Come To Brazil • 𝐙𝐢𝐨𝐧 𝐊𝐮𝐰𝐨𝐧𝐮

Capítulo Nove

São Paulo, 23 de fevereiro de 2018.
18:30

Um silêncio desconfortável tomou conta do lugar. As duas garotas estavam sentadas no chão, com suas costas encostadas no sofá. Valentina segurava um copo com água e lágrimas ainda desciam por suas bochechas. Mariana, que mexia nervosamente em seus dedos, pigarreou.

- Valen... eu... não sei o que dizer.

Valentina engoliu em seco. Seu peito subia e descia freneticamente.

- Sinto muito.

A garota fungou. Deixou o copo no chão e cobriu seu rosto com as mãos, se permitindo chorar silenciosamente. Queria colocar para fora o que sentia, mas não sabia como. Talvez chorar fosse sua melhor maneira.

- Por isso você não respondeu minhas mensagens e nem atendeu minhas ligações. Eu senti que havia acontecido algo, só não imaginava que seria isso.

Valentina tirou suas mãos do rosto. Ele estava vermelho e marcado pelas olheiras.

- Quando eu a vi, estava tão debilitada, parecia tão frágil. Me senti a pior pessoa do mundo por tê-la deixado ir para aquele lugar. E ontem, me ligaram avisando que... que ela havia...

Mais lágrimas desceram por seu rosto e ela parou de falar. Mariana desviou seu rosto ao sentir uma lágrima descer por sua bochecha. Abraçou sua amiga de lado e fechou seus olhos.

- Desculpa não ter atendido suas chamadas e nem respondido as mensagens. Eu só... não queria falar com ninguém.

- Tudo bem. Não precisa pedir desculpas.

Mariana a abraçou ainda mais forte. Queria, de alguma forma, confortá-la, mesmo sabendo que aquilo seria difícil.

- Zion tá bem preocupado com você. Ele não para de me encher o saco um só segundo querendo saber o que houve.

Partiram o abraço e Valentina riu com esforço, enquanto enxugava as lágrimas.

- Sério?

Valentina fitou o rosto de sua amiga.

- Super. Não faz mais isso, ok? Sabe que sempre pode me contar qualquer coisa. Até mesmo para o idiota do garoto de dreads.

Valentina riu novamente, a repreendendo com o olhar. Ela odiava quando Mariana falava de Zion daquela forma. Não parecia ser justo, quando Zion era uma das pessoas mais incríveis que já conhecera.

- Acho que eu devia ligar pra ele.

Mariana levantou e ajudou-a a se levantar.

- Sim, mas tem certeza que quer fazer isso agora?

Valentina murmurou um sim baixo e abraçou-a mais uma vez, antes de andar em direção ao quarto e pegar seu celular.

[...]

Mariana estava bem do lado de Valentina na cama, deitada e com as pernas cruzadas no ar.

A garota conectou seu celular ao macbook e assim que viu a imagem de Zion surgir na tela, sentiu seu coração disparar.

- Valentina, meu Deus, finalmente. Te mandei várias mensagens e você não me respondeu. Como está? Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Ah... oi Mariana. Que bom que você conseguiu falar com ela. Quer dizer... vocês já conversaram, né? Meu Deus...

- Se acalma, Zion. Nós já conversamos e eu estou bem.

Ele suspirou. Parecia aliviado, mas sua expressão ainda estava preocupada ao ver o semblante triste de Valentina.

- Então... por que não respondeu minhas mensagens?

Mariana e Valentina se entreolharam. Ela pôs sua mão no ombro de sua amiga. Valentina tomou coragem e contou tudo a Zion. Se sentiu em meio a um abismo. Seu coração ainda doía ao lembrar que sua avó não estava mais com ela. Aquilo era doloroso demais para ela suportar.

O garoto sentiu um nó se formar em sua garganta. Olhou de soslaio para Mariana e simplesmente não soube o que falar. Apenas pigarreou e prosseguiu:

- Eu... eu sinto muito, Valen. Não sabia que sua avó estava doente. Realmente... sinto muito.

Mariana deslizou sua mão sobre os cabelos escuros dela. A cabeça de Valentina estava baixa e presumiu que ela estava chorando.

- Eu queria estar aí, contigo, Valen. Poder te abraçar e dizer que pode contar comigo.

Zion não conseguia acreditar que havia dito mesmo aquilo. Pela primeira vez, se sentiu impotente. Queria abraçá-la, lhe dar todo seu apoio. Mas não podia e se odiava por isso.

Valentina levantou sua cabeça, o suficiente para ver o rosto de Zion. Seus olhos estavam marejados e isso fez com que o coração dele doesse ainda mais.

Não conseguia mais se segurar. Ela queria poder chorar livremente, sem se sentir frágil ou ridícula demais por isso.

- Zion, desculpe... não se importa se falarmos depois?

- Claro que não.

Valentina sorriu de canto. Quando iria desconectar seu celular do mackbook, Zion chamou seu nome. Ela encarou a tela, com seus olhos vermelhos e cheios d'água.

- Eu... - um longo silêncio irrompeu. Mariana também encarava a tela e esperava por suas próximas palavras. - Vai ficar tudo bem.

Zion sorriu sem jeito. Droga. Se sentiu imensamente ridículo por ter dito algo que praticamente todos dizem em uma situação como aquela.

Valentina não parecia se sentir mal por aquilo. Pelo contrário. Apenas lhe deu um sorriso sincero antes de se desconectar completamente daquela chamada.