C. 3 - °A nova canção°

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— Eu quero voltar para casa! — disse novamente

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— Eu quero voltar para casa! — disse novamente. Ingrid expressou com sua fisionomia que não estava entendendo o motivo daquilo tudo. Buscando esclarecer o que aconteceu, antes de perder a coragem contei desde que tudo começou. Passei a madrugada na cerâmica gelada, chorando e clamando por respostas, encaixando as peças do quebra-cabeça.

— Tia, lembra de quando meus pais contaram o que realmente aconteceu com a minha mãe biológica? — ela balançou a cabeça, fiz uma pausa e entrelacei minhas mãos sobre a almofada que puxei para cima das minhas pernas. — Até aquele dia pensava que ela tinha me abandonado, conforme os anos se passaram eu esqueci o rosto dela. — A ardência nos olhos retornou. Impossível não chorar ao falar sobre o dia que minha história mudou completamente. O dia que sentir um dos piores sentimentos do universo, a de ser abandonada pela minha própria mãe.

— Lutei tanto para que pudesse perdoa-la e no ano do meu aniversário de quinze anos, tive a plena certeza que tinha conseguido. A referência a Lucy não causava mais nenhum incômodo em mim. Pelo contrário, orei tanto por ela, que aprendi a amá-la mesmo acreditando que ela me abandonou. Uma semana depois que fiz quinze anos, eles contaram a verdade. Foi um choque, um pesadelo e um alívio, tudo ao mesmo tempo. Ela não tinha me abandonado, ela morreu pra mim proteger. — O coração queimou de culpa como na primeira vez que ouvi a verdade. — A culpa da acusação que coloquei sobre os ombros dela durante anos, tomei sobre mim. Achei justo deixar isso me dominar, já que fui tão injusta com ela. — Apertei a almofada com força.

— Os pesadelos dos quais tinha me libertado, voltaram. Só que não eram mais comigo, via todas as noites ao fechar os olhos ele desferindo as facadas no corpo dela. Por isso acordo tão cedo, nunca mais consegui dormir como uma pessoa normal. Meus pais sempre tão maravilhosos que não quis pertuba-los com assuntos dos quais eles nem precisavam passar... Nem sou filhas deles de verdade — nunca tive coragem de admitir, como doeu dizer em voz alta — Eles dizem que fui o melhor presente de casamento que ganharam de Deus, no entanto não vejo assim. Nunca falei nada para não magoá-los. É como me sinto, desde que descobri que Lucy morreu por minha causa, como uma pessoa que foi a causa da morte de alguém, pode ser benção na vida de outras? — questionei com os sentimentos todos embaralhados. Não imaginava que guardava tudo aquilo dentro do coração. Precisava falar e estava conseguindo, se expôr nunca foi meu ponto forte, quando consigo não posso parar.

— Vovó e vovô foram essenciais pra conseguir continuar a caminhar. Vovô percebeu que não estava mais tocando piano e inventou que queria aprender, somente para que voltasse a tocar. Como amava a música e sonhava em ser uma grande musicistas, abandonei essa ideia no dia que descobri que Adam matou Lucy. Não havia mais motivos para sonhar, sentia que precisava ser castigada por ter causado a morte dela.

— Meu relacionamento com Deus começou a desandar desde aquele ano. Posso dizer que estou andando arrastada, os poucos minutos que leio a bíblia e oro estava sendo o combustível que me mantinha viva. A faculdade, os estágios, os compromisso na igreja estavam dando tão certo, que achei ingrato da minha parte chegar pra Deus e dizer que não estava bem. Minha vida era perfeita, não tinha do que reclamar. Então continuei empurrando tudo com a barriga. Depois que me formei e comecei a trabalhar na empresa com meus pais, decidir ser a melhor arquiteta da empresa. Estava sempre ocupada, fazia de tudo para chegar em casa exausta, somente parar ler um versículo, dizer obrigada pelo dia e adormecer. Ainda assim, durante a madrugada acordava dos pesadelos e não conseguia mais dormir. Nunca mais orei para o senhor me libertar deles. Pois é o único laço que ainda tenho de Lucy, ela faz parte de mim e não consigo nem lembrar o seu rosto. — Afundei o rosto na almofada sentindo meu corpo todo despedaçado.

Amanhecer 🥀Onde histórias criam vida. Descubra agora