a estudar logo, os assuntos desse ano tão difíceis demais. Imagina quão decepcionados seus pais vão ficar se você reprovar, não vão mais te deixar sair em turnê com a banda. Imagina o que a mídia vai falar de você se descobrir.

-- Eu sei até a manchete! "Jovem cantor de dezessete anos se droga pra caralho pra cantar músicas sobre sua ex namorada que seguiu em frente, tem um relacionamento estável e tá pouco se fudendo para ele". -- a garota revirou os olhos -- Sadie -- disse depois de um longo suspiro -- Por quanto que eu não esteja pensando nela, eu tô bem, e esse é o único jeito de não pensar nela.

-- Não é não! Assim você tá só ignorando o que sente. Isso tá bem longe de ser superação Finn.

-- E o quê você sabe sobre superação? Nunca teve que superar nada. Nunca superou Aidan e Chris porque nunca gostou deles de verdade, nunca superou o Noah e agora vocês vivem o romance perfeito de histórias clichês.

-- Eu posso não saber muito mas-

-- Você não sabe de nada! O melhor que pode fazer é sair, agora mesmo.

-- Mas-

-- Sai! -- gritou e Sadie deu um pulo pelo susto. Finn não era uma pessoa que gritava. Os olhos dela marejaram, as mãos tremiam, e se segurou pra não colocar aquela angústia toda pra fora em forma de lágrimas.

[play: idontwannabeyouanymore - Billie Ellish]

Saiu do quarto e correu pelas escadas, não parou de correr até seu carro. Desabou ali mesmo. Odiava que gritassem com ela, e odiava ver seu melhor amigo daquele jeito e não poder fazer nada. Se tivesse ido na turnê com Finn como ele havia pedido, nada disso teria acontecido, ele estaria bem e sóbrio, muito diferente daquele Finn a sua frente. Era culpa dela, ela que deu a ideia de Millie ir a Nova Iorque, se ela não tivesse aberto a boca, nada disso teria acontecido.

Tentou se acalmar respirando fundo algumas vezes, e quando as lágrimas foram parando de cair e sua visão não estava mais turva, dirigiu até sua própria casa. Sabia que estaria sozinha lá, sua mãe estava jantando com as amigas e Jacey havia ido dormir na casa de uma amiga da escola.

Correu pelas escadas desesperada para chegar até seu quarto. Ficou de frente do espelho, o cabelo estava todo bagunçado, o rímel borrado e os olhos vermelhos.

-- Eu te odeio -- sussurrou para si mesma -- Eu te odeio! Como consegue ser tão burra? Tudo tava indo tão bem, tudo estaria melhor pra todo mundo se não fosse por você! Todo mundo estaria feliz! Sabe porque o grupo tá assim? Por sua causa! É porque você tá nele! Sua idiota do caralho! -- ela gritou e seu corpo tremeu.

Respirou, respirou até não ter o que fazer. Passou as mãos pelos cabelos.

-- É minha culpa, é minha culpa! Tudo isso! Toda essa merda! Desde Leblanc até agora. Se eu não fosse burra, nunca teria me apaixonado por um menino perfeito igual ele, Leblanc nunca teria surtado e feito tudo que fez, se eu fosse uma boa filha meu pai ainda estaria aqui, se fosse uma boa irmã, Caleb me responderia, se eu fosse uma boa amiga, Finn e Millie estariam juntos, e se eu fosse uma boa namorada, estaria feliz por ele ir pra Havard! -- gritou tão alto que sua garganta latejou -- Você não merece porra nenhuma! -- gritou enquanto apontava para si mesma no espelho.

Estava tão cansada de sempre fazer tudo errado, de dizer as coisas erradas toda vez que abria a boca, de estar sempre no lugar errado, de tomar as atitudes erradas, de estar com medo o tempo inteiro de perder tudo por não merecer aquilo.

Em sua cabeça acontecia tanta coisa naquele momento que mal podia se ouvir.

-- Se eu não tivesse escrito aquelas cartas, ele estaria com alguém que realmente pode fazer ele feliz -- resmungou.

Seu corpo foi ao chão, encostado na parede, de frente do espelho. Abraçou suas próprias pernas e escondeu o rosto entre elas. Seu jeans azul estava encharcado.

Podia terminar com Noah e ele então estaria livre dela, arrumaria alguém melhor em segundos, com todas aquelas meninas lindas que o encaravam quando passava. Podia terminar a amizade com o grupo, usar uma desculpa de que precisa de um tempo, e assim eles não irão mais procurá-la e então não ferraria mais nada. Iria para a faculdade em pouco tempo, então deixaria de ser um fardo pros pais. Poderia deixar de encher o saco de todos, exceto uma pessoa: si mesma. Passaria o resto de sua vida se olhando no espelho e olhando tudo que mais odiava, sentindo nojo de cada parte de si, daquele corpo que para ela era horrendo, com o mesmo cabelo da cor que mais odiava, com aquelas malditas sardas que queria arrancar da pele, não importa quem tirasse da sua vida, ainda seria ela.

Gritou, um grito estridente e desesperador, um grito de dor que custou todo o ar dentro de si.

Não importa o que fizesse, ainda seria o erro.

As cartas de Sadie Sink Onde histórias criam vida. Descubra agora