XII

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Tempo malevolente que escorre entre os dedos,
Está em minhas mãos o martírio.
Minh'alma suga-me todos os medos,
E não tem coração que me sirva de exílio.

Pensava que fosse o teu minha morada,
Antes de bater a porta em despedida.
E os dois hemisférios de minha essência destroçada,
Sucumbem ao peso desta letra sofrida.

És a perdição da minha vida,
Encaminha meus passos para as trevas,
E quando consigo aceitar sua partida,
Voltas faceira, tal qual serpente que tentou Eva.

As fotografias jogadas, eu queimei,
E meu chão de giz já não vê sua face.
Para quem entregas seu corpo, já não sei,
E meu ensejo era que o tempo lhe apagasse.

Sinto-me quase no fim desta estrada,
Na qual me colocastes para seguir os seus passos.
Deixou-me sozinho à beira da escada,
E subiu os degraus desatando nossos laços.

O travesseiro não tem seu perfume,
E o lençol, sua textura.
Vai doer até que me acostume,
Com a angústia que em mim, perdura.

Chão de giz (Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora