C. 9 - °Família°

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Família! Não sei o que eu seria se não fosse a minha. No dia em que eu perdi tudo, mesmo sem saber do que estava acontecendo na entrada do aeroporto, Deus me deu uma nova família. É estranho chamar de mãe e pai pessoas que você nunca viu na vida, e, mas estranho é com o passar dos dias você acreditar tanto que eles são teus, ao ponto de esquecer quem são os verdadeiros. De repente você acorda e não existe outras pessoas na sua vida para chamar de família, a não ser eles, os estranhos. Os quais se tornaram tão importante quanto o chão debaixo de seus pés. Apesar de ser criança, o processo de adaptação foi sem dúvidas menos dolorosos depois dos primeiros dias. Ser criança tem o seu lado bom, nos adaptamos a tudo com mais facilidade e com sorriso no rosto o tempo todo, pelo menos durante o dia.

Não sei o que teria acontecido comigo se Deus não tivesse cruzado o meu caminho com a do meus pais. Eles são os pais mais incríveis que eu conheço e sou a pessoa mais sortuda do universo por ter Amy e André. Sem falar dos meus irmãos, avós, tios e primos. Nossa família nunca era como as outras; nossa união tinha um elo verdadeiro, estávamos sempre juntos e brigas entre nós raramente acontecia. E quando acontecia, até quem não estava envolvido sentava no sofá e tinha que ouvir um discurso de horas sobre família, feito por mamãe. No começo todos estavam emburrados, no final às lágrimas estavam deslizando fora do limite dos cílios inferiores, molhando todos os lados das bochechas.

— Família é um laço eterno, então, não deixe ninguém romper esse laço, permaneçam juntos. Se um quiser sair, os demais o puxem de volta. O mundo é frio, extremamente congelante, a família é o cobertor que impede de seu coração ser congelado. Valorize a sua, porque se não, seu coração estará exposto ao frio, com o passar dos dias a aceleração irá diminuir até chegar o dia em que ele estará totalmente endurecido. — Ela sempre finalizava as suas motivações com essa frase.

Mas depois que nossos avós morreram não ouvimos mais esse discurso, cada um se encheu de coisas para fazer; era doloroso demais estar perto e eles não estarem no meio. Querendo ou não a nossa aproximação era dolorosa, mas se sentassêmos no sofá e conversassêmos como fazíamos, teria evitado tanto distanciamento. A visita não se seguiu como esperávamos, depois de abraços e beijos, ficamos olhando um para o rosto do outro sem saber sobre o que conversar, quais novidades contar. Sabemos tudo sobre a vida dos outros, somos da mesma família e impossível não saber pelos nossos tios, contudo, ouvir eles mesmos contando e se expressando é diferente. Durante o almoço somente Gabriel contou como foram os meses longe de casa. Fez de tudo para ser engraçado, o que foi um desastre, mas sabíamos que ele estava se esforçando. Eu e Alexia puxamos assunto com as meninas e elas respondiam vagamente, pensei que não seria estranho, mas foi. Ter diálogo com quem se ama é realmente importante, se não houver esse exercício, com o decorrer do tempo se torna algo difícil.

— Eu também sinto falta deles! — declarei. Gabriel não tinha mais o que dizer e resolvi mexer na ferida, é melhor ela sangrar agora e sarar do que permanecer infeccionada por dentro, ainda que por fora, aparentemente, esteja cicatrizando.

— Dos seus pais? — Alex era nosso amigo a muito tempo e se tornou um membro muito importante.

— Com licença, preciso ir. — Leonardo levantou-se bruscamente da cadeira, ao compreender que não estava falando dos meus pais. Ele era o xodó do meu avô, carrega o nome dele, por isso depois da morte de vovô ele começou a exigir a ser chamado de Neto e não mais de Leonardo ou Leo.

— Estou falando dos meus avós — respondi a Alex.

— Eles eram sensacionais — elogiou Daniel cabisbaixo.

— Por favor, tem como você se sentar e ouvir o que tenho a dizer? — Olhei na direção de Leo e ele encarou o irmão mais novo, o qual deu de ombros. Não tendo alternativa retornou a seu assento.

Amanhecer 🥀Onde histórias criam vida. Descubra agora