Capitulo Treze

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Louis’ POV

O céu parecia mais azul, o ar estava mais leve, eu estava mais sorridente. Isso não seria nada estranho se, por um acaso eu não estivesse indo para mais uma radioterapia. Meu corpo estava visivelmente mais debilitado, mas minha alma resplandecia. Hoje ao acordar, não me ajoelhei no chão. Quando olhei discretamente para um cara na rua, não me recriminei. Eu estava finalmente aceitando quem eu era.

Incrível como poucas semanas podem mudar a sua vida de forma fora do normal.

Eu costumava ser só mais um cristão homofóbico, que pensava ser o detentor de toda verdade e moral do mundo, só por colocar uma bíblia debaixo do braço todos os dias e orar, pedindo perdão pelos meus pecados risíveis. Eu era digno de pena, e não via isso. Agora, analisando meus pais, eu podia perceber o porque de ter sido daquele jeito a minha vida inteira.

Minha mãe era uma ótima esposa e mãe para os filhos, mas tinha a mania irritante de comentar sobre a vida de todo mundo e julgar os passos de cada vizinho ou pessoa remotamente próxima. Enquanto ela pudesse, falava sobre como a mulher que morava em frente estava gorda, ou como ela estava mal vestida. Eram sempre comentários depreciativos, que acho eu, Deus não iria gostar.

Meu pai idem. Era um homem reservado e que tinha lá suas ressalvas com a família, mas que vivia para reclamar de tudo e todos. Nada nunca estava bom, ninguém nunca estava certo e somente ele era digno para apontar os defeitos das pessoas, nunca o contrário.

Antes aquele tipo de coisa não me irritava, porém ultimamente eu andava me sentindo diferente, e não era somente no tocante a minha sexualidade. Desde a minha conversa com Harry, pensamentos sobre liberdade não paravam de aparecer em minha mente como um grande flash. O problema era que eu estava doente e não podia colocar meus planos em ação; não ainda.

- Louis, você está bem? – mamãe perguntou pela milésima vez, estranhando meu sorriso de canto de boca.

- Estou ótimo – respondi, já me cansando daquilo.

- Lembra que estamos indo para o hospital, certo? – Jay perguntou novamente, como se duvidasse de minha sanidade.

- Claro, mãe – falei, começando a achar graça naquilo – Só cansei de fechar a cara para o mundo e de reclamar de minha doença. Hoje eu acordei vivo e isso que interessa – concluí, fazendo-a calar e trocar olhares assustados com meu pai, que dirigia em silêncio até então.

- Isso é... bom – mamãe respondeu, aparentemente sem saber o que fazer e eu sorri para ela. Sim mãe, aquilo era bom. Era ótimo.

Continuamos a viagem calados, enquanto eu analisava a paisagem bucólica das estradas de Doncaster. Se tinha uma coisa que não podiam reclamar da Inglaterra, eram as estradas serpenteadas por árvores e plantações verdes, que davam um ar delicioso ao local. Pouco tempo depois nós chegamos ao hospital.

Esperei meu pai estacionar pacientemente, enquanto aguardava com minha mãe do lado de fora do carro, perto da porta de entrada do hospital. Depois de muito brigar com a direção do veículo, papai conseguiu estacionar em uma vaga que normalmente serviria para dois carros. Saiu do carro reclamando, enquanto batia a porta com força, nos fazendo rir.

Fizemos todo o caminho habitual até chegar ao consultório de Harry. Assim que colocamos os pés em sua sala, fomos recepcionados pelo som de seu riso, enquanto conversava com a secretária louca dele. Incrível como ela não ia com a minha cara.

Harry estava parado no balcão, olhando alguns papéis, enquanto ria distraidamente com Amber. Seus cabelos cacheados estavam penteados para trás, formando o gracioso topete, e o estetoscópio estava ao redor de seu pescoço, em cima de seu jaleco minuciosamente branco. Em seu rosto pairava um sorriso travesso, fazendo aparecer suas covinhas, dando-lhe um ar angelical. Senti todo o ar do meu corpo sumir, enquanto focava naquela imagem linda. Harry definitivamente era o tipo de homem que chamava atenção.

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