Prólogo

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Valentina se sentia em um tédio agoniante sentada naquele banco desconfortável. A música alta entrava em sua mente como baterias em uma escola de samba. Massageou suas têmporas, enquanto sentia o início de uma dor de cabeça.

- Vem... vamos dançar. - Mariana lhe puxava com árdua vontade e Valentina não saía do lugar.

- Não, Mariana. Minha cabeça parece que vai explodir.

- Anda, é sexta. Amanhã voltamos pra São Paulo e não esqueça que é meu aniversário. Nós precisamos nos divertir essa noite. Por favor... - implorou, fazendo uma carinha de cachorro sem dono.

Um beiço se formou em seus lábios e Valentina lhe encarou com tédio.

- Se não vier, nunca mais falo contigo. - Mariana cruzou os braços e ficou séria.

- Chantagem, sério?

A garota assentiu. Valentina ingeriu a pouca bebida sem álcool que havia no copo em suas mãos e se levantou. Mariana sorriu largamente e com um ar de vitória, e quase deu pulinhos de alegria. Valentina conseguia ver claramente o quanto a sobriedade de sua amiga se dissolvia aos poucos. A seguiu até a pista de dança e se deixou envolver pela música.

Mariana segurava suas mãos e as balançava para lá e para cá, com entusiasmo. Seguiam o ritmo acelerado da música e sorriam alegremente. Seus batimentos aceleravam pela movimentação e mais apertado o lugar ficava, a medida que mais pessoas se juntavam ao amontoado.

- Você viu? Aquele garoto não para de olhar pra você.

Mariana falou ao pé do ouvido de Valentina. Ela olhou na direção que a garota apontara, encarando um garoto alto e de dreads. Estava rodeado por outros garotos que aparentavam ter a mesma idade que ele e ele não parava de olhá-la. Parecia hipnotizado.

- Ele não tá olhando pra mim.

Valentina desviou seu olhar e Mariana negou com a cabeça. Olhou novamente para ele e teve certeza.

- Definitivamente ele tá olhando pra você. E é melhor pensar em algo porque ele tá vindo pra cá.

- Espera, o quê? - Valentina foi empurrada por Mariana e paralisou completamente, sem saber o que fazer.

Enquanto procurava por sua amiga que se distanciava cada vez mais, o garoto se aproximava de si. Girou sem seus calcanhares e fitou os olhos brilhantes e escuros em sua frente.

- Oi, tudo bem? Posso te pagar uma bebida?

Ele falou e Valentina assentiu, apesar de não ter escutado direito o que ele havia dito.

Os dois caminharam com dificuldade por entre as pessoas, esbarrando acidentalmente nelas. Chegaram no bar e sentaram-se nos bancos de madeira.

O garoto pediu dois copos com vodka e Valentina ergueu as sobrancelhas. Nunca havia bebido nem uma bebida alcoólica em sua vida, o que era um pouco irônico, sendo que já esteve em um bar com Mariana três vezes. Ele direcionou seu olhar para ela e sorriu.

- Então, como se chama?

- Ahn... não sei se devo dizer meu nome. Nem te conheço.

O garoto riu nasalmente e ergueu uma sobrancelha. Ele agradeceu ao barman quando o mesmo colocou vodka nos dois copos.

- Bem... você tem razão. Não nos conhecemos e eu poderia ser um psicopata querendo me aproveitar de você.

Valentina riu. Se sentiu nervosa. Ouvir aquilo lhe deixou com uma pontinha de medo. Pensou em se levantar e se distanciar daquele garoto, mas não conseguiu sair do lugar.

Come To Brazil • 𝐙𝐢𝐨𝐧 𝐊𝐮𝐰𝐨𝐧𝐮Onde histórias criam vida. Descubra agora