Capitulo Quatorze

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Louis' POV

Os últimos dois dias passaram como um grande borrão em minha mente. Eu estava me sentindo melhor, apesar de minha garganta ainda doer um pouco. Podia ser somente minha imaginação, mas eu achava que meus olhos estavam mais brilhantes, assim como minha pele e meus cabelos. Auto-aceitação fazia milagres, pelo visto.

- Você está mais feliz, Lou – Lottie notou, me dando um sorrisinho de lado. Estávamos tomando café e ela ia para faculdade ainda – É bom ver você assim.

- Obrigado – eu agradeci, devolvendo o sorriso. Minha irmã me olhou como se soubesse o que estava acontecendo comigo e balançou a cabeça, ainda sorrindo. Levantou da mesa, me dando um beijo no topo da cabeça antes de sair.

- Amo você – falou, e eu senti meus olhos enchendo de lágrimas. De todas as irmãs, era com ela que eu tinha um laço mais forte. Lottie era a única pessoa daquela família que jamais me julgaria.

Aquele momento ficou martelando em minha cabeça pelo resto da manhã. Alguma coisa havia crescido em mim – talvez a vontade de falar quem eu realmente era para alguém de casa. Lottie ficaria do meu lado, e talvez até me ajudasse.

Olhei para o relógio ansiosamente. Já tinha almoçado e agora estava em meu quarto descansando, esperando a hora de começar a me arrumar. Já era 13h e eu havia combinado com Harry às 15h, no mesmo local de nossa primeira conversa. Mantivemos contato o dia anterior inteiro e ele me confidenciou que estava um pouco triste, já que seu ex namorado havia passado em sua casa e pego todas as roupas. Mesmo que aquilo não fosse de minha conta, eu sentia que deveria tentar animar o homem de cabelos cacheados e fazê-lo esquecer toda aquela dor. Eu sentia que deveria ir com calma com ele, já que Harry havia acabado de sair de um relacionamento sério, e eu ainda estava em meu próprio processo de adaptação, mas ao mesmo tempo tinha uma vontade louca de beijá-lo mais uma vez.

Meu quarto sofrera algumas mudanças nessa semana. Depois de muito discutir com minha mãe, retirei a enorme cruz que ficava em minha parede me encarando todos os dias. Ela surtou e disse que eu estava começando a ficar realmente afetado pelo tratamento e que aquilo era provavelmente culpa de alguma manifestação demoníaca. Tive que respirar fundo e me controlar para não falar bobagem para ela. A bíblia – que antigamente ficava em cima de minha cômoda – agora estava dentro da gaveta da mesma. Eu não estava abrindo mão de minha religião, mas sim tirando as ventas que antes cobriam meus olhos. Eu costumava ser cego, alienado e infeliz. Aquelas mudanças tinham me feito bem, percebia isso.

Ansioso demais para continuar parado, resolvi começar a me arrumar logo ou pelo menos escolher o que usar. Abri meu guarda-roupa e bufei frustrado ao notar que nada que estava ali me agradava. Minhas roupas eram antiquadas, quase pastoris. Definitivamente, assim que voltasse a trabalhar cuidaria daquela parte. Eu merecia roupas novas, é claro. Depois de muito garimpar, achei uma camisa branca com o desenho de dois dedos levantados com a estampa da bandeira do Reino Unido, uma calça jeans skinny perdida e meu casaco preto de sempre. Separei-os cuidadosamente para não amassar nenhuma peça, junto com meu cachecol também preto e os deixei em cima de minha cama. Peguei meu par de all star pretos e coloquei-os em cima de uma cadeira para ter fácil acesso a eles. Sentei na beirada da cama e baguncei os cabelos, olhando o relógio novamente. Ok, já estava na hora de começar a me arrumar.

Corri para o banheiro e tomei uma ducha demorada, lavando atenciosamente cada parte de meu corpo – e isso inclui certas partes. Aproveitei que já estava ali e fiz algo até então impensado para mim: me depilei. Peguei um aparelho de depilação novo e, com cuidado, fui tirando o excesso de pêlos do local. Deus, eu não sabia que era tão peludo. 

Depois de devidamente limpo, corri para fazer a barba – obviamente, com outro aparelho. Meu nervosismo era tão grande que me cortei duas vezes, mas nada que chamasse atenção. Quando terminei todo o processo já eram 14h15 e eu ainda tinha que me vestir. Como já havia separado a roupa e o sapato que usaria, só fiz colocar um perfume e um desodorante, e tentar alinhar meu cabelo. Quando concluí toda aquela atividade, coloquei meu cachecol e minhas luvas, me olhei no espelho: eu estava bonito. Definitivamente bonito.

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