Árvore da Gameleira - Rio Branco (AC)

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Há na região central de Rio Branco, uma árvore centenária chamada de Gameleira. Com mais de 20 metros de altura e 2,5 de diâmetro, e foi tombada como Monumento histórico em 1981. Mas não são as medidas ou a idade que causam espanto aos moradores. Alguns cidadãos afirmam terem visto o vulto de um homem nas proximidades da árvore. E, nas noites de lua cheia, é possível ver a silhueta de um homem sentado contra o tronco da gameleira. Alguns juram que sentem o cheiro de fumaça de cachimbo. Poucos se aventuram a passar pelo local depois da meia noite. Daquela figura, dizem se tratar de uma importante personalidade histórica do Acre. Um aventureiro, desbravador, empresário, traidor e traído. Os mais velhos acreditam que aquela figura que permanece à sombra da Gameleira tem um nome, uma história e uma lenda. Além de uma maldição.

Segundo a tradição popular, esta história começa no ano de 1881. A bordo do navio a vapor Apihy, Neutel Maia subia o rio Acre a procura de terras não reclamadas. Ainda hoje, pouco se sabe sobre sua história. Sabemos, por exemplo, que nasceu no Ceará e que tinha uma carreira de empreendimentos mal sucedidos. A constante busca por um recomeço, um golpe de sorte, colocou Neutel naquele navio, rumo o rincão mais perigoso e menos explorado do Brasil.

Maia tinha um sonho, surfar a onda do látex. Assim como ele, muitos outros aventureiros se lançaram no desconhecido, buscando riquezas na Amazônia Ocidental. Mas, se hoje a região ainda se apresenta inóspita, imagine os riscos da viagem na época. De ataques de tribos à doenças mortais, não era incomum que muitos corajosos perecessem antes de encontrar o sonhado objetivo. Contra todas as probabilidades e depois de um ano vagando pela densa mata da selva amazônica, Neutel encontrou um pedaço de terra de ninguém para chamar de seu.

Debaixo de uma árvore típica chamada gameleira, Maia ergueu seu acampamento. Durante as muitas noites solitárias, fumava cachimbo no meio da floresta recostado no caule frondoso, sonhando com um futuro de riquezas e prestígio.

Em 28 de dezembro de 1882, fundou o seringal Volta da Empreza e começou a explorar os recursos naturais da região. Começou com o látex, fundou a Casa NEMAIA & Cia e viu o patrimônio crescer.

Uma oportunidade de ouro bateu na sua porta: começou a negociar o gado boliviano dos campos ao sul com os seringais da região. A pecuária abriu um novo mundo. Maia decidiu vender terrenos do seringal, aumentando a circulação de pessoas no porto em Volta da Empreza. E foi aí que a maré de sorte começou a virar.

Em 1899, a Revolução Acreana explodiu, iniciando a disputa de território entre Brasil, Bolívia e Peru. O embate incendiou os campos de batalha e gerou um conflito que durou aproximadamente quatro anos.

Neutel, de imediato, se colocou a favor dos bolivianos, fieis parceiros comerciais. Mas eles acabaram expulsos e Neutel Maia foi capturado e teve todo seu patrimônio confiscado. Ao ser interrogado, denunciou todos os antigos aliados. "Recuso-me a permitir que uma gota do meu sangue caia sobre esta terra maldita", justificava-se.

Pouco tempo depois da assinatura do Tratado de Petrópolis e da criação do Território Federal do Acre, em 07 de setembro de 1904, o povoado da Volta da Empreza foi elevado à condição de Villa Rio Branco, passando a abrigar a sede do Departamento do Alto Acre. Em 1920, Rio Branco tornou-se capital.

Desgostoso, Neutel Maia deixou o Acre, uma vez que as intrigas dos adversários políticos não permitiram que seus negócios prosperassem. Ele perdeu tudo e passou os últimos dias na capital acampado debaixo da mesma árvore de onde iniciou seu império.

Na rua Cunha Matos, ainda hoje existe a árvore chamada Gameleira. Os locais afirmam que foi debaixo dessa árvore que o fundador Neutel Maia acampou assim que chegou na região e que também foi lá que terminou seus dias na cidade, como um ilustre mendigo na capital que fundara.

Apesar de sua importância para a história local, Maia jamais escondeu o ressentimento com os novos rumos da terra que ajudou a fundar. Bradava para quem quisesse ouvir que jamais permitira que seu cadáver se deitasse sobre Rio Branco.

Os indígenas sabem que a floresta é mais que o conjunto das árvores. Que a vida e a morte que dançam e se revezam e movem a roda da natureza são movidas por forças inexplicáveis. Neutel abandonou a Gameleira, a terra que explorou e que lhe trouxe fortuna. Partiu exalando desprezo e ingratidão. Ao que parece, a floresta ouviu tal heresia. Você, amigo leitor, pode chamar como quiser. Coincidência, carma, justiça divina. O fato é que, alguns anos depois, no Rio de Janeiro, Maia tentava reconstruir a vida e se esquecer da fortuna que lhe foi tomada no Acre. Os poucos amigos que fez na cidade maravilhosa nada sabiam de seu passado, ou do juramento de jamais retornar a Rio Branco. Quisera o destino que, numa terça-feira ensolarada, na correria do centro da cidade, Neutel distraiu-se e não percebeu o pesado caminhão que atravessava o cruzamento. Não houve tempo de reação. A máquina colheu Maia sob suas rodas, quebrando ossos e esmagando músculos. Quase que instantaneamente, Neutel sentiu a vida lhe escapar pelas feridas abertas. Caiu inerte e faleceu sob o asfalto quente daquela avenida, que poderia ser uma via qualquer, mas não era. Tratava-se justamente de uma avenida que há pouco havia sido inaugurada e tinha o tragicamente irônico nome de... Avenida Rio Branco. 

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