0.9 you

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You The Pretty Reckless
"Não posso te ter, não
(...)
Eu não posso roubar você, não"

Durante as duas semanas que se passaram, muitas coisas aconteceram.

Eu e ChanYeol conversamos praticamente todos os dias durante esse tempo. Agora ele já sabia minhas piores manias e vícios, e eu os dele. Alguns dias quando não chegava do trabalho cansado ou quando ele tinha um tempo entre o intervalo dos shows, conversávamos por ligação. Era gostoso ouvir a voz grossa e aveludada.

Descobri todas as brincadeiras que ele brincava quando criança. Gostava de pular amarelinha e jogar bola na rua. Quando reunia com seus primos, passavam horas fazendo a maior bagunça, aonde quer que estejam. Ou saíam pintando as paredes de toda a casa criando uma bela arte — na qual a mãe não achava nada belo —, ou imaginavam mundos alternativos, criando cenários e interpretando tudo, fazendo a maior gritaria. Zumbis, faroeste, impérios, dinossauros e dragões.

Ele me disse o nome de seus antigos melhores amigos — reais e imaginários —, as desavenças entre sua família paterna — na qual os tios não se falavam fazia alguns anos por conta de uma briga boba —, seu medo de dentista — que eu achei adorável —, e o fato de saber falar chinês por causa dos integrantes da banda.

Depois de muita insistência, o convenci a falar algumas palavras e o resultado não poderia ter sido melhor. Me derreti mais ainda.

Me contou também sobre seu primeiro PT¹. Foi numa festa no penúltimo ano do ensino médio. Tinha acabado de dar o primeiro beijo à algumas semanas — pasmem, ele deu beijou pela primeira vez aos 17 anos  —, e como bom iniciante, se apegou demais a pessoa. Foi ignorado, se sentiu mal, e então descontou em alguns goles de bebida que havia na festa — pasmem novamente, ele nunca tinha bebido tanto.

Todos os seus amigos da época ou estavam dançando, ou beijando, ou mais bêbados ainda para tomar conta de um principiante no mundo do álcool. Ou seja, estava sozinho. Quando percebeu, já estava correndo para o banheiro mais próximo e botando tudo pra fora. Tinha prometido que depois disso nunca mais beberia. Mentiu.


Já eu, contei sobre como foi passar minha infância na praia. Meus avós moravam em Eurwang-Dong² então todos os dias depois da escola, me levavam para o mar. Construí milhares de castelos de areia, tomei dezenas de picolés no verão e nadei como se não houvesse amanhã. Descrevi como foi a primeira vez que me perdi e fiz amizades com estranhos no meio da praia. Depois de algumas horas, encontrei meus avós, um pouco, desesperados.

Mencionei como eu amava passar horas na cozinha apenas fazendo um bolo. Eu era daquele tipo de pessoa que não tinha pressa alguma. Fazia cada passo de cada preparo em seu devido tempo. Com uma música de fundo, peneirava a farinha com cuidado para que não fizesse bagunça. Quebrava os ovos numa delicadeza nunca vista antes. Ainda sim, no final, sempre alguma coisa dava errado, mas eu nunca me importava.

Também descrevi a trajetória de como foi me tornar vegetariano. Eu nunca fui uma pessoa consciente das consequências ambientais das minhas escolhas. Nunca pensei no gasto de água durante o banho ou o consumo de luz. Assim eu fui criado e assim eu cresci.

Com o passar do tempo, fui mudando minha relação com o ato de consumir, com o que é falta e o que é excesso e com o que eu precisava e apenas desejava. Entre tantas mudanças, aos poucos fui tendo um novo olhar para o que me alimenta de verdade. Como comer algo que eu tinha conhecimento de como aquilo havia chegado no meu prato?

Aos poucos, meus familiares foram aceitando. Nas primeiras vezes, ainda me ofereciam carne, mesmo eu sempre negando. Agora já não oferecem mais.

Claro que não deixei de fazer o que eu gostava. Ainda ia em churrascos, afinal, tinha pão de alho, molho, arroz, abacaxi assado e mais importante, meus amigos. Eu não sinto desgosto de quem come ou deixa de comer e nem quero tentar fazer alguém se sentir mal ou convencer, só foi uma escolha pessoal minha. ChanYeol achou digna a maneira em que eu apoio a causa.


don't tear us apart • bbh + pcy • em hiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora