ela possuía cheiro de jasmine

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               Algumas noites, Dominic não conseguia dormir, pois o medo de enlouquecer supera qualquer cansaço que pudesse sentir

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Algumas noites, Dominic não conseguia dormir, pois o medo de enlouquecer supera qualquer cansaço que pudesse sentir.
Era a sensação de estar caindo interminavelmente no espaço entre os mundos, vendo tudo passar à sua volta e não conseguindo se segurar a algo.
Alguns dias ele se mantinha ao limite de tudo, um observador constante e um personagem pouco participativo, não lembrava exatamente quando aquilo começara, mas tinha certeza que foi um hábito herdado da mãe, do tempo em que ainda vivia com ela nos confins da Noruega, suas lembranças desbotaram com o tempo, mas sentia cada uma delas tomada pelo cheiro de tinta fresca, quadros em cores vivas de rostos que Dominic não conhecia mas possuía a total certeza que haviam cruzado o caminho dela em algum ponto.
Algumas noites, Dominic acreditava fielmente ser um fantasma entre os vivos, a realidade simplesmente deslizava pelas suas mãos e tudo que sobrava era o espaço conturbado de sua mente.
Mas em questão de instantes tudo se restabelecia, de uma forma tão rápida e simples que o deixava sem fôlego, voltava a ser o personagem principal da própria vida, conseguia se segurar as coisas e a realidade estava reativada.
Haviam pontos no entanto, que o faziam ir e voltar, encaixes no mundo que traziam ou retiravam tudo, Dominic nunca sabia quando ou porque eles vinham.
Alguém falava ao seu lado e risadas soavam distantes, tão distantes que mais pareciam o eco de algo a muito vivido, seus olhos se mantinham nas antigas construções, pedra sobre pedra, o sol escondido atrás de nuvens muito espessas anunciando uma possível tarde chuvosa.
Enquanto Dominic sentava-se junto a um pequeno e restrito grupo de pessoas, que passavam a maior parte gritando e afrontando uns aos outros mas ainda assim consideravam a possibilidade de passar algumas horas separados, uma ofensa conjurada das profundezas do inferno.
Dominic não era mencionado em nem um assunto, deixado afastado o máximo possível muito por respeito, fala quando precisa não quando qualquer outro sente necessidade.
E Dominic não sentia nem uma vontade de falar agora, sua mente vagava para outros caminhos, mais obscuros que o céu nublado, cheio de nuvens carregadas demais.
Talvez não se mantivesse até a tarde, Dominic pensou, um lápis deslizando fracamente pela folha, um esboço de algo que poderia ser feito com mais cuidado e de sua parte se sua curiosidade não sobressai qualquer vontade de manter as palavras escritas em linha reta.
O pedaço de papel logo se tornando tão caótico quando sua mente, o que, deveria assumir, não era das mais simples tarefas.
Palavras, essa era o dom de Dominic, não necessariamente as palavras em si, mas a forma de agrupá-las, de costurar umas às outras como peças de um cenário até então desconhecido - muitas vezes por ele mesmo - de maneira única enquanto seus olhos se mantinham no que mais chamasse sua atenção, nem sempre a folha estava incluída nessa categoria, a maior parte do tempo o que captava a sua atenção eram as pessoas.
Uma pessoa curiosa, de fato, singular em seus tantos caminhos, amante das mais diversas artes e um grande apreciador da literatura - não apenas um apreciador mas um condutor dela, criador em sua maneira mais trivial.
Mas, como quando criança, descobrindo os caminhos que aquele universo único e peculiar poderiam lhe prover, escrever requer inspiração muitas vezes, por mais que nao depender dela fosse um grande exercício, Dominic não gostava de se manter esgotado dessa maneira, era irritantemente lancinante se manter a essas pouco proveitosas margens, então, sua inspiração era sim necessária e normalmente encontra ali, entre as pessoas.
Não, a palavra ecoou por sua mente, não era apenas entre as pessoas, Dominic sabia que algum instinto no fundo de seu ser sempre procurava por algo a mais, um pessoa única a sua maneira, interessante, fascinante.
E, depois de anos nessa incessante busca, ele entendia não ser uma tarefa fácil. Como se manter entre os vivos ou aquele pedaço de papel o mais organizado possível.
Procuraria eternamente por uma conexão, sabia, um tipo de entendimento que nem sempre vinha com facilidade, era como estática no ar, como quando os violinos enlouqueciam na música clássica e o piano soava as notas mais agudas e com tamanha velocidade que seu corpo se torna inquieto.
Aquelas conexões, com tudo, tinham uma vida tão curta quanto as músicas.
Semanas, dias, nunca passava de um mês e era sempre demorado a encontrar outras o que era frustrante pois, por mais que fosse um apreciador das coisas mundanas e simples, Dominic também queria as inusitadas e espontâneas, que mantinham alguém acordado a noite e despertavam um sorriso selvagem nos lábios de alguém.
Resumindo, aquele garoto só queria conhecer as pessoas, de uma forma detalhada era claro, queria os segredos e as angústias, as maiores felicidades e as grandes decepções, Dominic queria tudo, pois era isso que alimentava a sua escrita, as pessoas gostavam da forma como Dominic as descreviam, pois normalmente eram egocêntricas o suficiente para sorrir e pedir pela próxima.
Ele, no entanto, odiava aqueles que desejavam o conhecer, o que eram poucos, balanceando os números.
O ruído enchendo a cabeça de Dominic, que parecia interminável, imparável, cessou, simples assim, de maneira repentina ao ponto de ele se sentir sem fôlego, os olhos vagando pelo espaço, meio escurecido, Dominic nem percebeu que não eram apenas minutos transcorrendo mas sim horas, ele observou os estudantes tentando correr da garoa que já começava e quem estava ao seu lado já não estava mais, Dominic certamente leria uma mensagem de texto no momento que encontrasse o celular avisando a saída e observando o quando não desejavam o perturbar, neste momento, Dominic se sentia agradecido pelo tempo sozinho.
Seus olhos vagaram até encontrar uma figura anárquica - aquela figura anárquica -, totalmente indisciplinada, uma energia caótica emanando de todas as partes daquela garota, os passos apressados pelo gramado, os traços arranjados de maneira estóica, obstinada, e Dominic percebeu - quando o evento ocorreu pela segunda vez - o que havia o tirado da sua constante queda foram palavras sibiladas, um francês fluido e raivoso mas de nem uma maneira ruim, era apenas irritado enquanto tentava carregar uma pilha de livros nos braços e acender um cigarro, o isqueiro falhando e seus pés quase errando o passo pela segunda vez.
Um lampejo de raiva cruzou seus olhos mas ela nunca os ergueu, mesmo com o peso do olhar de Dominic sobre ela, e todos sempre erguiam, porque Dominic era uma presença magnetizante, pesada e ele tinha ciência disso. Mas aquela garota nem parecia perceber, seus movimentos eram leves mesmo enfiada em um suéter com o triplo de seu tamanho, Dominic enfiou de qualquer maneira a caderneta que usava, não se deu ao trabalho de analisar a bagunça e, ele percebeu enquanto ela procurava algo pelo espaço, que havia névoa fechando os seus sentidos, ela parecia imersa, enquanto seus olhos fugiam para um relógio de pulso e seus passos ficaram, mais apressados e perigosos para pular o parapeito, talvez muito alto mas ela pulou e foi bem ao lado de Dominic, uma leve onda de jasmine preencheu seus sentidos momentaneamente.
Mas Dominic lutou contra o estupor e antes que a garota pudesse ir, porque ela o olhou com um indiferença não disfarçada e Dominic não pensou muito, näo costumava pensar muito em momentos assim, e muito menos quando reconheceu a garota, ela era o motivo de seu comportamento se tornar o mais reservado semanas antes, Dominic havia discretamente procurado por ela mas parecia reservada demais e das poucas pessoas que a haviam visto nem uma descrição fora essencialmente positiva, coisas como ela ser "egocêntrica ao ponto de superar todos os limites previamente estabelecidos". Dominic já havia sido descrito de maneira muito similar, então sentia um toque de empatia pela estranha.
Parecia igualmente presa em um estupor de surpresa, emoções corriam pelos seus olhos com tamanha velocidade que ele mal pode as identificar, Dominic sentiu a estática do ar mudar, a névoa cobrindo os seus sentidos, que pareciam de algum modo a desconectar do mundo, se afastava pouco a pouco, como se também o reconhecesse, se mantendo a apenas alguns metros de Dominic, enquanto ele percebia a forma como as sobrancelhas dela se encontraram levemente, formando um leve vinco, sua mandíbula se enrijecendo e os olhos se e no momento que ele sentiu as palavras se encaixando para formar uma frase decente, seus sentidos revirados, tentando voltar ao lugar depois de dias afastados alguém bateu no ombro dela e com alguns passos meio cambaleando para trás ela voltou a andar, um tremor subiu pelo seu corpo e seus passos se tornaram mais rápidos, mais fervorosos, como se fugisse, mas ainda assim, como se não resistisse, seus olhos encontraram os de Dominic uma última vez antes desapareceu na esquina.
Não levou muito tempo para alguém tocar o seu ombro e o corpo de Dominic sofrer um espasmo, sentiu a garganta seca, os olhos doloridos e o frio se enroscando no seu corpo, tudo de uma vez, tudo rápido demais para que sua próxima respiração não saísse em uma sopro dolorido.
"Dom?" O rosto sério de Eros Remmington entrou em foco, ele se mantinha totalmente parado. "Você ficou aqui todo esse tempo?"
Dominic se ergueu, o corpo rígido pelo tempo parado e a exposição ao frio, um arrepio o fez tremer de cima a baixo e, enquanto Eros parecia levemente irritado com o descaso de Dominic por si próprio, a mandíbula rígida e os olhos semicerrados denunciavam também sua preocupação.
"Acabei me perdendo, só isso, e não me olhe assim." Eros o olhava com desconfiança, duvidando das palavras de Dominic no seu mais primal significado mas por conhecer Dominic de maneira sublime sabia que naquele momento o melhor a fazer era relegar o assunto e enquanto murmurava algo para si mesmo sinalizou para Dominic se colocar de pé, e guiou o caminho para fora de Oxford, estranhamente a direção contrária do apartamento que lhes pertencia.
Dominic lhe lançou um olhar, as sobrancelhas erguidas e Eros apenas suspirou.
"Vinho. Vocês e seus malditos vinhos."
Dominic se contentou com a resposta, sentia que sua voz falharia terrivelmente se falasse algo, ainda sentia as mãos trêmulas mas a rigidez se soltava do corpo conforme andava, fechou mais o casaco em torno do corpo e tentou esconder o rosto na gola do casaco.
"Então..." Eros estendeu a palavra de maneira preocupante, Dominic se preparou para a pergunta "quem é ela?"
Dominic respirou vagarosamente, repentinamente muito interessado na estrada que tomavam.
"De quem, exatamente, está falando, Eros?" A voz de Dominic saiu com um descaso fingido, mas ele sentiu Eros mudando do seu lado.
Aquele garoto, uma figura impassível e de maneira quase impossível calma sorriu, uma gesto raro vindo dele, Eros Remmington o olhou com aquela astúcia brilhante e empurrou seu ombro, os redirecionando para a direita.
"A ingenuidade não lhe serve, Dominic." O tom de Eros carregava aquela satisfação de quem sabia de algo, a diversão moldando cada palavra perfeitamente, eles se aproximaram de uma construção pequena e antiga, entre dois prédios poucos maiores, Dominic conheci o lugar e Eros também, estava quase fechando mas eles os atenderiam, pouco importava o horário.
"Quem diria, Eros Remmington é um bisbilhoteiro." Uma risada se formou no fundo da garganta de Dominic mas ele a segurou lá, murmurando: "Os Lê Roux vão ficar orgulhosos." Dominic não lhe deu tempo para responder, bateu com mais força do que devia na porta para ser atendida por uma criança, com olhos vivos e cheios de curiosidade, o garoto sumiu e foi substituído por um homem conhecido a ambos.
Ele os comprimentou com um sorriso, abrindo a porta e os convidando a entrar e foi mais caloroso quando Eros despretensiosamente mencionou o nome de Ezra e Louise, os gêmeos, pelo que Dominic sabia, eram amigos de amigos daquele homem e, ainda de acordo com eles, possuía um excelente vinho.
"Estamos comemorando algo?" Dominic sussurrou assim que a figura desapareceu nos fundos da loja.
"Já passaram do tempo de usar desculpas para se afundar em vinho." A naturalidade e talvez até descaso com que Eros pronunciou as palavras fez um quê de espanto se espalhar pelos traços de Dominic mesmo que aquilo não devesse, Eros pareceu surpreso pela reação dele e até divertido. "O que? Achei que todos nós tínhamos concordado com isso, mas tudo bem, vou pensar em algo para acalmar a vocês." Eros, que tinha afundado as mãos nos bolsos da calça se balançava, do calcanhar a ponta dos pés, ele parecia ansioso, Dominic percebeu, o que muito incomum para ele, tanto que o sentimento começou a ser passado para Dominic e logo ele estava batendo o pé contra a madeira envernizada do chão.
O vinha foi dividido entre os dois, pago antecipadamente pelos gêmeos, quando ambos estavam as ruas de Oxford com o vento congelando seus corpos, Dominic olhou para os lados e se perguntou como Eros chegou a ele, com a vergonha queimando as suas bochechas o alívio se espalhando pelo corpo quando percebeu que Eros chegará a ele andando.
Dominic odiava a forma como aquele garoto era consciente de seu comportamento. Depois de anos, Eros sempre sabia cada um dos humores e como os receber, Dominic no entanto - para a infelicidade de Eros Remmington e o desprazer de sua timidez - conhecia os dele tão bem quanto, mas, diferente de Eros não era apto a tentativas de apoio silenciosas e acolhedoras.
Dominic era dotado de uma curiosidade insaciável e isso era o causador de várias brigas.
Aquele, embora, era um dia incomum, onde por mais que tenha identificado a preocupação cintilando nos olhos de Eros - felizmente não direcionada a Dominic - resolveu apenas manter-se ao limiar dos limites claramente impostos por Eros e não se recusar a isso, riscar as novas regras e desconsiderar as feitas por Eros enquanto segurava seus ombros balançando com tanta força que deixava a ambos tontos e o obrigar a falar.
Mas não, Dominic não o obrigou a falar, queria se convencer de que era pela forma como Eros parecia querer esconder aquilo, de forma quase desesperada, com a postura ereta, as roupas cuidadosamente selecionadas e os cabelos pretos perfeitamente arrumados, Eros estava fazendo tudo que podia para se manter o controle mas ele sabia que não era apenas por isso, Dominic duvidava que poderia manter uma conversa decente com alguém.
Sua cabeça apenas continuava a voltar para aquela garota. Não podia mentir a dias, sentia aquele fulgor inconfundível da inspiração no fundo da sua mente, tomando forma cada vez que cruzavam caminhos, um sopro, uma epifania momentânea que parecia lhe deixar cheio de energia. Dominic queria fazer algo, não suportava a ideia de estar parado naquele momento, não queria se esconder nos cantos mais escuros e sem vida de seu quarto, não queria se manter imovel por horas e sentir cada membro do seu corpo protestar quando se movia.
Dominic não suportava a ideia de se manter inerte, sendo um fantasma que não podia se apegar a nada, precisava de algo que comprovasse como estava vivo naquele momento, que tudo não é apenas um lapso momentâneo onde sua imaginação se sobrepõem à realidade.
Aqueles não foram momentos calculados, e Dominic normalmente os calculava porque tudo era questão de controle, mas não ali, poderiam ser descritos como cair infindavelmente entre as brechas que compõem a realidade.
"Você pode ir." As palavras escaparam de Dominic, uma quase sobrepondo a outra e Eros tomado pela impulsividade da frase de Dominic rapidamente retirou os olhos do caminho e os fixou em Dominic, Eros pareceu perceber o que ele queria dizer quase imediatamente, os olhos arregalados.
"Dominic....." A repreensão era clara e forte, como só Eros conseguia fazer, pronunciando apenas um nome, mas Dominic já estava desacelerando o passo, separando o caminho de Eros.
"Preciso de uns minutos." Aquelas dúvidas já tomavam forma nos olhos de Eros conforme Dominic se afastava, claramente, Eros vinha sentindo a hesitação dele em se juntar a todos os jantares em que os convidados envolviam pessoas além de Eros e ele, enquanto Dominic esperava o tempo decorrer e e todos irem dormir para voltar a casa.
A simples ideia de interagir com alguém nesse momento lhe causava cansaço, não sabia por que, mas não deveria ser assim, ele simplesmente não conseguia, era ele, não conseguia conjurar ou sustentar a forma de alguém decente por mais que algumas horas.
Eles brigariam, e tudo que ele não queria era brigar.
"Dominic, você está fazendo isso há mais de duas semanas, por favor, vamos para casa."
"Preciso de um tempo." E quando as palavras deixaram ele, fracas e quase sussurradas, Eros pareceu se encolher.
Haviam tempos, era claro, onde isso era excessivo e Eros o obrigava a voltar a conviver com as pessoas. Haviam outros que Dominic não conseguia suportar a ideia de estar sozinho e vivia cercado de quem considerava interessante.
"O que você vai fazer?" Eros estava cendendo, apenas pela forma como pronunciou as palavras.
"Ler."
Dominic só conseguia pensar em algo para ler.
Lyrical Ballads.
Apenas para tentar entender. A forma como os olhos dela se acenderam em reconhecimento.
"Tem algo haver com a garota?"
E Dominic não queria mentir mas igualmente não desejava abrir a verdade, então apenas deu de ombros.
Aquilo pareceu o suficiente para Eros.
"Vou pensar em algo para dizer a Nora." Eros retirou o cachecol e o prendeu ao pescoço de Dominic. "Tente não voltar tarde." E, passando os olhos pelo rosto de Dominic, daquela forma meticulosa que o deixava ansioso, Eros suspirou, passou a mão pelo cabelo, colocando os fios negros no lugar e deu de ombros, com uma indiferença fingida. "Se você precisar, posso fingir que não o vi roubando uma das garrafas de vinho."
Dominic sorriu, mas não pegou a garrafa, apertou o cachecol em torno do pescoço. Ele e Eros separaram o caminho da mesma forma que os juntaram, inesperadamente.
Sempre foram assim, desde que se conheceram, anos atrás. Duas crianças com mais problemas que deviam, na época que Dominic mal podia suportar estar na própria pele e Eros tinha a língua afiada e os olhos maldosos.
Ele conhecia apenas um lugar com uma cópia perfeita de Lyrical Ballads, surpreendendo a si mesmo, o primeiro lugar que pensou não foi a propria estante e sim a de um lugar muito mais antigo e cheio.
Olhando o relógio, percebeu que cheio não era a melhor forma de descrever como a biblioteca de Oxford estaria agora, demoraram mais do que deviam reunindo vinhos e dividindo cigarros no meio do caminho.
Talvez conseguisse adentrar despercebidamente, já fizera muitas vezes, no meio de outras noites muito mais turbulentas.
Dominic ouviu um estrondo ou o sentiu, não tinha certeza, não conforme e sentiu os ecos de ser arrancado dos próprios pensamentos.
Ergueu os olhos e percebeu as portas de Oxford escancaradas, luzes vindas de todos os lados e passos altos, mas isso foi por apenas alguns poucos momentos porque no próximo algo estava colidindo contra o seu corpo com pouco força mas muita velocidade.
A única coisa que conseguiu perceber foi uma bagunça de cachos negros, olhos verdes e uma serie de xingamentos se desentolando em frances sibilado, Dominic ficou tenso automaticamente antes de a escuridao quase completa ser cortada por luzes esbranquiçadas e os olhos dela se tornarem espelhos de raiva e...
"Misérable bâtard..." Ela sibilou, o francês deslizando por sua língua com a facilidade de uma nativa.
Ela olhou para as portas da faculdade, onde duas pessoas agora apontavam lanternas na direção deles e puxou o pulso de Dominic com força surpreendente para o primeiro canto escuro que conseguira encontrar.
Dominic mais sentiu do que viu a respiração dela, vindo em fôlegos curtos enquanto os olhos vasculharam o espaço à nossa frente.
Ela possuía cheiro de jasmine, ele percebeu, assim tão próxima, ele emanava dela.
Um sorriso, leve e relaxado - mesmo que cada parte de Dominic estivesse tensa - curvou seus lábios.
"Bastardo, posso entender"os olhos dela correram de volta para Dominic, arregalados e descrentes, não havia rubor evidente nas bochechas dela, nem um pincelada de vergonha ou arrependimento cobrindo a sua expressão, apenas uma leve confusão, profundamente, Dominic poderia acreditava ter visto curiosidade, mas fora tão breve e os gritos tomavam toda a sua concentração "mas miserável?" Dominic parecia mais indignado do que se sentia, mas pela maneira como os dedos dela se apertaram em torno de seu pulso dizia muito sobre como aquela garota estava se preparando para algo. No final, um sorriso quase curvava os seus lábios. Dominic deu de ombros "tudo bem, que seja."
"A forma como você deteriora sua imagem é única." Ela sussurrou, os olhos nos de Dominic por um momento antes de uma luz esbranquiçada cruzar o espaço a poucos centimetros deles e ela se afastar, os dedos ainda fechados firmemente no pulso dele mas aquele sopro de diversão sumindo de seus traços e tudo voltando a se realinhar aquela raiva e concentração de mais cedo, vasculhando o ambiente em busca de algo.
Dominic obrigou o cérebro a pensar de uma forma mais prática e útil. Observou o ambiente em que estavam e a situação que se meteram.
Caso fossem pegos seria péssimo.
"Acho que devemos...."
"Não diga se esconder" ela sussurrou, próxima demais, os dedos se apertando ainda mais em torno do pulso de Dominic "por favor, não diga se esconder." A garota olhou diretamente nos olhos dele, uma leve exasperação e enchendo os olhos levemente arregalados. A luz passou por eles novamente, os gritos se tornaram mais próximos "não precisamos correr." Alguns passos soaram, próximos demais, ambos tencionaram, prestando a atenção aos sons, ela então olhou para a rua, o cenho franzido. "Isso é sério?"
Dominic seguiu a atenção dela e notou a caderneta a alguns metros de distância jogada na calçada, bateu a mão no bolso, procurando pelo objeto e voltou a praguejar entre uma respiração e outra, tentando se soltar dela.
"Você, nem pense nisso." E Dominic nunca poderia acreditar que um sussurro pudesse ser tão repreensivo. "Quer que sejamos pegos?"
"O que foi?" Dominic perguntou, no mesmo nível de exasperação, mais alto do que deveria, vendo o queixo dela tremer levemente e o cenho dela se franzir, ela se vira e olha novamente para a rua. "Meu hobbie não é invadir bibliotecas ao contrário de você, pelo visto."
"Como você sabe que eu estava na biblioteca." Ela também falou, alto demais, ambos estavam falando alto demais para pessoas que querem passar despercebidas.
"Parece bem óbvio!"
Dominic apontou a mão para as pessoas que os seguiam e depois para ela.
A pessoa no meio, mais a frente e que parecia comandar usava um uniforme azul, facilmente reconhecido como o segurança da biblioteca.
Mas não era só isso, a biblioteca de Oxford possui um cheiro único, antigo e delicado e esse cheiro estava impregnado nas roupas dela, entremeado ao cheiro de jasmine, Dominic o reconhecia facilmente.
Ambos sentiam a tensão estalando no ar, uma corrente fina sendo puxada até a luz passar uma última vez e parar exatamente em cima deles, contornando as silhuetas e aquela garota nem lhes deu tempo para agir, ao invés de correr para o lado oposto foi para cima deles, em instinto Dominic tenta a mão dela, voltar a ter o próprio pulso entre as mãos dela, mas acabou com outra coisa entre os dedos, metal, brilhando a pouca luz mas sem tempo para pensar porque logo ela está de volta, a caderneta de Dominic em uma mão e o pulso dele em outra, então os dois estão serpenteando por entre os prédios, emaranhados nas ruas da cidade.
Quando Dominic olha para o rosto da garota, uma risada escapando pelos lábios, não pude evitar sorrir de volta.
Ela faz uma curva acentuada para a direita e os caminhos se separaram tão rápido quanto convergiram.
Os passos de Dominic perdem a velocidade, ele ainda sentia o coração batendo fortemente contra as costelas, aquele fulgor de inspiração voltando a encher sua mente.
Instintivamente, seus dedos foram ao bolso do casaco, quase que um reflexo de seu corpo.
Sentiu cada parte que o compunha gelar, trincar, entrar em combustão.
Não estava ali.
O que pairava entre os seus dedos, no entanto, era o material frio de uma corrente prateada, ele se voltou para a luz, olhando a pequena pedra brilhante a pouca luz, não era lapidada igualmente, no entanto, o corte era desigual mas isso apenas a tornava mais interessante.
Enquanto o move entre os dedos, Dominic percebe, quase que em susto, um nome gravado ali.
Vanderwall.
Uma garota Vanderwall.
A garganta rapidamente seca e o sorriso que ainda contaminava o seu rosto vai embora.
A tensão toma todo o seu corpo, o coração voltando a acelerar e os dedos indo novamente em busca daquela caderneta, apenas para encontrar o espaço vazio.
Mas mesmo assim, o fulgor não se extinguiu, ele apenas se alastrou, porque a mente de Dominic trabalhava por caminhos tortuosos.
Fascinante. Era essa a palavra para aquela garota. Completamente fascinante.
Seus passos começaram, perturbando a calmaria das ruas de Oxford. Ele não deveria a ter julgado tão precipitadamente, era apenas um colar e ela poderia ser qualquer uma das Vanderwall's.
Mas Dominic também possuía a sua carga de sobrenomes preocupante, assim como Vanderwall significava aquela família, Montfort também era associado a uma família, a sua família, não possuía igual autoridade ou poder mas era o suficiente para lhe causar uma infância infernal.
Dominic segurou aquele fio de inspiração, ainda podia conjurar o cheiro de jasmim e a forma como ela riu.
Dominic sentia o corpo cheio daquela energia caótica novamente, o estupor sumindo e sendo levado, conforme uma chuva fina começava a cair por Oxford e os passos dele se tornaram mais baixos que a chuva e que seus pensamentos.

             Dominic sentia o corpo cheio daquela energia caótica novamente, o estupor sumindo e sendo levado, conforme uma chuva fina começava a cair por Oxford e os passos dele se tornaram mais baixos que a chuva e que seus pensamentos

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Eu continuo amando a fuga deles.

-Eva Nooren, correndo para fazer isso funcionar.

ps: achei que ninguém mais lesse esse livro.

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