Capitulo Dois

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Harry POV

Eu sou o tipo de pessoas que sempre faz de tudo para propagar o bem. Nasci no meio de uma família bem estruturada, cercada pelo amor de meus pais e minha única irmã, cuja única regra sempre fora a mesma: seja feliz, independente de como leve sua vida. Minha mãe não me criou com base em alguma religião e, mesmo que papai insistisse em levar a mim e minha irmã à igreja às vezes, não fazia aquilo para nos prender ou controlar e sim para mostrar um outro lado da vida. Apesar de crescer sem a pressão para ter uma religião ou seguir alguma crença aos poucos fui perdendo por mim mesmo a credibilidade que tinha em qualquer segmento religioso – deus para mim simplesmente não existe. Minha família não achou estranho, tudo seguiu o seu rumo normal.

Quando fiz 15 anos, dei meu primeiro beijo gay. E quando fiz 17, finalmente me assumi para a família. Talvez esse ponto tenha sido o crucial em minha vida, pois foi o que acabou causando a separação de meus pais: papai simplesmente não pôde conviver com um filho gay em casa. E foi ali, no seio da minha família, que eu senti o quão difícil seria encarar a realidade todos os dias e continuar sendo homem o suficiente para mostrar quem eu era. Óbvio que meses depois meu pai caiu na real e percebeu que, sendo gay ou hétero, eu continuaria sendo o filho caçula dele. Mesmo com o pedido de perdão e as eventuais desculpas que se seguiram após, alguma coisa havia se quebrado entre nós, e entre ele e mamãe também.

Minha mãe.

Preciso dedicar um tempo maior para falar dela.

Pense na melhor pessoa que você conhece e, talvez, ela não chegue ao menos perto do que minha mãe é. Desde pequeno, o sorriso dela é a coisa que mais me acalma no mundo. Quando criança, meu sonho era casar com alguma mulher como ela. Hoje, meu sonho é casar com um homem que desperte em mim tanto amor e segurança quanto ela desperta. Quando eu saí do armário e resolvi me mostrar pra o mundo como eu sou, mamãe foi a que mais me apoiou. Ela brigou pela primeira vez na vida com o nosso vizinho, após ele me chamar de bicha louca. Ela abrigou meu primeiro namorado em casa, após ele se assumir para os pais e ser expulso. Ela trata meu atual namorado como o segundo filho dela. E ela me faz a pessoa mais feliz do mundo somente por existir.

Aí vem a minha irmã. A pessoa mais louca e sem noção do mundo, sem dúvidas. Gemma é minha melhor amiga, alma gêmea e parceira de crime. Foi a primeira a desconfiar de minha sexualidade e a primeira pessoa para quem eu corri quando beijei um garoto pela primeira vez. Ela é a segunda melhor pessoa do mundo.

Mesmo com todos os problemas, percalços, tropeços e dificuldades, entrei na faculdade de medicina com 17 anos, praticamente logo após me formar no colegial. Durante os anos em que estudei medicina, minha mãe descobriu ter câncer na laringe e foi ali que eu determinei qual seria a minha especialização. Eu queria salvar, assim como Dr. Ben fez com minha mãe, todas as pessoas vítimas dessa doença tão escrota. E me formei com todas as honras e pompas que a faculdade permitiu.

E bom, agora estava ali.

Na frente de um escroto, tenho quase certeza, religioso. Com sua blusa de algodão abotoada até a garganta e o cabelo penteado como se a mamãe dele tivesse arrumado. Seu olhar carregado de desprezo e nojo, e sua mãe agarrada em sua mão como se eu fosse um animal perigoso.

É nessas horas que eu agradeço por um dia ter feito yoga.

- Senhor Tomlinson – respondi polidamente, respirando fundo e tentando ignorar qualquer vozinha homicida em minha mente – Vejo que nos encontramos novamente.

- Não ouse falar comigo, sua bicha! – ele vociferou, seus olhos azuis eram duas fendas cheias de raiva. Sua mãe me olhava com igual desprezo e eu não pude não pensar no que minha mãe faria se a visse me olhando daquela forma – Eu exijo ser tratado por outro médico!

Two FingersOnde histórias criam vida. Descubra agora