O brasileiro gosta de ser retratado como um povo amistoso e pacífico. Celebramos o carnaval e a diversidade da nossa população. Mas este otimismo não sobrevive a um olhar mais cuidadoso sobre nossa história, marcada por conflitos sangrentos e tentativas separatistas, como a Guerra dos Farrapos.
Os conflitos militares entre povos são tão presentes em nossas vidas que o cinema americano criou um gênero específico para retratar esses trágicos eventos: os filmes de guerra. Alguns se tornam verdadeiros clássicos da sétima arte, como O Resgate do Soldado Ryan, Apocalipse Now ou A Ponte do Rio Kwai.
Mas, se você perguntar para as testemunhas desses conflitos, o gênero cinematográfico que mais se aproxima da realidade da guerra é o cinema de horror.
Atribui-se a Douglas Mcarthur a frase: "Só os mortos conhecem o fim da guerra. Para os que sobrevivem, ela nunca acaba". É sempre um pesadelo real pulsando no inconsciente das suas testemunhas, sempre fadadas a reviver essas lembranças sombrias.
No entanto, há quem acredite que nem mesmo a morte é capaz de trazer paz às vítimas da batalha.
Bento Gonçalves da Silva nasceu em Bom Jesus do Triunfo, Rio Grande do Sul, no dia 23 de setembro de 1788. Foi o décimo filho do português, criador de gado, Joaquim Gonçalves da Silva e Perpétua Meireles.
Em 1811, alistou-se na Companhia de Ordenação de D. Diogo de Sousa. Participou da primeira invasão na Província Cisplatina.
Em 1816, participou da tropa enviada para combater os invasores de cidade uruguaia de Artigas que violaram a fronteira do Brasil. Bento foi designado capitão de guerrilha. Após três anos de lutas, a Província Cisplatina foi anexada ao Brasil.
Pelos serviços prestados nas guerrilhas, Bento recebeu de D.Pedro I o posto de coronel das milícias e foi nomeado comandante da fronteira sul do país. Mas, em 1834, o Padre Diogo Feijó foi eleito Regente Geral do Império e destituiu Bento do cargo no ano seguinte.
A fúria do coronel destituído fora a fagulha que faltava para a Revolução Farroupilha. Um longo histórico de disputas tarifárias entre o Rio Grande do Sul e o Império transformaram as insatisfações da elite pecuarista em munição separatista.
Bento Gonçalves e seus soldados marcharam para Porto Alegre e derrubaram o presidente da província, Antônio Fernandes Braga. Com o apoio da população, os revoltosos resistiram às primeiras reações do império. Mas um mês depois, com a chegada das tropas regenciais, Bento foi derrotado, enviado para a Bahia e encarcerado no Forte do Mar. Mas a revolução não acabou com a prisão do líder. Os rebelados levaram a guerra à frente, conquistando Caçapava.
As forças imperiais perderam 900 homens e uma parte importante do arsenal. E graças a esse equipamento, os farroupilhas puderam atacar Rio Pardo, naquele que foi considerado um dos piores fracassos das tropas do Império. A derrota foi tamanha que o Marechal Barreto, comandante militar da província, acabou indiciado pelo conselho de guerra.
A tentativa de tomar São José do Norte para garantir um porto, resultou no combate mais sangrento da guerra. Conta-se que as ruas da vila ficaram cobertas de cadáveres. Os farroupilhas tiveram 181 mortos, 150 feridos e 18 deles foram feitos prisioneiros. Os imperiais tiveram 72 mortos, 87 feridos e 84 prisioneiros.
Com a ajuda de liberais baianos, Bento Gonçalves fugiu do cárcere e voltou para o Rio Grande do Sul , onde foi aclamado presidente da República Rio-Grandense. O presidente do novo país manteve a posição até a derrota final, em fevereiro de 1845.
A Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, durou dez anos, foi a mais longa guerra civil brasileira. É impossível precisar o número exato de mortos e feridos. O historiador Tristão de Alencar Araripe - que defendia declaradamente o ponto de vista do governo Imperial -, foi autor do primeiro livro em que as informações sobre a Revolução Farroupilha foram sistematizadas, publicado em 1881. Ele provavelmente teve acesso a documentos oficiais sobre o assunto, pois foi presidente da província do Rio Grande do Sul de 1876 a 1877. De acordo com seus cálculos, 3.400 homens morreram, sendo que os farrapos perderam quase o dobro do que os legalistas.
Bento Gonçalves da Silva morreu em Pedras Brancas, Rio Grande do Sul, no dia 18 de julho de 1847. Mas seus ideais separatistas e o desejo de vingança jamais encontraram paz.
Os restos mortais estão em um monumento túmulo na Praça Tamandaré no município de Rio Grande. Porém, pelo menos de acordo com o que dizem as lendas, o espírito do combatente não conseguiu se livrar das lembranças em vida e assombra a casa onde nasceu na cidade de Triunfo-RS.
O local foi convertido em um museu com vários artefatos da Guerra dos Farrapos. Turistas que visitaram a antiga casa dizem ter avistado o espírito do próprio Bento Gonçalves e de outros combatentes mortos durante a guerra vagando pelos corredores do museu, procurando uma oportunidade para o contra-ataque para reerguer a revolução Farroupilha.
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Brasil Sombrio
TerrorUma coletânea de histórias e contos sobre as assombrações mais conhecidas de cada estado brasileiro. Relatos que misturam medo e superstições com acontecimentos históricos, criando um reflexo do nosso país que é, ao mesmo tempo, fascinante e apavora...