Capitulo Onze

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Louis' POV

Não sei que merda tinha dado em minha cabeça, mas eu simplesmente havia feito isso. Liguei para o consultório e disse que estava me sentindo muito mal (o que não era de todo mentira), e que precisava falar com o Dr. Styles urgentemente. A secretária com cara de louca dele tentou me convencer a ir no dia seguinte me consultar, mas finalmente me passou o número privado do Styles.

Foi quase automaticamente que escrevi a mensagem, tremendo dos pés a cabeça, mordendo os lábios de forma ansiosa. Minha mãe surtou comigo quando ficou sabendo que eu e Eleanor tínhamos terminado, mas culpou a doença por aquilo. Ainda bem – não consigo nem me imaginar contando a verdade para ela.

E a verdade, qual é? Sou gay.

Gosto de caras.

Alguma coisa havia quebrado de forma irreparável em mim. Eu não conseguia mais sentir aquela culpa, a dor, a me sentir como um monstro. Eu sabia que de alguma forma aquilo era errado, afinal, eu fui criado para pensar daquele jeito. Mas o que eu podia fazer? Mais do que ninguém eu sabia que aquele tipo de coisa não se escolhe. Eu não escolhi.

Deitei na cama, enquanto meu olhar se perdia no teto do meu quarto como já era de costume. Minha cara estava um pouco melhor e desde que eu terminara com Eleanor, sentia como se o peso do mundo saísse de minhas costas. Ela havia telefonado para mim algumas vezes, veio em minha casa uma única vez, mas aparentemente já havia percebido que não tínhamos condições de voltarmos a namorar. Aquilo era uma decisão certa, e eu não voltaria atrás.

Passei a mão pelos meu cabelos impacientemente, suspirando frustrado. Styles não me respondera até agora e eu não conseguia fincar meus pensamentos em um lugar só. Imagens dele invadiam meus olhos a todo instante, mas pela primeira vez eu não tentava refreá-los. Apenas queria relembrar qual tinha sido a sensação de beijá-lo, tocá-lo, tê-lo para mim, mesmo que por um curto espaço de tempo. Como eu simplesmente neguei tanto anos aquela realidade? Só com um pensamento como aquele, eu conseguia ficar mais animado do que em dois anos de namoro com Eleanor.

Senti minha garganta doer e fechei os olhos. Como se já não bastasse todo o conflito interno, aquela doença parecia piorar mil vezes toda a situação. Meu corpo já não era mais o mesmo, meus cabelos já não eram tão brilhosos e o meu próprio olhar parecia petrificado. Todos os dias eu notava o quanto minhas roupas estavam mais folgadas, apesar de estar um pouco inchado. Os remédios continuavam sendo tomados e para a minha alegria só faltavam mais algumas sessões de radioterapia. Depois delas, eu faria um novo exame para saber se o câncer havia retrocedido ou não.

A cruz em minha parede nunca pareceu tão assustadora. Foi ali, na frente dela, que eu tinha me aceitado e me descoberto. Ela sabia todos os meus medos e havia presenciado todas as minhas quedas. O pensamento de algo como aquilo poder me observar era, no mínimo, assustador. Não era mais tão reconfortante saber que alguém me vigiava tão de perto.

Hoje eu não orei quando acordei. Continuei parado na cama, apenas conversei com Deus internamente. Notei que aquelas palavras que ecoavam em minha mente eram mais sinceras que todas as orações que fiz ajoelhado ao lado da cama. Porque – agora eu podia notar – antes eu era guiado pelo sentimento da obrigação, do medo. Agora eu orava porque queria ter contato com Deus, não como um chefe, mas como um amigo. Eu não me sentia mais ligado a ele como se minha vida dependesse daquilo. Agora eu batia um papo amigável, com alguém que eu sabia que entendia mais da vida do que eu e que não iria me julgar tanto.

Assim eu esperava, pelo menos.

Não tinha ideia de como falaria sobre isso com minha família - na verdade, se eu fosse bem sincero, eu sabia que jamais tocaria naquele assunto com eles, a não ser que fosse caso de vida ou morte. Não agüentaria ver os olhares de decepção de meus pais, e ter de explicar para minhas irmãs que eu já não era bem-vindo ali. De repente, senti vergonha por todo ato covarde e ridículo que já fiz.

Two FingersOnde histórias criam vida. Descubra agora