C. 29 - °Dança°

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Eu não sei como cheguei diante deles. Primeiro vi Kell sorrindo e olhando para Bel com ternura. Ela parecia irritada, eles combinam, estava observando o belo casal dançando. De certa forma não gostei do que estava diante dos meus olhos, e quando dei por mim Kell entregou ela para dançar comigo.

Ciúmes! Ciúmes!

Não podia acreditar que estava sentindo essa coisa. Não há cabimento para tal acontecimento. É de conhecimento de todos o quando Kell ama a ruivinha que foi embora.

É que, ele também combina perfeitamente com Isabella. Os dois tem um brilho no olhar parecido, a forma sábia de se pronunciar, totalmente diferente de quem sou.

— Vai ficar me encarando ou nós vamos dançar? — ela perguntou na defensiva com os braços prestes a se cruzar ao redor do corpo. Segurei suas mãos e desfiz o ato a conduzindo para mais perto, não tão perto, mas o suficiente para que tudo ao redor deixasse de existir.

— Preciso de dizer algo. — Sua voz estava trêmula. Suas mãos estavam sob meus ombros, nunca tínhamos nos aproximado tanto assim. Por mais que durasse somente esses segundos, não poderia jamais desperdiçá-los com palavras que possivelmente quebraria esse contato de agora. 

— Apenas dance, minha bela, apenas, dance! — Eu não sabia que depois de meses ficaríamos assim, não imaginei que poderia ser tão meigo e gentil com uma pessoa. Nunca pensei que um dia alguém conseguiria chegar ao meu coração. Nunca me apaixonei, o que é estranho, já que todo ser humano se apaixona pelo menos uma vez na vida. Agora eu consigo entender, esse lugar é apenas para Isabella, ainda que, o que sinto não seja levado em conta. Seguimos caminhos diferentes e jamais quero ser o motivo dela se desviar dele.

Da última vez que fui ao culto com Matt, o pastor ministrou sobre julgo desigual. E não pensei em outro cenário a não ser, eu e Isabella. Por isso, deixei de ir para os cultos, as verdades com as quais fui confrontado me assustaram, estava sendo encurralado e eu não gosto de ser encurralado. Ainda não estava preparado para dar um passo tão grande, era como dar um tiro no escuro, se disser sim, estarei saindo do controle e deixando alguém que não consigo ver na direção, é assustador! E não sou um homem de me assustar fácil!

Deus se tornou realmente estranho para mim, luto para entender o seu modo de realizar seus feitos na vida de cada ser humano, mas não chego a lugar algum. Ele é indecifrável, impossível de entender, sua grandiosidade me assusta e olhando para o rosto de Isabella vejo o quanto me enganei, de um jeito estranho Deus se importa comigo, porque apesar de todas indagações sobre o que vivi, é grandioso o que sinto por essa grande mulher a poucos centímetros dos meus olhos.

— Eu realmente preciso conversar com você — declarou com olhos bem abertos e sua voz era de desespero, ela não sentia o mesmo, desde que nos conhecemos nunca simpatizou comigo. Não irei conversar sobre aquela noite, por mais dolorosas que foram suas palavras, é a culpa que ela sente que a faz querer está por perto. Quando Isabella pedir perdão, não irá querer mais ter contato comigo e não posso imaginar mais alguns anos longe dela.

— Eu sei que você precisa se livrar de mim — disse a ela com um fraco sorriso. — Apenas mais uma dança e eu prometo que você não irá precisar ficar. — Acariciei seu rosto levemente e voltamos a dançar.

— Euu...

— Por favor, minha bela — ela engoliu em seco e vi lágrimas se acumulando em seus olhos. Não, não queria que ela sofresse, será que está perto de mim trazia tanta dor assim?

— Tudo bem, pode ir — disse parando de dançar e retirando minha mão de sua cintura.

— A última dança — ela pronunciou erguendo minhas mãos novamente.

Nada mais foi dito. Somente os nossos corpos em movimento enquanto tudo ao redor parecia reluzente e mágico. Consegui ver somente seu rosto e ouvi somente a música durante eternos minutos que chegou ao fim na última nota, e tudo ao redor voltou ao normal. Fiz uma reverência e sair da pista de dança, não prestei atenção em quem estava observando ou não. 

Segui rumo a saída, quando mãos grande seguraram o meu braço.

— Preciso conversar com você — André disse firme olhando dentro dos meus olhos.


Isabella Beltrão


O que mais desejei na vida era ter um viver simples e modesto. Não sou ambiciosa ao ponto de querer muito mais do que posso administrar, e possuir pouco é muitas das vezes ter as coisas mais grandiosas do universo. Com Deus não é possível ser simples, pois o que habita dentro de mim é o ser mais complexo que existe, com ele o nada se transforma em extraordinário. É necessário ser flexível e se mover de conformidade com o seu espírito, a vida é uma dança em que o nosso espírito corresponde ao dele, como se olhássemos em um espelho, imitamos seus movimentos.

Mas vai chegar um momento em que surgiram movimentos que são impossíveis ao nossos olhos de realizarmos, entretanto, quando focamos nossa atenção, tudo que somos nele, percebemos que a dança não depende dos "meus" movimentos, mas da minha entrega a ele, do meu sim a ele, e através desse sim, ele não está mais dentro do espelho, mais o meu coração se torna o espelho, eu não estou mais visualizando sua presença do lado de fora, agora Ele está dentro.

Eu decidi que conversaria com Lorenzo e ele não poderia mais fugir de mim. Não poderei deixar a ferida se tornar maior do que está. Deus quer depositar seu bálsamo sobre nossos corações, Ele quer fazer morada e nós temos adiado esse dia por conta de um passado que não pode ser mudado, mas que pode ser perdoado.

Meus pais vieram passar a tarde comigo e tive que adiar minha conversa com Lorenzo para à noite. Estava saindo do quarto quando ouvi Matt cochichar com papai no quarto em que estavam, não foi de propósito e eu acabei ouvindo ao passar pelo corredor.

— Ele o quê? — Matt me pareceu idgnado.

— Eu tive que conversar com ele depois do que aconteceu — papai parecia tranquilo.

— E agora ele foi embora... Lorenzo nem disse nada — Eu tampei a boca com as mãos e meu coração deu um salto que achei ser impossível e um frio percorreu todo o meu corpo.

— Ele deve está no aeroporto ainda, aguardando o voo pra Austrália...

Eu corri, corri pegando a chave do carro rumo ao aeroporto mais próximo. O outro é muito mais longe e Lorenzo não iria para lá. O trânsito não colaborou para minha chegada. Demorou meia hora a mais até o aeroporto, e quando cheguei corri para perguntar sobre o voo do começo da noite para a Austrália. Meu coração estava doendo com tantas batidas frenéticas e as lágrimas começaram a cair.

— Sinto muito, senhorita. Fazem 20 minutos que o voo decolou — disse a moça e eu virei de costas voltando para casa.

Não consegui dirigir e liguei para Jas vir me buscar, não queria ver meus pais e nem meus irmãos, Alexia precisava de um tempo de paz, e eu precisava pensar e sorrir, nada melhor do Jas para isso, além de que ter amigos que são amigos de Deus é a melhor coisa.


***

Obrigada pela leitura...

Me retirando daqui... bjs..

Amanhecer 🥀Onde histórias criam vida. Descubra agora