Capítulo Oito

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São Paulo, 23 de fevereiro de 2018.
18:18

A campainha tocou. Valentina abriu seus olhos escuros e franziu o cenho. Ignorou aquele som estridente e voltou a fechá-los de imediato.

Tocou novamente. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes seguidas. Abriu novamente seus olhos e levantou-se de sua cama. Fez uma careta ao sentir seu braço doer e percebera que havia dormido por cima dele.

Andou lentamente até chegar na porta. Apesar de ter descansado por um tempo, seu corpo ainda se encontrava cansado. Olheiras permaneciam embaixo de seus olhos e lembrou-se de quão mal havia dormido. Se sentia como se um caminhão tivesse passado por cima de si.

Assim que abriu a porta, coçou seus olhos e os arregalou levemente.

Mariana estava lá. Parada, com as mãos enfiadas em seu moletom preto e com um semblante de alívio.

- Nossa! Finalmente você abriu essa porta. Fiquei tão preocupada com você.

Mariana abraçou Valentina, lhe apertando contra seu corpo. Deslizava sua mão pelos cabelos da garota e lhe enchia de perguntas e mais perguntas. Valentina quase se viu sem ar ao sentir a força dela. Pigarreou e ela a soltou.

- Desculpe...

A encarou fixamente e suspirou.

- Como entrou aqui? Pedi a Francisco que não deixasse ninguém subir, não enquanto eu não permitisse.

- Bem... talvez eu tenha dito que você me ligou dizendo que precisava de uns remédios e havia liberado minha entrada. Eu comecei a chorar de desespero e... cá estou.

Mariana retirou duas caixas do bolso do moletom e balançou no ar. Ao que parecia, eram remédios. Valentina franziu o cenho.

- Isso são pastilhas, Mariana.

- Duh. Não achou que eu iria trazer remédios de verdade, né? Eu precisava enganá-lo e foi mais fácil do que imaginei.

Mariana guardou as duas caixas no bolso do moletom, se encostou no batente da porta e cruzou os braços. Analisou o rosto de sua amiga e teve certeza que ela esteve chorando.

- Por favor, Mariana, vai embora...

Quando Valentina iria fechar a porta, a garota pôs seu pé, impedindo que o fizesse. Fitou seus olhos que estavam vermelhos e respirou fundo.

- Não. Eu não vou embora, Valentina. Sei que está acontecendo algo e quero que me diga o que exatamente é... - Valentina olhava para um ponto fixo no chão. - Merda... nós nunca escondemos nada uma da outra. Sabe que pode confiar em mim.

Valentina sentiu um aperto em seu coração. Cenas do dia anterior vieram em sua cabeça e depois aquela ligação... foram o suficiente para que desabasse novamente.

Mesmo estando ainda confusa, Mariana a abraçou novamente e sentiu Valentina retribuir. Lágrimas quentes caíram sobre o moletom dela e soluços foram ouvidos. Um momento de silêncio se instalou entre elas, até que Valentina se pronunciou.

- Minha avó, ela... faleceu.

Come To Brazil • 𝐙𝐢𝐨𝐧 𝐊𝐮𝐰𝐨𝐧𝐮Onde histórias criam vida. Descubra agora