C. 23 - °Prólogo de Lorenzo°

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O que é a realidade? Uma mera imaginação do que achamos ser concreto!? Tudo parece tão absoluto, e no segundo depois o absoluto se torna relativo, o que chamávamos de vida sofre uma mudança brusca e somos lançados a buscar uma nova forma de vivê-la. Em um segundo tudo está relativamente bem, na medida do possível, de repente, tudo muda e as coisas nunca mais poderão ser as mesmas, nem que você queira.

Eu nunca me senti tão desesperado emocionalmente como aquela madrugada. Isabella sempre me pareceu tão saudável, nunca demostrou sinal de nada, mas de uma hora para outra uma parte importante de si mesma teve que ir embora, pois já não estava fazendo bem a ela e muito menos cumprindo com a função que tinha que cumprir em seu organismo.

Eu nunca fui de acreditar em Deus, em sua existência, e nos dias que se seguiram antes de completar os três dias, eu vi a família dela unida, orando, chorando, clamando para um Deus que parecia não está ouvindo.

Quando chegou o terceiro dia, no qual eu não tinha dormido nenhum deles, André me pediu para acompanhá-lo em sua casa, para buscar algo que não lembro o que era, minha mente estava nela, em seu coração, eu pensei na possibilidade de tentar uma morte cerebral, mas com todos os exames que vi sendo feito e os resultados, mudei de ideia. É preciso ser compatível com o doador, se não o corpo rejeita e o paciente vai a óbito. Pensamento idiota, eu sei! Perante aquela situação o que importava era a vida dela, eu esqueci de me mesmo.

Eu tinha visto André ser forte todos aqueles dias. Ele chorava, cantava e ficava em silêncio, estava sendo forte pela sua esposa e filhos.

Para minha surpresa naquela manhã eu vi André gritar de desespero ao entrar em sua casa. Ele se jogou no chão e pareceu uma criança perdida, uma criança sem ninguém para amparar.

Ele pediu a Deus por muitas horas para que Isabella ficasse bem, que encontrássemos um doador. Entretanto, ele disse as palavras que me deixaram ainda mais desesperado e não consegui mais segurar as lágrimas, caindo de joelhos apenas ouvindo sua oração em meios as palavras entrecortadas.

Eu sei que ela é tua, o senhor a me deu de presente para amá-la, mas ela não é minha... Por isso, faz a tua vontade, se esse é o dia em que ela vai voltar para teus braços, apenas console o coração da minha casa, e eu te agradeço pelo tempo que tivemos com ela, faz a tua vontade... — Depois disso seus gemidos foram os únicos ouvidos. Ele não estava mais pedindo para que ela vivesse, mas entregando ela. Como se estivesse desistindo. Eu já não tinha mais vontade de respirar, de viver, então em surto em meios as lágrimas as palavras que saíram da minha boca foram:

Me dá mais uma chance.... — Eu não consegui terminar, ou saber o que estava pedindo, apenas queria que ela não morresse e que eu tivesse mais uma chance de fazer diferente, ainda que não soubesse o que fazer, só não poderia perdê-la.

Depois que saímos da casa, não falamos sobre o que aconteceu lá, antes do fim da tarde o doutor trouxe a notícia de que acharam um doador compatível.

Isabella depois da cirurgia nunca mais foi a mesma, eu tentei me aproximar, fazer diferente na minha nova chance, contudo ela afastou todos que não fosse da família, no caso eu. Ela se fechou em sua mundo Beltrão novamente, mas o que importava pra mim era ela está viva e bem, se minha nova chance de vê-la viva era apenas como observador de longe eu poderia viver com isso.

Naquela manhã eu comecei a acreditar que Deus existe, não que isso me fizesse ir a igreja, mas eu me sentir ainda mais confuso, se Ele estava lá esse tempo todo, por que nunca se importou comigo, por que nunca se manifestou a mim ou colocou na minha vida pessoas que me amassem...

Minha relação com Matt se tornou ainda mais forte, um irmão que eu nunca tive, nesse ponto eu comecei a ver que, talvez, Deus tenha começado a lembrar de mim. André e Amy, tem estado presente na minha vida desde então, no começo era estranho, eu aprendi odiar cada um deles, e de repente o que sentia quando estava perto dos dois era bom.

Amanhecer 🥀Onde histórias criam vida. Descubra agora