C. 38 - °Estela°

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6 meses e 15 dias antes...

— ... Temos mantido contato, nada além de amizade claro.... Cuida bem dela pra mim, não deixa nenhum gavião português chegar perto da minha futura esposa... — Matt gargalhou do meu pedido —, vou dormir, descansar agora, amanhã é o dia da minha transferência para a outra delegacia. — Matt recordou de que assim que Isabella souber que estou indo para Nova Esperança vai ficar chateada por não saber de nada.

— Ela vai entender — afirmei. — Até amanhã, se Deus quiser. Te cuida, cuidado para nenhuma portuguesa conseguir derreter esse teu coração endurecido — disse encerrando a ligação antes que seus protestos se manifestassem.

Deixei o celular próximo a mesa ao lado da cama com o abajur. Desliguei a lâmpada, permitido apenas a luz do abajur iluminado o local em que iniciaria a leitura da palavra. A cada dia estava mais apaixonado, não conseguindo entender como conseguir sobreviver longe da presença de Deus por tanto tempo.

A palavra que veio ao meu encontro foi relacionada a perdão, Mateus 18. O coração se contorceu em cada verso, sabia exatamente sobre quais eram as pessoas que eu devia perdoar, cada uma delas me feriu de uma forma diferente, mas nenhuma com a intensidade de que Estela conseguiu.

Joseph e Evelly nunca foram amores de pessoas, suas atitudes grosseiras e maldosas faziam com que eu soubesse  quem eles eram de verdade, amava cada um deles por achar que eram meus heróis, incompreendidos, cheios de marcas causado por pessoas do passado e por isso eram tão duros comigo.

No caso de Estela não, eu gostei dela, admirava a esposa do meu chefe. Nunca havia encontrado uma mulher tão doce, com uma personalidade tão maternal. E de repente, a imagem que eu criei na minha mente em relação a sua pessoa é bruscamente destruída da forma mais dolorosa existente. Estela Beltrão, era ninguém mais, ninguém menos que a minha mãe.

Estava cercado de enganos por todas as partes, inclusive por parte de quem eu jamais imaginei está envolvido.

Clamei ao senhor, lancei diante dEle as dores do meu coração, humilhei o meu eu, reconhecendo que perdoar Estela parecia ser mais dolorido do que perdoar qualquer outra pessoa. Que eu mesmo criei uma barreira em relação a ela, a qual não sabia como derrubar.

Sentir seu bálsamo em contato com as feridas da minha alma, eram muitas, e ele a cada dia cuidada especialmente delas.

Dormir horas depois, estava exausto. E ao fechar os olhos eu me deparei com o sonho mais real em que estivesse na vida.

Senhor, perdoa teu servo. Eu não tenho como pagar a dívida, sinto muito — dizia eu ajoelhado diante de um homem com fisionomia tranquila, sentado em um trono. Estava em um castelo, onde desde o chão até o teto eram cobertos por ouro. Alguns soldados seguraram meus braços, me erguendo do chão.

Não machuque ele — disse o rei aos soldados. — Levante-se meu filho — declarou e pude sentir que Ele sentia o mesmo que eu dentro do coração. — São 29 anos, nos quais todos os dias você saqueou fazendas, casas, bens preciosos para pessoas mais frágeis que você — fez uma pequena lista dos meus crimes, o medo de morrer se tornava ainda mais real. O seu olhar era de amor, ainda que tivesse o poder para me lançar no lugar onde habita apenas a dor, em que a escuridão domina e a luz não reina.

— Eu cometi tudo isso senhor, eu sou um criminoso — comecei a chorar, eu não queria morrer —, perdão, meu rei, perdão pelos crimes cometidos pelo teu servo, eu não mereço, tenho ciência disso... Mas me perdoe meu senhor, me dê mais uma chance — clamava entre soluços.

Era possível ouvir os gritos daqueles que não tiveram a dívida perdoada sendo lançados na escuridão.

— Me dê mais uma chance, meu servo. De ter uma nova vida, viver honestamente... Eu suplico meu rei, eu suplico — implorava em meio ao gemidos escandalosos.

Amanhecer 🥀Onde histórias criam vida. Descubra agora